Ano 20

Lisa Negri

Lisa Negri nasceu em 11 de julho de 1941, em São Paulo. O início da trajetória foi como modelo: “Eu desfilava para uma loja chamada Rivo, todas as noites eu apresentava uma roupa como propaganda. Uma noite, o César Momteclaro foi até o Studio e me disse que o Cassiano Gabus Mendes queria falar comigo. Fui até ele e ele me perguntou se eu queria ser atriz. Respondi que eu gostava muito de teatro, mas não tinha estudado para isso. Daí ele me respondeu ‘nós vamos fazer um teste, aguarde um telefonema do Geraldo Vietri’. O Vietri me ligou e pediu para eu passar na Tupi e falar com ele. Me deu um script do TV de Comédia chamado A teia de aranha, e meu personagem seria Silvana. Essa foi minha estreia”. 

Lisa Negri é uma das veteranas da televisão e durante muito tempo trabalhou na Tupi, durante muitos anos a principal emissora de TV no Brasil: “Foi maravilhoso, pois éramos uma família, a gente morava na Tupi. Todos que trabalharam nessa emissora amavam, era ponto de encontro mesmo quando não tínhamos trabalho. Era muito gratificante, ganhávamos pouco, mas não nos importávamos, pois tínhamos amor à arte”.

A atriz estreia no cinema em Noite vazia, o grande filme de Walter Hugo Khouri: “Minha estreia no cinema foi um convite do próprio Khouri, eu falei que ele precisava falar com o Cassiano, e lá foi ele na Tupi pedir para me liberar, pois o Cassiano não permitia que fizéssemos nada fora da Tupi. Daí eles se alteram, discutem, e no final o Khouri saiu ganhando. Foi assim que fiz essa obra-prima”. Depois atua em várias produções da Boca do Lixo, dirigida por cineastas como Ody Fraga e José Mojica Marins: “Foi normal, sempre me respeitaram muito e me tratavam como uma verdadeira atriz, fiz muitas amizades por lá”.

Lisa Negri conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro por e-mail, em abril de 2013. Ela falou sobre o começo da sua carreira, o trabalho na TV Tupi, no teatro, os filmes em que atuou, a relação com os cineastas e outros assuntos.


Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, cidade onde nasceu e data de nascimento.

Lisa Negri: eu nasci em São Paulo, em 11 de julho de 1941.

MCB: Você começou sua carreira como modelo, não foi? Como?

LN: Eu desfilava para uma loja chamada Rivo, todas as noites eu apresentava uma roupa como propaganda. Uma noite, o César Momteclaro foi até o Studio e me disse que o Cassiano Gabus Mendes queria falar comigo. Fui até ele e ele me perguntou se eu queria ser atriz. Respondi que eu gostava muito de teatro, mas não tinha estudado para isso. Daí ele me respondeu “nós vamos fazer um teste, aguarde um telefonema do Geraldo Vietri”. O Vietri me ligou e pediu para eu passar na Tupi e falar com ele. Me deu um script do TV de Comédia chamado A teia de aranha, e meu personagem seria a Silvana. Essa foi minha estreia. O Cassiano me chamou de novo para tratarmos do contrato, assinei e fiquei. Depois fui estudar arte dramática com Eugênio Kusnet, li muito sobre Stanislavsk e outros.

MCB: Como foram os trabalhos nos teleteatros da Tupi? 

LN: Depois desse primeiro TV de Comédia passei a integrar os elencos do TV de Vanguarda, sempre dirigido por Benjamin Cattan, e do Grande Teatro Tupi dirigido por Wanda Kosmos, grande atriz e diretora.

MCB: Foi o Cassiano Gabus Mendes que a convidou para atuar na sua primeira novela, O segredo de Laura? Como foi compor a personagem Elizabeth, nessa novela da veterana Vida Alves?

LN: Quando começaram as novelas, a minha primeira foi com direção de Geraldo Vietri: Moulin Rouge – a vida de Toulouse-Lautrec. Só depois que fui escalada para O segredo de Laura, na qual fazia a personagem Elizabeth, uma enfermeira que era apaixonada pelo médico com o qual ela trabalhava, que era interpretado pelo Amilton Fernandes.

