Ano 21

Nicole Puzzi

Nicole Puzzi é uma atriz importante e uma das maiores estrelas da produção da Boca de São Paulo, a chamada Boca do Lixo, um dos capítulos mais luminosos da história do cinema brasileiro. Nascida no dia 17 de maio de 1958 em Floraí, Paraná (PR), ela fez história em São Paulo, com trajetória marcante também no Rio de Janeiro, no cinema, no teatro e na televisão. “...eu era uma menina que veio do interior do Paraná e que estudava na escola da Ditadura. E na escola da Ditadura a gente não conhecia as coisas, a gente só fazia as lições e pronto, né? Eu me saía muito bem na escola, mas, culturalmente, não existia nada. Só que eu sabia que tinha alguma coisa a mais nesse mundo, e isso começou a me ser apresentado pelo Ody (Fraga) e depois pelo Khouri. Olha que privilégio, hein?”.

Nicole Puzzi começou a carreira como modelo e passou por programas de televisão. A estreia no cinema se dá em Possuídas pelo pecado (1976), dirigido pelo genial Jean Garrett, marcando o início da trajetória que a transformaria em símbolo sexual e uma das atrizes mais importantes da Boca de São Paulo, em que integrou uma galeria estelar com nomes como Helena Ramos, Matilde Mastrangi, Aldine Muller, Selma Egrei, Monique Lafond, Patrícia Scalvi, Zilda Mayo e tantas outras. Nicole, inclusive, publicou a ótima biografia “Boca de São Paulo” sobre aquele universo. “Aqueles filmes retratavam muito a Ditadura da época, e se a pessoa prestar bastante atenção, mostra o quanto a mulher era usada, o quanto os homens se aproveitavam das mulheres, sufocavam as mulheres. Aqueles filmes, não só os que eu fiz como também  os a que eu assisti, me levaram ao Feminismo, naquela mesma fase, e eu tenho muito orgulho disso. Hoje, se existe uma liberdade sexual, tem muito a ver com aquilo que nós fizemos, porque nós mostramos que as mulheres também podiam ter prazer. Até os anos 70, as mulheres se escondiam do prazer, não tinham coragem de ter prazer, sabe? Nós abrimos porteiras”.

Nicole Puzzi foi projetada nacionalmente com o filme Ariella, dirigido por John Herbert e baseado no romance “A Paranóica”, de Cassandra Rios. Esse trabalho a levou para a Globo e, a partir daí atuou em novelas e minisséries em várias emissoras. Tem também carreira importante no teatro, com cerca de 30 peças. E foi ainda no cinema que, além de trabalhar com cineastas como Francisco Ramalho Junior, Bruno Barreto e Ivan Cardoso,  também se tornou uma das grandes atrizes da galeria do genial e saudoso cineasta Walter Hugo Khouri, com quem fez quatro filmes e se tornou amiga. “Realmente, o Walter Hugo Khouri é um dos melhores diretores que já teve no Brasil. Ele foi reconhecido na década de 50, 60, e depois, como ele foi trabalhar com alguns produtores da Boca, tentaram diminuí-lo, mas ninguém consegue diminuir uma pessoa da grandeza de Walter Hugo Khouri. Foi um grande prazer trabalhar com ele, tivemos algumas pegas, mas a gente sempre foi amigo. De vez em quando a gente provocava uma briga, e era muito bom as nossas brigas, uma coisa deliciosa. Ele foi um grande amigo, um cara que eu sinto falta demais”.



Nicole Puzzi vem a Belo Horizonte no dia 15 de novembro  para participar das comemorações de 25 anos da Mostra Curta Circuito e comentar o filme Eros, o Deus do Amor, de Walter Hugo Khouri, que será exibido nesta edição comemorativa. Antes disso, conversou com o Mulheres do Cinema Brasileiro e repassou a trajetória: o início da carreira, a Boca de São Paulo e seus personagens, a Ditadura, os trabalhos com outros cineastas, as novelas, o teatro, e seu encontro com nomes fundamentais para a sua formação, como Ody Fraga e Khouri.



Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar: data de nascimento, cidade em que nasceu e formação.

