Tamara Taxman
Tamara Taxman é uma atriz de presença luminosa no cinema brasileiro. Nascida em Woodstock, mas no Brasil desde a tenra infância, Tamara construiu uma carreira importante nas telas do cinema nacional. Como esquecer de seus trabalhos marcantes em filmes como “Cabaret Mineiro”, de Carlos Alberto Prates Correia, “As Aventuras de Um Paraíba”, de Marco Altberg, e “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral?
Atriz com atuações importantes também no teatro e na televisão, atuou em novelas inesquecíveis como “Kananga do Japão”, na extinta TV Manchete: “Eu acho “Kananga” a novela mais bonita que fiz. Era linda, com músicas do Sinhô, Anos 30, muito charme, muito zelo do Bloch. Na verdade, aquilo era sobre a mocidade dele. Me lembro que tinha sido um sufoco, dança de salão, aula de tango, de voz. Mas era delicioso. Todos os atores gostavam, ninguém queria ir embora pra casa”.
Tamara Taxman é uma excelente atriz, mas é no cinema que seu brilho se torna maior – Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Brasília por “As Aventuras de um Paraíba” e Prêmio Governador do Estado de São Paulo por “A Hora da Estrela”. A atriz tem lembranças carinhosas para alguns trabalhos e diretores com quem trabalhou, como Prates Correia em “Cabaré Mineiro”, além de se declarar apaixonada pelo trabalho em locações: “O Prates é uma paixão, uma pessoa maravilhosa para trabalhar. E tem a questão da locação. Eu adoro fazer filme em locação, a gente se ocupa mais dos personagens. Ficamos lá, no norte de Minas, um lugar muito musical. Tavinho Moura, que saudade. Cada vez que vejo o filme, gosto mais”.
Tamara Taxman conversou com o Mulheres pelo telefone de sua casa no Rio de Janeiro. Em ótima conversa, ela refaz sua trajetória artística, fala de televisão, teatro, cinema, e dos filmes em que atuou.
Mulheres: Você nasceu mesmo em Woodstock?
Tamara Taxman: Sim.
Mulheres: E veio para o Brasil quando?
Tamara Taxman: Vim com três meses. Minha mãe é mineira, do sul de Minas, de Varginha. Meu pai é de Illinois. Ele veio para o Rio como comandante de um barco, daqueles que o J. Kennedy dirigia. E aí ele conheceu a morena e pronto.
Veja como são as coisas. Minha mãe morava na Vitória da Costa, aqui no Rio, naqueles prédios baixos sem elevador. E não é que eu fui comprar, anos depois, um apartamento ao lado. Veja que coincidência. Quer dizer, coincidência não porque na vida não tem coincidência, as coisas estão aí para serem vivenciadas.
Mulheres: E você vive nele até hoje?
Tamara Taxman: Não. Eu vendi e depois comprei uma casa na entrada da Barra. Hoje vivo em Copacabana.
Mulheres: Você começou sua carreira no teatro?
Tamara Taxman: Foi em 1970, fazendo “Alice no País Divino e Maravilhoso”. Um espetáculo com músicas de Sidney Miller, Sueli Costa, Tite de Lemos. Eu ganhei dois solos, eu sou afinadinha. Eu nunca tinha feito nada antes. A profissão de ator foi regulamentada em 1978. Eu fiz um teste com o Paulo Afonso Grisolli, que me achou interessante. Eu era uma das Alices.
Depois fiz “Hair”, com o Ademar Guerra. O espetáculo já tava fazendo um ano e daí entrei. Depois fiz em São Paulo também. O Ademar queria que eu fizesse a Sheila, mas minha voz era grave e dificultava o coro. Sempre gostei de cantar, comecei no musical e talvez pudesse ter dado mais sorte.
Mais tarde fiz um musical de Arthur de Azevedo. Então o Téo de Barros escolheu duas atrizes, eu e uma outra, para um sexteto, para cantarmos. Eu ficava exausta. Trabalhava de manhã na Embratur, às tarde tinha o filho para cuidar, a noite tinha o teatro e depois ainda tinha os shows.