MCB: Como foi atuar na Tupi, que durante um bom tempo foi a principal emissora de televisão do país?

LN: Foi maravilhoso, pois éramos uma família, a gente morava na Tupi. Todos que trabalharam nessa emissora amavam, era ponto de encontro mesmo quando não tínhamos trabalho. Era muito gratificante, ganhávamos pouco, mas não nos importávamos, pois tínhamos amor à arte.

MCB: Você atuou em várias novelas de Walter George Durst, notável novelista, e dirigida por Geraldo Vietri, outro grande. Como foi trabalhar com esses dois fundamentais artistas da televisão brasileira?

LN: Foi maravilhoso, pois eram duas pessoas muito especiais. Do Vietri fiz várias novelas, e o Durst era muito atencioso e nos esclarecia muitas dúvidas quando tínhamos.

MCB: Você vai para a Itália, onde estuda com o ator Vittorio Gassman, não é isso? Como foi essa experiência?

LN: Sim, eu fui para a Itália fazer, ou melhor, ser ouvinte num curso de teatro com o Vittorio Gassman, ator insubstituível, era maravilho, eu babava. Isto foi no Picolo Teatro de Milano. Ele tinha um jeito próprio de interpretar seus personagens, e de uma naturalidade incrível, uma transformação absoluta. Foi uma glória poder estar ao lado desse gênio.

MCB: Você montou sua própria companhia de teatro. O que a levou a montar a companhia, quanto tempo ela durou e quais foram os espetáculos?

LN: Depois que deixei de fazer TV, fundei minha companhia de teatro e tive o meu próprio, Teatro Lisa Negri, fazia teatro infantil e adulto. Os espetáculos infantis foram A verdadeira história de Pinochio, Palhaço imaginador e outras. Já os adultos são: Um edifício chamado 200, do Paulo Pontes, que fiz durante oito anos, Yala, uma noite de amor, do Walter Prado, Quando papai souber, do Marcos Rey, e Marido, matriz e filial, do Sérgio Jockman, a qual fiquei fazendo durante 10 anos, viajando pelo Brasil afora. O que me levou a montar a minha companhia foi o cansaço da TV, pois já estava começando a mudar, a Tupi estava caindo. Fui para a Globo, fiz duas novelas e saí correndo, não era lugar para mim, pois não trabalho para puxar tapete de ninguém.

MCB: A estreia no cinema foi na obra-prima Noite vazia, do Walter Hugo Khouri. Como foi selecionada para o filme? Foi convite ou foi teste?

LN: Minha estreia no cinema foi um convite do próprio Khouri, eu falei que ele precisava falar com o Cassiano, e lá foi ele na Tupi pedir para me liberar, pois o Cassiano não permitia que fizéssemos nada fora da Tupi. Daí eles se alteram, discutem, e no final o Khouri saiu ganhando. Foi assim que fiz essa obra-prima.

MCB: Como foi trabalhar com o Khouri?

LN: Sem palavras, era um cavalheiro finíssimo, maravilhoso!!!!

MCB: Seu segundo filme é Quatro brasileiros em Paris (1965), dirigido por Geraldo Vietri. Como foi atuar nesse filme e ser dirigida por ele no cinema?

LN: Com o Vietri eu já estava acostumada, era como se estivéssemos gravando um TV de Comédia. Todo o elenco era terrível, nos divertíamos muito madrugada adentro. Foi ótimo.

MCB: Você tem semelhança física com a saudosa atriz Geórgia Gomide. Como foi atuar com ela nesse filme em tantas outras novelas na TV?

LN: A Geórgia era uma pessoa muito difícil, mas sempre nos demos muito bem, gostava muito quando estávamos no mesmo trabalho.

MCB: Na década de 1970, você atua em produções da Boca do Lixo, importante polo de cinema da época. Como foi o convívio com realizadores, artistas e técnicos da Boca?

LN: Foi normal, sempre me respeitaram muito e me tratavam como uma verdadeira atriz, fiz muitas amizades por lá.

MCB: Como foi atuar em Vidas Nuas e como foi ser dirigida pelo Ody Fraga? Me fale também sobre a sua personagem.