Nicole Puzzi: 17 de maio de 1958, Floraí, Paraná (PR)

MCB: Gostei muito do seu livro "Boca de São Paulo". É  uma visão afetiva, sincera e precisa sobre o cinema popular e seus personagens nas décadas de 1970 e 1980. Passada uma década e meia da primeira edição (em 2025, teve uma terceira edição atualizada),  você  acha que há  um avanço  na percepção sobre o cinema popular da chamada Boca do Lixo?

NP: Olha, eu tentei ser o mais verdadeiro possível, era essa a intenção do meu livro, “A Boca de São Paulo”, e eu acho que eu consegui, porque eu falo o que eu vi, o que eu presenciei e o que eu vivi. Falo até de algumas coisas que a gente ouvia falar, mas não tinha certeza. Eu gostei muito de ter convivido com aquele pessoal, todos, foi muito bom. A Boca de São Paulo, eu falo assim, era um local de criatividade, sabe? De algumas pessoas que não tinham a menor condição  de fazer tudo aquilo, mas conseguiam fazer. Era a realização dos sonhos de muitas pessoas. Eu só queria ser atriz. Eu fiz filmes muito bons e fiz dois ou três filmes ruins, mas nem considero ruim, porque essa é uma palavra que vem de dentro de mim, não de uma visão, é uma visão passional minha. Aqueles filmes retrataram muito a Ditadura da época, e se a pessoa prestar bastante atenção, mostra o quanto a mulher era usada, o quanto os homens se aproveitavam das mulheres, sufocavam as mulheres. Aqueles filmes, não só os que eu fiz como também  os a que eu assisti, me levaram ao Feminismo, naquela mesma fase, e eu tenho muito orgulho disso. Hoje, se existe uma liberdade sexual, tem muito a ver com aquilo que nós fizemos, porque nós mostramos que as mulheres também podiam ter prazer. Até os anos 70, as mulheres se escondiam do prazer, não tinham coragem de ter prazer, sabe? Nós abrimos porteiras. A perseguição que eu tive como símbolo sexual foi mais nos anos 80, e, principalmente, em 90, quando as pessoas, todo mundo estava virando evangélico. E aí, até mulheres que tinham feito coisas, fotos, e eram tidas como símbolo sexual, viraram evangélicas, e até hoje ficam nesse medo “Porque eu errei”. Então, devolva o dinheiro que ganhou, se errou fazendo filme ou fotografias nuas, se acha que foi um erro, devolve o dinheiro, foi pecado, devolve o dinheiro. Eu nunca me senti pecadora, aliás, estou muito fora disso. Eu sempre me senti muito bem fazendo os meus filmes e caminhando até hoje, sabe? Eu sou uma sequência do que eu sempre fui, do que eu nasci, então, não me importo muito com a idade.

MCB: A partir do seu relato, temos contato com vários técnicos da Boca. Ainda hoje, o cinema brasileiro é  mais conhecido pelos atores, atrizes, diretores e diretoras. Tem técnicos de mais visibilidade como produtores,  roteiristas e fotógrafos, mas há uma  grande parcela que fica muito invisibilizada no patamar dos bastidores. O que a convivência com os técnicos, que são fundamentais no cinema, mais te ensinou? Não conheci a Boca à época dessa efervescência cinematográfica,  mas o espaço geográfico - em que conviviam artistas, técnicos, produtores, operários, profissionais da prostituição -,  e  modelo de produção - pequenos e médios investidores - são únicos. A Boca possibilitou uma formação muito humanista, não é?

NP: Ah, eu acho que a convivência era tão fraterna que humanizou todo mundo, porque nós tínhamos um pêndulo na nossa cabeça, sabe? E que podia cair a qualquer instante, que era a Ditadura. A gente tinha que fazer as coisas, a gente tinha que sobreviver. A gente estava num mundo injusto, injusto demais, mas era um mundo alegre, um mundo de rock'n'roll, um mundo de músicas boas, excelentes, e um mundo em que a gente não tinha como fazer os filmes se não fosse na garra. E, mais ainda, a gente nunca recebeu dinheiro da Ditadura. A Ditadura fez a Embrafilme, eu fiz alguns filmes da Embrafilme. A Embrafilme patrocinava os filmes das pessoas, só que, enormemente, de pessoas já de destaque, pessoas conhecidas. E nós que fizemos os filmes da Boca, aqueles filmes sempre foram muito precários financeiramente, era onde a gente dava o nosso sangue, era onde a gente entrava com o nosso amor, era onde a gente convivia com todo mundo, sabe? E foi onde teve gênios ali dentro, gênios que foram depreciados depois, quando passou essa fase do cinema da Boca. Foram depreciados porque sabem que tudo que envolve sexo faz mal para algumas pessoas mal resolvidas.