Mulheres: Por que você disse que talvez tivesse mais sorte no canto? Você acha que não teve sorte na carreira de atriz? Você fez tantos trabalhos importantes.
Tamara Taxman: Não é isso, eu quis dizer para o canto.
Mulheres: Entendi. Muitas outras conseguiram aliar a carreira de atriz e cantora, como a Tânia Alves, a Zezé Motta.
Tamara Taxman: Sim, a Zezé de vez em quando lança discos. Eu sempre fui muito avoada. Mesmo depois de atriz formada eu ainda tinha dúvidas. Eu nunca tive essa disciplina, isso de dizer quero isso, apenas isso.
Eu cheguei na TV por acaso. O Nilton Cupilo era amigo meu e daí me chamou. Eu cheguei na Globo em um grande momento, com o Avancini chegando. O Ziembinski se apaixonou por mim. Eu cheguei já em um grande sucesso, “Selva de Pedra” (1972 – Janete Clair), em que não falava quase nada.
Mulheres: Me lembro muito de você em “Água Viva” (1980), do Gilberto Braga, como amiga da Lígia de Betty Faria, que depois roubava o marido dela.
Tamara Taxman: Que amiga, né? (risos). Mas aí já foi bem mais pra frente. Fiz muitas outras antes.
Mulheres: Sim, e além da Globo você fez também novelas na Manchete. Inclusive, em uma das mais importantes da época, que foi “Kananga do Japão” (1989 – Wilson Aguiar Filho).
Tamara Taxman: Eu acho “Kananga” a novela mais bonita que fiz. Era linda, com músicas do Sinhô, Anos 30, muito charme, muito zelo do Bloch. Na verdade, aquilo era sobre a mocidade dele. Me lembro que tinha sido um sufoco, dança de salão, aula de tango, de voz. Mas era delicioso. Todos os atores gostavam, ninguém queria ir embora pra casa.
Depois fiz “Ana Raio e Zé Trovão” (“A História de Ana Raio e Zé Trovão”, 1990 – Rita Buzar, Marcos Caruzo e Jayme Monjardim), uma superprodução, em que fazia Dolores. Gostei muito dessa época.
Mulheres: E no cinema? Como chegou?
Tamara Taxman: No cinema o primeiro filme foi “A Noiva da Cidade” (1978), do Alex Viany. O Alex era o pai da Betina (Viany), com quem eu morava na época.
Mulheres: E foi daí que veio o convite?
Tamara Taxman: Ele já me conhecia há muito tempo, pois a Betina era muito minha amiga, desde a primeira peça, quando fazíamos as Alices.
Mulheres: Como foi trabalhar com o Viany?
Tamara Taxman: Ele era um grande diretor, um grande crítico. Eu não fazia nada importante no filme, só ficava lá, junto a todos. Eu não tinha nem nome.
Mulheres: Eu entrevistei a Elke Maravilha e ela falou muito sobre esse filme.
Tamara Taxman: Ela era a estrela. O Alex chamou todos que gostava. É um filme muito bonito, mas ele parou antes de terminar. Você percebe que ele parou. Acabava o dinheiro, ele parava, e depois recomeçava.
Mulheres: E aí você faz o “Ladrões de Cinema” (1978).
Tamara Taxman: “Ladrões” é o melhor roteiro de cinema. Sem dúvida. A gente fazia no morro, perto da casa de minha mãe. Era difícil de fazer até por causa da locação. Eu trabalhei muito, eu fazia a mulher do Otelo (Grande Otelo). Eu acho o roteiro até melhor que o filme.
Mulheres: E tem o “Cabaret Mineiro” (1980 – Carlos Alberto Prates Correia), um grande momento seu na tela.
