Ano 20

Margarida Oliveira

Ela é conhecida carinhosamente entre os jornalistas que cobrem cinema como Margô e é sinônimo de eficiência, profissionalismo, atenção e gentileza. Margarida Oliveira nasceu em Marília, São Paulo, em 1952. Sócia de Flávia Miranda na ProCultura, assessoria de imprensa especializada em cinema com foco no cinema brasileiro, Margarida Oliveira compõe com a sócia Flávia e também com Ana Luíza Muller (que trabalha no Rio, em outra empresa) um trio de assessoras de imprensa de referência no cinema nacional. Margarida tem longa trajetória a serviço de nossas produções, com início na década de 1970 e com passagem importante pela Embrafilme, onde ficou quase uma década, quando morou no Rio de Janeiro. Sobre a Embrafilme, declara: "No final dos anos 70 e início dos 80, a Embrafilme produzia cerca de 100 títulos por ano, dentre os quais, todos os autorais hoje cultuados pela crítica. Acho que a empresa deu visibilidade para o cinema brasileiro dentro e fora do país".

O primeiro lançamento de filme brasileiro em que trabalhou foi "Dedé Mamata": "Fiquei oito anos na Embrafilme passando por vários deptos., sempre na área cultural. Quando eu saí, estava na assessoria de imprensa da empresa e lá eu já trabalhava com filmes e festivais. Fiquei dois anos fazendo “freelas” na área, mas o lançamento que considero meu primeiro foi “Dedé Mamata”, de Dodô Brandão. Em 1988 voltei pra São Paulo, montei um escritório de assessoria de imprensa e, na época, trabalhei em projetos culturais de música e cinema, de grandes empresas. Em 91 o Collor acabou com os projetos culturais do país e eu fui trabalhar com produção de comerciais.".

A ProCultura é uma assessoria de destaque - o Mulheres também vai entrevistar Flávia Miranda - e tem o cinema brasileiro como foco não só de trabalho como também de paixão: "A maior facilidade é a paixão e o entusiasmo que temos pelo cinema brasileiro. As dificuldades são muitas, que vão da expectativa do diretor em relação ao seu filme ao pouco espaço da mídia. Foi-se o tempo em que os filmes tinham espaço para críticas, entrevistas e matérias temáticas de comportamento".

Já há algum tempo que o Mulheres estava querendo falar com Margarida Oliveira e essa entrevista foi feita por email em meio às correrias da entrevistada com o lançamento em São Paulo de "Linha de Passe" (Walter Salles e Daniella Thomas) e com os trabalhos com a Mostra de São Paulo. Na entrevista, Margarida Oliveira fala da troca da possível carreira nas letras para a de cinema, da trajetória na Embrafilme, dos trabalhos na ProCultura, de sua cinefilia e sobre o trabalho de assessoria de imprensa.

 

Mulheres do Cinema Brasileiro: Você é graduada em Letras. Chegou a dar aulas? Quando e por que trocou de profissão?

Margarida Oliveira: Sim, cheguei a dar aulas no interior de São Paulo. Mudei para o Rio em janeiro de 1976 e lá me entediei um pouco com a rotina das aulas. Me envolvi com um curta-metragista e em 1978 prestei concurso para a Embrafilme onde comecei a trabalhar no depto. de curtas. Depois fui trabalhar na diretoria do Carlos Augusto Calil, hoje secretário municipal de cultura da cidade de São Paulo. Fiquei na Embrafilme de 1978 a 1986.

Mulheres: Você foi ou é cinéfila?

Margarida Oliveira: Sim, sempre fui cinéfila. Na cidade onde nasci, Marília, interior de S.Paulo, havia um cineclube atuante que premiava, anualmente, o melhor filme brasileiro eleito pelos sócios. Os sócios, de carteirinha, eram estudantes da Unesp e de terceiranistas dos colégios da cidade. Além do Cineclube outras duas salas de cinema ofereciam uma programação eclética. Uma das salas era programada pela comunidade japonesa e foi lá que vi vários filmes do OZU.

Mulheres: Você sempre trabalhou com filme brasileiro? Qual foi o primeiro filme para o qual você trabalhou? Quando foi?

Margarida Oliveira: Fiquei oito anos na Embrafilme passando por vários deptos., sempre na área cultural. Quando eu saí, estava na assessoria de imprensa da empresa e lá eu já trabalhava com filmes e festivais. Fiquei dois anos fazendo “freelas” na área, mas o lançamento que considero meu primeiro foi “Dedé Mamata”, de Dodô Brandão. Em 1988 voltei pra São Paulo, montei um escritório de assessoria de imprensa e, na época, trabalhei em projetos culturais de música e cinema, de grandes empresas. Em 91 o Collor acabou com os projetos culturais do país e eu fui trabalhar com produção de comerciais.

Mulheres: Como foi trabalhar na Embrafilme? Em sua opinião, qual a importância da Embrafilme para o cinema brasileiro?

Margarida Oliveira: No final dos anos 70 e início dos 80, a Embrafilme produzia cerca de 100 títulos por ano, dentre os quais, todos os autorais hoje cultuados pela crítica. Acho que a empresa deu visibilidade para o cinema brasileiro dentro e fora do país.