MCB: No seu relato, você  fala de alguns diretores, atrizes e comenta cada um de seus filmes. Mas te peço para dizer aqui algumas linhas sobre alguns nomes entre tantos fundamentais. Pode ser?   Ody Fraga, . Jean Garrett,  Carlos Reichenbach, Helena Ramos, Patrícia Scalvi.

NP: Ah, quanta gente maravilhosa! O Ody Fraga, meu mestre, ele que me iniciou no conhecimento da filosofia, da filosofia alemã, principalmente, do Nietzsche, incrível, fomos muito amigos. O Jean Garrett, que gênio, gênio, só que ele foi cancelado pela mídia porque ele estava na Boca, era diretor da Boca, e aí não havia consideração com essas pessoas. O Carlos Reichenbach não foi tão perseguido  porque ele conseguiu ultrapassar o preconceito, e porque não tinha como dizer que ele não tinha competência, não tinha como. E nem tinha com o Jean ou o Ody, as pessoas falavam mal porque gostavam de falar mal, aquela coisa, síndrome de vira-lata, tudo que era dos EUA era maravilhoso, tudo que era do Brasil era ruim E lotava porque as pessoas gostavam, e não era Classe C não, era bastante reconhecida pela Classe A.

Helena Ramos e Patrícia Scalvi, duas amigas incríveis. Com a Helena, eu quase nunca me encontrava, só, às vezes, rapidamente, na Boca, mas nós éramos amigas e continuamos amigas até hoje. A Helena era a Elizabeth Taylor, a beleza dela, uma das mulheres mais bonitas da época, mas, como ela fazia cinema, as pessoas não consideravam. A mídia foi muito cruel, muito cruel com a gente. Porque quem desprezava a gente era a mídia, quem se vendia para os EUA eram as pessoas da mídia, que não nos perdoava, mas eu estou me lixando para eles hoje em dia. Patrícia Scalvi, um dos maiores talentos da Boca, incrível, maravilhosa, minha amiga até hoje também. Pessoas fantásticas que cruzaram a minha vida devido ao privilégio de ter vivido lá na Boca de Cinema, na Rua do Triunfo, em São Paulo.

MCB: Ariella,  dirigido por John Herbert, é  um dos maiores sucessos de sua carreira. Você, inclusive, ficou amiga da escritora Adelaide Carraro (creditada errado aqui, a autora é Cassandra Rios - livro “A Paranóica”). Poderia comentar sobre o significado desse filme na sua trajetória?

NP: Na verdade, eu era amiga da Cassandra Rios. A Adelaide Carraro era uma outra autora e que escrevia sobre romances sensuais entre homem e mulher. A Cassandra Rios era lésbica assumida naquela época. Eu fiquei muito amiga dela porque não havia motivo de não ser amiga, né?. O filme foi um grande sucesso, realmente foi um sucesso estrondoso, foi o que me levou para a Globo.

MCB: Gosto muito de Retrato Falado de uma Mulher sem pudor, do Jair Correia e Hélio Porto, da Monique Lafond, a protagonista,  e de você  neste filme. Poderia comentar sobre como foi compor a sua personagem?

NP: Retrato Falado de uma Mulher sem Pudor é um filme maravilhoso, muito bem produzido, muito bem dirigido. Eu gostei muito da minha personagem, ela tem uma história, ela tem uma vida de prostituta de luxo, e é interessante fazer essas personagens, é muito bom.

MCB:  Qual filme você  considera o mais importante  que fez na Boca?

