Ano 20

Márcia Maria

Márcia Maria é uma bela e talentosa atriz da televisão e do cinema. Na TV brilhou nas emissoras Record e Tupi – nessa última foi uma de suas principais estrelas na década de 1970, ao lado de Eva Wilma e Elaine Cristina. Na telinha, sua parceria mais importante foi com o novelista Geraldo Vietri: “Ele foi o homem da minha vida! rsrs. Porque sei lá, ele me curtiu muito. Ele foi o diretor da minha vida”.

Márcia Maria brilhou também no cinema, onde atuou em cinco filmes e foi dirigida pelos cineastas Fauzi Mansur – Cio, uma verdadeira história de amor (1971);  Sílvio de Abreu – Gente que transa (1974); José Miziara – As amantes de um homem proibido (1978) e As intimidades de Analu e Fernanda (1980); e também pelo Vietri – Que estranha forma de amar (1977).

Márcia Maria, porém, confessa que sempre gostou mais de atuar em televisão, não gostava de fazer cinema: “Mas é porque eu trabalhava muito e minha vida particular estava muito confusa na época, porque durante esse tempo morreu toda a minha família e eu fiquei meio confusa”.

O site Mulheres do Cinema Brasileiro conversou por telefone com a atriz Márcia Maria para uma edição da Revista Zingu! que homenageou Geraldo Vietri com um dossiê. Na revista foi publicada a entrevista, que aqui segue acrescentada de outras histórias, como a sua parceria com a TV Globo, que acabou não acontecendo.

Mulheres do Cinema Brasileiro: O Geraldo Vietri foi muito importante para sua carreira, não é?

Márcia Maria: Ele foi o homem da minha vida! rsrs. Porque sei lá, ele me curtiu muito. Ele foi o diretor da minha vida.

CMB: Como era trabalhar com o Vietri? Porque uma característica forte é que ele cuidava de tudo, escrevia, dirigia...

MM: Ele fazia tudo. 

MCB: E como era o dia-a-dia no trabalho?

MM: Olha, as outras pessoas achavam que ele era irritante, que ele era nervoso. Ele xingava mesmo, falava o que tinha vontade, não respeitava ator, não queria nem saber. Tudo para fazer aquele trabalho bonito. Agora, ele não me xingava. Uma vez o Fulvio Stefanini disse assim “ah Vietri, você briga com todo mundo,  xinga todo mundo, mas com a Márcia Maria não”. E ele disse “E eu sou louco! De repente ela se manda, porque essa mulher,  sabe-se lá” rsrs.

Então ele era assim. Eu fiquei doente uma vez e toda noite, após a gravação, ele vinha ao meu apartamento atormentar minha cozinheira “Margarida, quero ver o macarrão que a senhora fez para ela” rsrs. Daí ela dizia “hoje ela não quis macarrão não”, e ele  “ela não tem que querer, só macarrão para curar essa moçar” rsrs.

O Vietri era muito inteligente, ele fazia coisas maravilhosas . Foi uma pena a Tupi não ter feito um grande prêmio com o nome de Geraldo Vietri, porque as novelas dele, se passarem hoje, todo mundo assiste. Que coisa né?

MCB: Levando-se em conta que há tanta falta de bons autores hoje...

MM: Tão carente... Tem o Lauro Cezar Muniz... Mas também não é todo que mundo que aguenta escrever vinte horas por dia o tempo todo, né? Tem bons escritores, mas poucos.

Agora,  o Vietri faz uma falta louca, louca, louca. E ele tinha um estilo, sabe? Ele me fazia  trabalhar no dia de natal, passando mal, eu trabalhava e pronto rsrsrs.

Ele era um amor de pessoa,  era engraçado, era cômico. Quando ele queria atormentar alguém, ele fazia através da comicidade. Ele era o máximo.

Foi um absurdo a Tupi não ter feito, ou mesmo a Globo não ter feito uma homenagem imensa ao Geraldo Vietri.

MCB: Ele gostava de juntar você e o Jonas Mello como para romântico nas novelas dele, não é?

MM: Sim, ele gostava do Jonas, ele gostava de mim. Quando eu cheguei na Tupi, eu tinha vindo da Record, eu acho,  e aí achava que eu ia comer o pão que o diabo amassou. Quando ele  mandou me escalar, no primeiro dia da reunião da novela dele, eu fiquei bem muda, rezando, porque eu pensei “esse homem vai acabar comigo” rsrs.

