Ano 20

Andréa Beltrão

Os anos 80 foram pródigos na revelação de grandes atrizes, tanto no teatro e na televisão, como também no cinema. E dentre essas revelações está, com certeza, a carioca Andréa Beltrão. A atriz começou sua carreira no teatro, mas no início foi na telinha da TV que encantou toda uma geração com o anárquico e delicioso “Armação Ilimitada”, moderno seriado que propunha uma nova estética e humor inteligente e irresistível. Ao lado de Kadu Moliterno, André de Biase, Jonas Torres, Francisco Milani e Catarina Abdala, Andréa Beltrão fez escola com sua Zelda Scott, personagem inesquecível e encantadora, e iniciou parceria das mais profícuas com o diretor, produtor, roteirista e cineasta Guel Arraes.  

“Armação Ilimitada” carimbou o passaporte para o cinema com temática jovem, onde a atriz atua em alguns títulos do gênero, como “Garota Dourada” (1984), de Antonio Calmon,  “Bete Balanço” (1984), e “Rock Estrela” (1986), ambos de Lael Rodrigues. É nos 80 também que Andréa Beltrão vai encontrar o “Terrir” – terror + rir – de Ivan Cardoso, atuando nos deliciosos “As Sete Vampiras”  (1986) e “O Escorpião Escarlate” (1990). Depois de atuar no importante “A Cor do Seu Destino” (1986), de Jorge Duran, a atriz vai protagonizar, ao lado de José Dumont, o pouco visto e delicioso filme “Minas, Texas” (1989), de Carlos Alberto Prates Correia. Os anos 90 vão marcar outra parceria importante na carreira da atriz, dessa vez  com a cineasta Sandra Werneck, com quem já rodou dois filmes, “Pequeno Dicionário Amoroso” (1997) e “Cazuza, O Tempo Não Pára” (2004, co-dirigido com Walter Carvalho). A atriz entra os anos 2000 atuando no sucesso “A Partilha” (2001), de Daniel Filho”, e depois de “Cazuza” está agora em “O Coronel e o Lobisomem” (2005), de Maurício Farias.  

Andréa Beltrão esteve em Belo Horizonte para o lançamento de “O Coronel e o Lobisomem”, de Maurício Farias,  e concedeu entrevista exclusiva para o Mulheres. Linda e bem-humorada, Andréa Beltrão fala sobre o papel do cinema em sua carreira; sobre o cinema de Ivan Cardoso; o belo, mas pouco visto, “Minas,Texas”, de Carlos Alberto Prates Correia, “Ele (o filme) é a minha paixão”, declara; fala das bem sucedidas parcerias com Sandra Werneck e Guel Arraes; sobre os trabalhos autorais na televisão; e homenageia Marieta Severo, “minha parceira, minha irmã”.  


Mulheres: Você fez vários filmes. Você tem uma carreira consagrada no teatro, com trabalhos importantes como “A Prova”, por exemplo. Tem carreira importante na televisão também. Durante sua trajetória você fez também muitos filmes. Qual é o lugar que tem o cinema no seu coração e na sua carreira como atriz?  

Andréa Beltrão: Tem um lugar enorme. Os convites que eu recebo para filmar não são assim centenas, eu não recebo centenas de convites. Mas sempre que alguém me convida para fazer um filme eu vou imediatamente. Eu tenho paixão por filmar, eu adoro set de filmagem, a mecânica do funcionamento das filmagens, tudo. O cinema tem um lugar muito especial no meu coração.  

Mulheres: Você disse que não faz tantos filmes, mas atuou com alguns dos nossos mais importantes cineastas, como Ivan Cardoso, por exemplo.  

Andréa Beltrão: É, sim. Eu acho que eu tenho uma carreira bem digna no cinema, mas eu gostaria de fazer bem mais (risos).  

Mulheres: Você se adequou perfeitamente na estética do Ivan Cardoso.  

Andréa Beltrão: É, eu adoro. Eu adorei fazer os dois filmes que fiz com ele, “As Sete Vampiras” e “O Escorpião Escarlate”. Adorei. Passou na televisão há pouco tempo e aí eu pude rever, porque eu não tenho o material em fita, nada, não tenho nenhum registro desses filmes. E passaram muito pouco tempo no cinema, ou nem passaram. Por exemplo, o “Minas, Texas”, nem passou.   