NP: Olha, em termos de destaque, eu acho que o primeiro foi O Prisioneiro do Sexo,  ele me fez me tornar uma atriz com o Walter Hugo Khouri. E aí veio  Ariella, que me destacou para o Brasil todo, porque daí eu fui para a Globo e o filme fez um sucesso incrível. Mas se você me perguntar qual o que eu mais gostei de fazer e de ter assistido foi o Damas do Prazer.  Foi um dos meus primeiros filmes, foi escrito pelo Ody Fraga e dirigido pelo Toninho (Antônio) Meliande, que também era o iluminador do filme. Eu acho que tem um tema muito atual, um tema atemporal, vamos dizer assim. Eu não tinha experiência quando fiz esse filme, nenhuma, mas o filme foi, para mim, o melhor que eu fiz, foi o que eu mais gostei mesmo.

MCB: Walter Hugo Khouri é, na minha opinião, o maior cineasta brasileiro  - ao lado de Glauber Rocha -, um cineasta singular na história do cinema brasileiro e um capítulo  especial na sua carreira, atuando em quatro filmes dele e de quem se tornou amiga. O que considera de mais precioso no cinema do Khouri?

NP: Realmente, o Walter Hugo Khouri é um dos melhores diretores que já teve no Brasil. Ele foi reconhecido na década de 50, 60, e depois, como ele foi trabalhar com alguns produtores da Boca, tentaram diminuí-lo, mas ninguém consegue diminuir uma pessoa da grandeza de Walter Hugo Khouri. Foi um grande prazer trabalhar com ele, tivemos algumas pegas, mas a gente sempre foi amigo. De vez em quando a gente provocava uma briga, e era muito bom as nossas brigas, uma coisa deliciosa. Ele foi um grande amigo, um cara que eu sinto falta demais. Foi ele que me apresentou um pouco mais o mundo, depois do Ody. Foi ele que me falou tudo sobre jazz, sobre soul, sobre tantas coisas de arte, sabe? Ele foi me apresentando o mundo através da arte e também de muitos diretores, ele me apresentava e falava “Olha, Buñuel”, “Olha esse aqui, Pier Paolo Pasolini”. Eu não conhecia, porque eu era uma menina que veio do interior do Paraná e que estudava na escola da Ditadura. E na escola da Ditadura a gente não conhecia as coisas, a gente só fazia as lições e pronto, né? Eu me saía muito bem na escola, mas, culturalmente, não existia nada. Só que eu sabia que tinha alguma coisa a mais nesse mundo, e isso começou a me ser apresentado pelo Ody e depois pelo Khouri. Olha que privilégio, hein?

Eu adoro Glauber Rocha, adoro. Ele também colocou bastante nudez nos filmes dele. O Ozualdo Candeias, que trabalhou na Boca, eu acho genial, mas como ele era da Boca, as pessoas não quiseram dar o braço a torcer. É um dos maiores diretores que o Brasil já teve. Ozualdo Candeias fez A Margem, e daí Cinema Marginal. Eu assisti A Margem e fiquei encantada, não é possível que um cara que não tinha dinheiro, que não tinha nada, nenhum recurso, nada, nada, e fez um filme em 1967 daquela qualidade.

MCB: No cinema carioca, você  encontra o Terrir de Ivan Cardoso no ótimo e delicioso As Sete Vampiras. Poderia comentar sobre esse filme?

NP: Foi uma brincadeira fazer As Sete Vampiras, foi muito gostoso. O Ivan é muito louco, né? (rsrs). Depois a gente acabou fazendo também um filme dirigido pelo Mário Abbade, Ivan, O Terrirvel, sobre a vida do Ivan Cardoso e eu fiz  uma participação. O Ivan é muito louco, cara, mas não tinha como não ser, né? Vivendo os anos 70, no Rio de Janeiro, e somos amigos até hoje.

MCB: Fora também da produção da Boca, você  foi dirigida por cineastas como Francisco Ramalho Jr.,  Bruno Barreto e Oswaldo Caldeira. Você gostou dessas experiências?

NP: Olha, trabalhar com Francisco Ramalho Júnior foi uma maravilha, ele é um diretor muito sensível, muito do lado do ator, sabe, se preocupando com o trabalho da gente. Então eu gostei muito, uma pena que eu só fiz um filme (Filhos e Amantes) com ele. O Bruno Barreto já foi uma coisa ótima, porque tinha o Marcello Mastroianni, tinha a Sônia Braga. Gabriela foi também uma experiência muito boa, mas o ritmo de filmagem era bem diferente do ritmo de filmagem da Boca. Eu acho que eu passei uns três meses fazendo uma participação no filme, enquanto que na Boca a gente fazia filme em 15, 20 dias. Eu adoro ter trabalhado com essas pessoas, muito mesmo.