Mulheres: Quando e como se deu a fundação da ProCultura? São quantos funcionários?

Margarida Oliveira: A ProCultura foi fundada há mais de 20 anos pelo pai da Flávia, minha sócia. Na ocasião eles trabalhavam muito com turismo e negócios. Em 1992 fui convidada pela Flávia (Miranda), que trabalhava no atendimento e administração da empresa, para integrar a equipe e levar o cinema pra lá. Na ocasião O (José) Joffily tinha acabado de terminar A Maldição de Sampaku, e estava tentando lançar o filme no mercado. O Adhemar (Oliveira) ainda não havia inaugurado o Espaço Unibanco em São Paulo.

Mulheres: O trabalho é especificamente de assessoria ou engloba a comunicação como um todo?

Margarida Oliveira: Especificamente assessoria. É o que sabemos e o que gostamos de fazer.

Mulheres: A Pró-Cultura tem o cinema brasileiro como foco?

Margarida Oliveira: SIM, preferencialmente os brasileiros. Os estrangeiros só entram mesmo quando são de distribuidoras pequenas como a Filmes da Mostra e Mais Filmes.

Mulheres: Como se dá de assessoria para trabalhos como a Mostra de São Paulo e a rede de cinema de Adhemar de Oliveira?

Margarida Oliveira: A Mostra e o circuito das salas sempre despertam o interesse da mídia. Trabalhamos basicamente a programação dos dois.

Mulheres: Como é, tendo a sede em São Paulo, realizar trabalhos em escala nacional?

Margarida Oliveira: A Internet facilita muito a comunicação diária com a imprensa. Como fazemos também alguns festivais de cinema, temos sempre a oportunidade de estreitar relações com críticos e repórteres especializados que freqüentam tais eventos.

Mulheres: Quais as dificuldades e as facilidades em trabalhar com o cinema nacional?

Margarida Oliveira: A maior facilidade é a paixão e o entusiasmo que temos pelo cinema brasileiro. As dificuldades são muitas, que vão da expectativa do diretor em relação ao seu filme ao pouco espaço da mídia. Foi-se o tempo em que os filmes tinham espaço para críticas, entrevistas e matérias temáticas de comportamento.

Mulheres: Você poderia citar alguns filmes brasileiros com os quais trabalhou?

Margarida Oliveira: Nome Próprio, de Murilo Salles, Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, O Passado, Carandiru, ambos de Hector Babenco, O Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia , Linha de Passe (na cidade de S.Paulo) e muuitos outros.

Mulheres: Você foi responsável pela Mostra de Cinema de Paulínea. Como avaliou o resultado?

Margarida Oliveira: Acho que nem os organizadores do Festival esperavam tanto retorno. Por ser a primeira edição acho que o resultado foi muito bom.

Mulheres: Você, a Flávia Miranda, sua sócia, e a Anna Luiza Muller são destaques na assessoria de imprensa para o cinema. Qual a sua opinião sobre isso? Como se diferenciar no trabalho de assessoria?

Margarida Oliveira: Não tenho opinião sobre isso, sinceramente. Talvez pela dedicação, por termos mais tempo no mercado, por sermos independentes de distribuidoras?

Hoje existem várias assessorias especializadas na área e é bom que apareçam mais já que a cada ano surgem novos diretores.

Mulheres: O mercado para assessoria de imprensa para cinema é restrito? Por quê?

Margarida Oliveira: Não o considero restrito. Como em qualquer profissão ou área, demora-se muito para conseguir credibilidade.

Mulheres: Como você vê a atual produção do cinema nacional?

Margarida Oliveira: Acho que nunca se produziu tanto e de forma tão variada. Só acho que falta uma articulação da classe com a televisão. Tem muitos documentários, de temas específicos, que poderiam ser exibidos na TV sem passar pela sala de cinema. É muito triste ver filmes que ficam em cartaz apenas uma semana.

Mulheres: Em sua opinião, qual o maior desafio para o cinema nacional se firmar como indústria e formar público?

Margarida Oliveira: Sinceramente não tenho uma opinião sobre o assunto. Sou de uma geração que freqüentava cinemas diariamente. Na minha adolescência íamos todos os dias ao cinema por pura falta de opção de outro tipo de lazer. Víamos o mesmo filme várias vezes na semana. Mas o ingresso era muuito barato e não havia DVD.

Mulheres: Há uma presença cada vez maior das mulheres como diretoras e em funções técnicas das mais variadas. Como você vê isso?

Margarida Oliveira: Acho natural. Tem mulheres em todas as profissões e o cinema é apenas mais uma área de trabalho.

Mulheres: Qual foi o último filme brasileiro que assistiu, fora o trabalho?

Margarida Oliveira: Revi, no domingo, São Paulo S.A., do Person. Existe abertura mais bela?

Mulheres: Eu sempre convido minhas entrevistas para homenagearem uma mulher do cinema brasileiro de qualquer época e de qualquer área. Sua homenagem vai para quem?

Margarida Oliveira: Minha homenagem vai para Dona Elizabeth Teixeira, personagem do filme Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho.

Mulheres: Obrigado pela entrevista.

 
Entrevista realizada em setembro de 2008.

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Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.