Tamara Taxman: Você é que está dizendo. Eu adoro esse filme. O Prates é uma paixão, uma pessoa maravilhosa para trabalhar. E tem a questão da locação. Eu adoro fazer filme em locação, a gente se ocupa mais dos personagens. Ficamos lá, no norte de Minas, um lugar muito musical. Tavinho Moura, que saudade. Cada vez que vejo o filme, gosto mais.
Mulheres: Você está também em “Luz del Fuego” (1982), do David Neves.
Tamara Taxman: Fiz uma participaçãozinha boba, foi ótimo ter feito. O David ficava atrás de mim fazendo cócegas, e eu nunca ria na hora. O David era uma delícia.
Mulheres: Você fez também “Os Campeões” (1982).
Tamara Taxman: Eu sempre me esqueço desse filme.
Mulheres: É do Carlos Coimbra.
Tamara Taxman: Dizem que o filme era tão ruim, mas sei que a culpa não era dele. Nesse filme eu trabalhei com o Bógus, com a Monique Lafond. A Monique é minha grande amiga, é minha irmã.
Mulheres: E aí tem “As Aventuras de um Paraíba”. Você foi premiada no Festival de Brasília por esse filme (Melhor Atriz Coadjuvante)
Tamara Taxman: Que saudade do Caíque. Essa morte é incompreensível, uma bobagem.
Mulheres: Ele morreu tão jovem.
Tamara Taxman: O Caíque era adorável.
Mulheres: Com o Guilherme de Almeida Prado você faz o “Flor do Desejo” (1983).
Tamara Taxman: Sim, foi uma delícia trabalhar nesse filme, foi filmado nas docas, gosto demais. O Guilherme é ótimo, eu sempre dei sorte com meus diretores. Quem ia fazer a Flor era a Sandra Bréa. Quando ela foi substituída, o Guilherme me ofereceu o papel, mas eu não quis, tinha muita cena de nu. Eu preferi fazer aquela franchona.
Mulheres: E quem fez a Flor foi a Imara Reis.
Tamara Taxman: E maravilhosamente. É como sei diz, quando é hora ninguém tira.
Mulheres: Outro momento luminoso seu no cinema é em “A Hora da Estrela” (1985 – Suzana Amaral).
Tamara Taxman: Gostei muito de ter feito, gostei muito da Suzana. Ela é muito exigente, achei até que a gente ia brigar. Principalmente por causa do som-guia, que é dificílimo. O filme é um primor. A outra lá, fodidinha, e eu vou e roubo o namorado dela (risos). Eu recebi o prêmio Governador do Estado de São Paulo de Atriz Coadjuvante em 1986 por esse trabalho.
Mulheres: Como é essa história do som-guia?
Tamara Taxman: O som-guia é aquele aparelho que fala o que você fala. É sempre ruizinho. Se naquele momento você não prestar atenção, você não faz direito. E a Suzana foi muito exigente nisso. A Suzana foi muito bacana, ela levou dez anos para fazer o filme. O roteiro também ganhou o Governador do Estado, e é dela e do Alfredo Oroz, é bom que se registre isso, pois fala-se pouco nele.
Eu fiz também o “Banana Split” (1988 – Paulo Sérgio de Almeida). Eu adoro. Filme passado em Petrópolis sobre a juventude transviada com a Myrian Rios, Marcos Frota, meu companheiro Otávio Augusto.
Mulheres: Um ótimo ator.
Tamara Taxman: Ótimo. Trabalhei com ele várias vezes. Fizemos peça da Leilah Assunção, fizemos “Toalhas Quentes”, do Marc Camoletti, com a Suely Franco e Maria Pompeu.
Mulheres: Você e a Monique Lafond, inclusive, fizeram uma leitura dramática dirigida pela Maria Pompeu, não é isso?
Tamara Taxman: Sim, a Monique está se vendo se a gente consegue montar a peça.
Mulheres: Eu me lembro nitidamente da sua participação em “Romance da Empregada” (1987 – Bruno Barreto), um dos meus filmes prediletos, como patroa da Fausta, da Betty Faria. Você quer comentar alguma coisa sobre esse filme?