LN: Foi interessante, pois tudo era novidade. Fui convidada nem sei porque, esse filme ficou guardado durante anos e só foi lançado quando eu ja era famosa através das novelas. Não me lembro de muitas coisas desse filme, nem do elenco, producão etc, só me  lembro do diretor Ody Fraga.

MCB: Na Boca você foi dirigida pelo José Mojica Marins na comédia A virgem e o machão. Como foi trabalhar nesse filme e como foi a relação com o Mojica?

LN: Eu gosto desse filme, pena que ele foi mal editado e ficou sem ritmo de comédia. O Mojica tem um jeito só dele de dirigir. Como eu estava acostumada com diretores como o Khouri, o Egídio Eccio, e outros, estranhei um pouco a sua maneira de dirigir, mas foi muito bom e diferente.

MCB: Como foi atuar em Pintando o sexo, no episódio O lobo mau e a netinha, como Norma, e como foi a relação com o Jairo Carlos?

LN: Esse filme foi muito bom de fazer, estava ao lado do Cazarré e do Egídio, que dirigia. O Jairo ficava mais olhando e rindo das palhaçadas do Cazarré.

MCB: Em 19 mulheres e um homem, você atua sob a direção de David Cardoso, como a mulher do caseiro da fazenda onde a trama se desenrola. Como foi atuar nesse filme e como foi ser dirigida pelo David?

LN: O David também é um cavalheiro, respeita o trabalho da gente. O papel não é lá essas coisas, mas foi gratificante.

MCB: Os três boiadeiros é seu último filme até agora. Como foi atuar nele?

LN: O Waldir kopesky era uma pessoa gentilíssima, ficamos muito tempo nessa fazenda filmando, o pessoal era muito gentil. Pena que o filme ficou muito escuro e sem ritmo. Aliás, este é o defeito do cinema nacional, gente especializada em editar o filme.

MCB: Por que você abandonou o cinema?

LN: Eu não abandonei. Em 1986 fui embora do Brasil para os Estados Unidos e vivi lá por 10 anos.

MCB: Por que você foi embora para os Estados Unidos? Nesse tempo todo que viveu lá, 10 anos, você chegou a trabalhar como atriz?

LN: Fui embora do Brasil, pois a situação por aqui estava muito ruim para trabalhar com teatro. Trabalhei lá como guia turística e viajei muito pelos States. Não trabalhei como atriz não, e nem me atreveria. Eu tenho um inglês para sobreviver e, nesse caso, teria que falar muito bem e sem sotaque, e isso é bem difícil.

MCB: Você retorna às novelas na década de 1990 em As pupilas do senhor reitor (1995), no
SBT. Como foi esse retorno e por que ficou tanto tempo longe da TV?

LN: Estava a passeio no Brasil e encontrei vários amigos da extinta Tupi. Em um desses encontros me convidaram para fazer um papel nessa novela, foi só uma cena, mas as coisas tinham mudado muito e na realidade não me senti à vontade. Quem fez parte da Tupi tem muita dificuldade de se adaptar a essa nova era.

MCB: Como foi atuar na novela Umas e outras, a primeira novela interativa feita pela internet?

LN: Essa foi ótima, o Leandro Barbieri escreve muito bem e o texto é ótimo para decorar. Nos divertimos muito nas madrugadas gravando essa novela da qual também sou uma pioneira.

MCB: Para terminar, as duas únicas perguntas fixas do site. A primeira é: qual o último filme brasileiro a que você assistiu?

LN: O filme que a Fernanda Montenegro foi candidata ao Oscar (Central do Brasil). Esse filme tem tudo de bom, tem história, ritmo e uma imagem excelente, mas me parece que o Walter Salles tem americanos trabalhando com ele.

MCB: A segunda: qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada em sua entrevista como uma homenagem?

LN: Tem várias, por exemplo, as atrizes que faziam cinema na década de 1950, 1960, Cacilda Becker,Tônia Carreiro, Eliane Lage. Tem muitas, mas não me lembro de todas, deixaram filmes inesquecíveis, muitos feitos na Vera Cruz, um senhor estúdio, que deveria ser refeito. Uma pena, não se preserva neste país.



MCB: Muito obrigado pela entrevista.
 

Entrevista realizada em abril de 2013.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.