MCB: Depois de muito tempo sem vê-la nas telas, teve o seu encontro em cena com o saudoso Cláudio Cunha no belo Lembranças de Mayo, do Flávio C. Von Sperling. Como foi gravar esse filme em Belo Horizonte?

NP:  Então, antes de eu fazer Lembranças de Mayo, eu estava morando na Itália, em Roma, eu morei em alguns lugares lá. Eu fiz um curso na Cinecittà, de teatro, e foi muito bom, aprendi muita coisa. Não sei se existe ainda, mas era um curso coordenado pela Universidade de Roma, e foi uma experiência muito boa. Quando eu cheguei aqui, eu recebi esse convite do Flávio (Von Sperling), eu gosto tanto dele, é um grande cineasta. Eu gostei bastante dessa experiência, gostei muito do resultado, e trabalhei com o Samuel Marotta também, que está aí na Curto Circuito. Foi muito gostoso ter feito, adorei demais, achei que o resultado foi muito positivo, muito mesmo.

MCB: Paraíso Perdido, da Monique Gardenberg, é  ótimo. Como foi trabalhar com a cineasta?

NP: A Monique Gardenberg se tornou minha amiga, foi um prazer também trabalhar com ela, uma pessoa maravilhosa. E também trabalhar com o Erasmo (Carlos) no último filme dele e com todo aquele pessoal incrível e de muito talento. Meu personagem era pequeno demais, era só uma participação, então isso me entristeceu um pouco (rsrs), mas eu faria de novo. Ela é uma mulher muito sensível e muito objetiva, é muito gostoso isso.

MCB: Em A Noite das Vampiras, de Rubens Mello,  você  atua com outra atriz importante da Boca, Debora Muniz. Poderia comentar sobre o filme?

NP: A Débora Muniz é uma amiga-irmã, porque a gente se encontrava lá na Boca também. Bem como a Liz Vamp, a Liz Marins, que é filha do Zé do Caixão (José Mojica Marins), que também está no filme. A gente virou assim as três irmãzinhas, estamos sempre juntas,. E agora vou participar de um curta-metragem dirigido pela Liz, um curta-metragem muito bom. Foi muito bom ter feito A Noite das Vampiras, foi bastante divertido. Nossa, ter conhecido o Rubens Mello, que ser-humano incrível. A gente se reúne sempre para comemorar aniversários, para fazer amigo secreto, virou uma família. E já estamos preparando a agenda para o ano que vem sair o " A Noite das Vampiras 2". Vamos ver, né? Estou super ansiosa.

MCB: Você  atuou em muitas novelas e minisséries,  em diferentes emissoras.  Você gosta de fazer novela? Qual destacaria entre as que atuou?

NP: Eu gosto de fazer novelas, sempre gostei, fiz várias. Agora, a que eu mais gostei foi, por incrível que pareça, no SBT, “Amor e Revolução”, gostei muito. Não existia a personagem, eu entrei e eu criei a personagem, era o Reynaldo Boury que dirigia, uma pessoa que faz falta, né? O texto era do Tiago Santiago. De repente, me chamaram, mas falaram que não tinha personagem, e eu falei “Ok, vamos construir”. E aí, num olhar que eu dei, num determinado momento, o Tiago captou esse olhar, me ligou, e aí aumentou o personagem. Eu fiz uma mulher muito má, a Feliciana, muito má, adorei ter feito, adorei.

MCB: Seu programa no Canal Brasil, " Pornolãndia", é  ótimo, inclusive por trazer de volta à cena nomes fundamentais do cinema popular.  Você imaginava o sucesso e a repercussão  que o programa teria e tem?

NP:  Ah, eu sabia que o programa iria ser sucesso, assim que eu recebi o projeto e nós fomos fazer o piloto. Eu vi um monte de possibilidades, sabia que nós iríamos fazer uma coisa grandiosa. Eu não gostava do nome “Pornolândia”, mas o André Saddy idealizou o programa, a ideia dele era maravilhosa, e nós conseguimos transformar e ampliar todas as ideias dele. Falávamos sobre todos os aspectos do sexo, sem exagero, sem preconceito, sem julgamento, e aí a gente também se divertia bastante. A gente levou muita gente interessante, muita gente importante, sabe?  O Zeca Baleiro participou do programa, então teve muita gente que gostava.