Aí ele disse “vamos começar pela primeira cena porque eu quero ver como você se comporta”. A gente decorava na hora, né? Lá pelas sete horas da noite a gente começou a gravar. Eu fiquei pensando como faria aquela personagem. Ele ficava lá falando, falando, falando, e eu fiquei pensando. Daí resolvi fazê-la bem triste, muito humilhada. Fiz a cena chorando, mas sem dramaticidade, só com as lágrimas rolando, um tanto fria. Porque a personagem estava humilhada, tinha sido tirada da família dela, da mãe, dos irmãos. Eu achei que ninguém estava prestando a mínima atenção, mas ele estava. Daí ele mandou rasgar o resto das minhas cenas, porque ele ia escrever diretamente para mim. Ele escreveu para mim. Só depois de dois meses é que eu fui me tocar que ele escrevia para mim. 

MCB: A gente percebia isso porque você foi estrela das novelas dele.

MM. Sim. Uma vez foi muito engraçado, era a cena final da novela e ela terminava com um grande beijo entre mim e o Jonas Melo. Ele me beijava e eu dava um tapa na cara dele. O povo era muito gozador, então ficou o elenco inteiro no estúdio assistindo. Eu fiquei tão nervosa que assim que o Jonas me beijou eu dei três tapas na cara dele. Dei o primeiro, dei o segundo e dei o terceiro.

Aí eu disse “Ai Jonas, me desculpe, eu estava com medo de errar”. E aí ele respondeu “Só vou te dizer uma coisa, eu tenho um pivô aqui, e se você fazer esse pivô cair, o pau come” rsrs. E o Vietri lá “vamos fazer de novo...” Porque ele adorava isso. Aí dessa vez eu bati de levinho. E o Vietri “bateu levinho demais... o povo não acredita” rsrs. Quando acabou eu estava aos prantos de nervosa.

MCB: E no cinema, como era?

MM: No cinema? Não me lembro não.

MCB: Mas você não fez  o Que estranha forma de amar? Eu não conheço o filme, mas consta seu nome na ficha técnica.

MM: Não me lembro não. Olha, mas eu fiz tanta coisa. E que engraçado, eu não gostava de fazer cinema.

Z: Mesmo? Mas você fez filmes que eu gosto bem. Fez As intimidades de Analu e Fernanda (1980) e As amantes de um homem proibido (1982), ambos do José Miziara. Fez o Cio – uma verdadeira história de amor (1971), do Fauzi Mansur.

MM: Sim, me lembro. Mas é porque eu trabalhava muito e minha vida particular estava muito confusa na época, porque durante esse tempo morreu toda a minha família e eu fiquei meio confusa.

MCB: Durante a década de 1970 você foi uma das principais estrelas da TV Tupi, ao lado da Eva Wilma e da Elaine Cristina. Com o final da emissora elas foram para a Globo, porque você não foi?

MM: Desde o meu tempo áureo da Tupi que a Globo queria me levar para lá. Uma vez me ligaram pedindo para ir ao Rio de Janeiro com urgência, eu morava em São Paulo, para conversar com o Boni e com o Daniel Filho. 

Tudo deles era com urgência, né, e aí me colocaram no Copacacana Palace, aquelas coisas. Eles adoravam impressionar, Daí chegam os dois, eles me disseram que queriam que eu saísse da Tupi, pois a Globo estava interessada em mim. Que a emissora tinha grandes planos para mim e tal.

Eu perguntei pelo salário, mas eles não diziam, me falaram que era para eu aguardar, que eu podia ficar hospedada lá no Copacabana Palace mesmo, que eu seria tratada como uma estrela, mas não falavam do salário.

Eu sempre cuidei da minha mãe, sempre morei e sempre fui responsável por ela. Daí que a questão do salário era muito importante, pois teria que me mudar para o Rio, levar minha mãe, levar tudo. Mas toda vez que perguntava sobre o salário eles não definiam.

Por fim, disse ok, vou aguardar. Só que no dia seguinte, acordei bem cedo, arrumei minhas malas, saí do hotel e peguei o avião de volta. Até hoje eles devem estar esperando a minha resposta. Minha história com a Globo acabou aí.

MCB: Muito obrigado pela entrevista.

MM: Por nada. Só preciso dizer mais uma vez que eu acho um absurdo as TVs não fazerem uma grande homenagem ao Vietri.


Entrevista realizada por telefone em  março de 2011.

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Sala 
 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.