Mulheres: Eu já ia citar esse filme.  

Andréa Beltrão: Ele é a minha paixão.  

Mulheres: O “Minas, Texas” é um trabalho primoroso.  

Andréa Beltrão: Carlos Alberto Prates, maravilhoso.  

Mulheres: E é um filme que muita gente não viu. Como foi construir aquela personagem deliciosa.   

Andréa Beltrão: Foi maravilhoso. Maravilhoso conviver com o Carlos Alberto, com o pessoal daqui (Minas Gerais). Eu fiquei uns três meses por aqui, andei por Minas, lugares lindos, eu fiquei encantada.  

Mulheres: Existem duas parcerias muito fortes na sua carreira: Guel Arraes e a Sandra Werneck.   

Andréa Beltrão: A Sandra é uma mulher maravilhosa, uma grande empreendedora, muito sensível, grande artista. Eu tive a sorte de trabalhar no primeiro longa de ficção dela. Então eu tenho muito carinho por ela, gostaria de trabalhar com ela novamente. Já o Guel é uma parceria que começou quando eu tinha 20 anos de idade, eu estou agora com 42, e nunca mais parou. A gente tem uma afinidade artística grande e eu acho que a gente vai seguir trabalhando por essa vida afora.  

Mulheres: Tem algum, ou mais de um filme na sua carreira que você destaca, que você gosta do seu trabalho de atriz?  

Andréa Beltrão: Olha, eu destaco o filme do Prates, porque eu gostaria que ele tivesse sido visto. O José Dumont faz um trabalho impecável, assim como todos os outros atores. É um filme lindo, lindo, ele deveria ter um lugar de destaque.  

Mulheres: Na televisão você começou com o “Armação Limitada”, que marcou toda uma geração, e agora está em “A Grande Família”. São dois momentos especiais, não é?  

Andréa Beltrão: É uma honra para mim, eu adoro, eu sou uma felizarda, de poder fazer televisão com essas pessoas, fazer programas com essa qualidade, eu fico muito feliz de estar ali.  

Mulheres: E como espectadora, você assiste muitos filmes brasileiros?  

Andréa Beltrão: Assisto. Na verdade, eu sou uma péssima espectadora, porque eu tenho três filhos pequenos, e como eu trabalho muito, quando eu não estou trabalhando eu quero ficar em casa. Então, eu não saio para lugar nenhum (risos), eu só vejo mesmo quando sai em DVD.  

Mulheres: Qual foi o último filme que você viu?  

Andréa Beltrão: “Os Incríveis” (gargalhada).  

Mulheres: E brasileiro?  

Andréa Beltrão: Brasileiro... espera aí, porque eu tenho uma memória péssima. Eu não vi ainda “2 Filhos de Francisco”, para você ver como eu vou pouco ao cinema. Não vi ainda “Casa de Areia”... O último filme brasileiro que eu vi foi “O Coronel e O Lobisomem” (risos).  

Mulheres: Tem alguma mulher, de qualquer época...  

Andréa Beltrão: Giulieta Masina (enfática).  

Mulheres: Do cinema brasileiro, de qualquer época e área que você gostaria de homenagear aqui?  

Andréa Beltrão: Marieta Severo. Marieta Severo, minha parceira, minha irmã, a gente tem um teatro juntas agora, lá no Rio, e que vai de vento em popa. Qualquer homenagem será para ela.   

Mulheres: E agora, depois de “O Coronel e o Lobisomem”, você já tem algum convite para o cinema?  

Andréa Beltrão: Tem “A Grande Família”, vai virar filme.  

Mulheres: A Guta Stresser, em entrevista ao Mulheres, falou sobre essa produção. Quer dizer que está vindo por aí mesmo? Será no ano que vem?  

Andréa Beltrão: Achamos que sim.  

Mulheres: Muito obrigado pela entrevista.  

Andréa Beltrão: Obrigada. 


 Entrevista realizada em setembro de 2005.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.