Tivemos a felicidade de estar sempre entre os três primeiros programas mais assistidos do Canal, sendo que, às vezes, a gente ficava em primeiro lugar. Até hoje o programa está lá, as pessoas amam esse programa, porque ele era completamente diferente de tudo o que já tinha sido feito na televisão. Gostaria que voltasse para a gente levar mais alguns episódios inéditos. Eu gostei muito de ter feito, a equipe minha era maravilhosa.

MCB: Você tem uma carreira importante no teatro. O trabalho atual nos palcos é  "O Mergulho no mistério dela", não é  isso? Poderia comentar  sobre esse trabalho?

NP: “O Mergulho no Mistério Dela” é da Leilah Assumpção, uma das maiores dramaturgas vivas do teatro. Eu fiz com a Kate Hansen, que também era daquela época, foi uma experiência muito boa no Teatro Oficina, aqui em São Paulo. Eu fiz várias outras peças, trabalhei com grandes nomes, como o Paulo Autran, a Bibi Ferreira, o Juca de Oliveira, acho que fiz umas 30 ou mais, nunca parei para contar. Trabalhei no grupo Os Satyros, aqui de São Paulo, é um grupo alternativo, onde a diversidade impera, e é gostoso participar disso, você aprende muito, muito mesmo. Eu gosto muito de trabalhar no teatro.

MCB: Qual é  a sua expectativa em retornar a Belo Horizonte  no aniversário de 25 anos da Curta Circuito  e comentar Eros, o Deus do Amor, do Khouri?

NP: Eu estou adorando voltar para Belo Horizonte, vou rever meus amigos da época do Lembranças de Mayo. Essa Mostra de 25 anos é muito importante, eu acho que não só para Minas, é importante para o Brasil todo. Porque está divulgando o nosso cinema, está divulgando as pessoas que fizeram o cinema, está contando a história do cinema também, e isso é tão valioso, é tão valoroso. Eu fiquei assim “Gente, que coisa boa participar dessa Mostra, que honra, principalmente nos 25 anos”. E falar sobre o Khouri é um grande prazer também, falar sobre o filme Eros, o Deus do Amor, vai ser legal, vai ser muito bom.

MCB:  Para terminar, as duas únicas perguntas fixas do site. Primeira: Qual foi o último filme brasileiro a que assistiu?

NP: O último filme nacional a que eu assisti você pode imaginar, foi o Ainda Estamos Aqui, é claro, um filme vencedor de Oscar. Um filme incrível, nossa, o (Walter) Salles é realmente genial e todos os atores estão bem, a Fernandinha está maravilhosa. Foi um delírio assistir Ainda Estamos Aqui, gostei muito.

MCB: Qual mulher do cinema brasileiro,  de qualquer época e de qualquer área,  você deixa registrada na sua entrevista como uma homenagem e o porquê?

NP: Helena Ignez. Eu adoro a Helena, até porque somos amigas também. A Helena é uma pessoa adiante do seu tempo. Naquela época, ela fazendo os filmes que ela fez, então acho que ela estava muito adiante do tempo dela. Ela foi e é  uma grande atriz, uma pessoa que eu acho que merece todo o reconhecimento. Enquanto está viva, porque depois que a gente vai embora, filho, aí acabou, não tem reconhecimento que vale a pena porque a gente não está aqui (rsrs). Então eu acho que teria que aproveitar a Helena viva e homenageá-la.

E outra Helena, Helena Ramos. Cara, essa mulher sofreu um preconceito tão grande, mas acho que ela superou também. Acho que ela foi uma das atrizes mais injustiçadas que já passou pelo cinema, ela era uma ótima atriz, mas as pessoas  cancelaram ela. Então acho que essas duas Helenas deveriam ser homenageadas.

Além de "A Boca do Cinema", eu escrevi também o livro "Onde dormem os demônios", ambos pelo Clube de Autores - clubedeautores.com.br/nicolepuzzi 

MCB: Muito obrigado pela entrevista.


Entrevista realizada por áudios de Watsapp no dia 12 de novembro de 2025.
Foto: Acervo da atriz

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