Tamara Taxman: Não, não. Foi legal ter feito. Eu adoro trabalhar com a Betty, isso desde que fizemos “Água Viva”. A Betty ama o que ela faz, é companheira, é divertida, eu sou fã da Betty.
Tem também um filme escrito por um americano, mas dirigido por um brasileiro, que é o “Discretion Assured” (1993), dirigido por Odorico Mendes. Tem o Michael York, a Jennifer O´Neill. Eu nunca vi esse filme.
Mulheres: E por que você não está mais nas telas?
Tamara Taxman: Porque não me chamam, e olha que eu dou sorte para os filmes, eu gosto muito de fazer. Mas no ano passado eu fiz dois curtas, “Passional”, da Luanda Lopes, que ainda nem acabou, faltou dinheiro, e o “Síndrome de Estocolmo”, que fiz com o Wilker, esse deve ser bom.
Mulheres: Você vê muita diferença entre longa e curta-metragem?
Tamara Taxman: Não, tudo é feito do mesmo jeito. Já fiz um outro curta também chamado “Mundo Cão” (2002 – Saskia Sá).
Ah, fiz também aquela série ótima, “Mandrake”, com o Marcos Palmeira. O episódio chama-se “Rosas Negras”. Eu faço uma personagem que tem uma floricultura freqüentada por mulheres que gostam de outras mulheres. A gente fica até acostumada com coisa ruim, que aí, quando a gente encontra uma produção como essa, a gente se espanta. Tem uma luz linda de cinema, eu indiquei várias coisas e a produção aceitou tudo, como o cabelo eriçado da personagem, típico de Copacabana. Ficou lindo. Em geral sou muito crítica, não gosto muito das coisas, mas esse ficou lindo. Primeiro que é Rubem Fonseca, que não é pouca merda. E tem O Tony Belloto, que é músico, mas escreve muito bem, ele é muito interessante.
Mas enfim, em geral não me chamam porque estou mais velha. As pessoas gostam dos mais jovens. Quando era jovem recebia convite toda hora. E é incrível porque agora é que estou melhor atriz, mais relaxada, e nesse momento a gente não trabalha mais. É uma pena. Coisas da nossa cultura. Porque lá fora é diferente. Veja a Meryl Streep, trabalha cada vez mais e cada vez melhor. E tem outras atrizes mais velhas aí arrebentando.
Mulheres: Você acha que tem freqüentar o meio? Você tem ido ao cinema?
Tamara Taxman: Eu não acompanho. Outro dia fui assistir ao filme (“Nome Próprio, 2007, Murillo Sales) da minha afilhada Leandra leal, que tá arrebentando. Mas fui ver lá na casa do Murilo, diretor do filme. O Murilo, que foi fotógrafo do “Cabaret”. O filme é muito lindo.
Mas em geral não tenho saco, corro disso tudo, de entrevistas. Já falei tanto nessa minha vida.
Mulheres: Sempre convido minhas entrevistadas para homenagearem outra mulher do cinema, de qualquer época e área. Quem você homenageia?
Tamara Taxman: Helena Ignez. Outro dia eu a vi em um documentário. Eu estudei no mesmo colégio que ela em Salvador, o Glauber, a Anecy.
Mulheres: Você morou em Salvador?
Tamara Taxman; Sim, durante anos, fui para lá menina e sai mulher. A Helena Ignez foi muito bonita. Eu adorava vê-la, tão inteligente. Me lembro dela no Iate Club, é a primeira atriz que vem à lembrança de infância. Ela é tudo de bom.
Posso homenagear mais uma?
Mulheres: Claro.
Tamara Taxman: Ilka Soares, a atriz mais bonita do cinema e da televisão brasileira. E ainda é. Classuda, excelente atriz, maravilhosa.
Mulheres: Obrigado pela entrevista.
Tamara Taxman: Obrigada.
Entrevista realizada em dezembro de 2007.
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