Suzana Amado
A produtora Suzana Amado nasceu em 11 de junho de 1952, no Rio de Janeiro. Graduada em Comunicação Social, começou a trabalhar na TV Educativa, experiência que será marcante em sua trajetória, pois futuramente vai produzir vários trabalhos para a televisão: “Eu sempre gostei de dramaturgia, sempre gostei de teatro, ia ao teatro, sempre li livros com foco central em personagens. Eu gosto de dramaturgia, gosto de drama e queria ser atriz, bailarina. Eu passei seis anos na TVE, quase sete, trabalhando com dramaturgia. Gravei muito teatro, reproduzi em estúdios, os programas que a gente fazia eram com dramaturgia e sempre na área infantojuvenil. Aí eu saí da TVE e fui convidada a ir para a Embrafilme”.
Quando saiu da Embrafilme, Suzana Amado trabalhou como independente no lançamento de alguns filmes. Mas aí veio o governo Collor, que quase dizimou o cinema brasileiro, e ela ingressou em uma editora de livros. Com o Cinema da Retomada, viu que podia voltar para o audiovisual, e aí fez trabalhos na produção de filmes de Marco Altberg, Murilo Salles e Jorge Durán.
Ela trabalha também na produção do importante documentário Hércules 56, dirigido por Sílvio Da-Rin: “Eu acho que o Hércules 56 tem esse diferencial. O Sílvio tinha uma carga emocional em relação a isso, mas a maneira como o filme é feito, dando voz e sem interferência de narração... Ali não tem nenhum historiador falando, nenhum crítico falando, são as pessoas falando da sua vivência, aquele encontro ali, na mesa, das pessoas que fizeram o sequestro, as visões e os diálogos... Havia pessoas ali que não se falavam e não se viam, desde então, isso foi muito rico, foi muito legal”.
Suzana Amado produz o documentário de repercussão Vou rifar meu coração, dirigido por Ana Rieper, que fala sobre música brega e a sexualidade no sertão: “Depois que a gente lançou o Hércules 56, a Ana (Rieper, diretora do filme) me procurou. Ela tinha visto o Hércules e gostado muito, esteticamente, da maneira como ele havia sido feito, o rigor, a imagem, a produção como um todo. Ela me procurou e me propôs o filme. Meu pai é sergipano, eu sempre gostei de música romântica, eu era tiete de Márcio Greick, eu via todos os programas, adorava, sempre gostei”.
Suzana Amado esteve na 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em 2012, ao lado da diretora Ana Rieper, para o lançamento de Vou rifar meu coração. Ela conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro e falou sobre sua trajetória na televisão, os filmes que produziu, o encontro com cineastas como Marco Altberg, Murilo Salles, Jorge Durán e Sílvio Da-Rin. Fala também sobre as diferentes áreas da produção.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Qual a sua origem, data de nascimento completa e formação?
Suzana Amado: Nasci no Rio de Janeiro, filha de um sergipano e uma gaúcha, no dia 11 de junho de 1952. Estudei em colégio de freira, depois fiz Comunicação Social, e, assim que eu me formei em 1974, fui trabalhar na TV Educativa.
MCB: Quando foi?
SA: Eu me formei em 1974 na PUC, em Comunicação Social, e aí fui trabalhar na TV Educativa, em 75. Paralelamente a isso, eu sempre gostei de dramaturgia, sempre gostei de teatro, ia ao teatro, sempre li livros com foco central em personagens. Eu gosto de dramaturgia, gosto de drama e queria ser atriz, bailarina. Eu passei seis anos na TVE, quase sete, trabalhando com dramaturgia. Gravei muito teatro, reproduzi em estúdios, os programas que a gente fazia eram com dramaturgia e sempre na área infantojuvenil. Aí eu saí da TVE e fui convidada a ir para a Embrafilme, quando Roberto Parreira, que tinha passado pela TVE, foi para lá substituindo o Celso Amorim. Ele me chamou, eu fui, mas depois de três meses na diretoria geral, isso em 79, 80, não me lembro direito, eu falei que queria ir para a distribuidora, onde fui gerente adjunta de comercialização até mais ou menos 86, 87. Na mudança política, eu queria que o Carlos Augusto Calil fosse o novo diretor geral e ele não foi, daí um grupo grande saiu e eu saí junto. Eu fiquei fazendo alguns freelas, lancei alguns filmes brasileiros independentes e aí veio o Collor, em 90. Como nada mais acontecia na área de audiovisual, eu fui trabalhar numa editora, Editora Campos, e percebi que realmente o editorial é muito parecido com o negócio de cinema. A editora funciona como um distribuidor, o autor é o diretor, a gente compra livros de uma gráfica, entrega os livros aos livreiros, que são iguaizinhos aos exibidores, nada modernos, bem conservadores etc. Eu fiquei um tempo, até perceber que com a Retomada eu podia voltar e abrir uma empresa, o que aconteceu no final de 96, eu e uma sócia, Antonioli e Amado. Então eu comecei a produzir, só que mais para a televisão.
MCB: Antes de entrarmos especificamente na sua trajetória como produtora, eu queria que você explicasse um pouco, pois há uma dificuldade de entendimento, sobre as diferentes áreas: produção, produção executiva, direção de produção.
SA: No meu entendimento, porque também variam os entendimentos, o produtor puro e simples é a pessoa que leva o projeto, que interfere na concepção, ajuda na preparação e faz a captação. Nesse ponto de vista, eu chamo isso de produtor, pois ele fica no processo inteiro, desde o primeiro encontro com o diretor, que pode ser por um projeto próprio ou um que o diretor trouxe pra ele. Então ele está desde esse nascimento e vai ficar na vida inteira do filme, acaba a produção, ele continua lá, na pós-produção, lançamento e etc., ele está envolvido completamente com o filme. Um produtor executivo, de modo geral, é uma pessoa contratada para preparar um filme para ser filmado, ele é contratado pelo produtor ou pelo diretor. Ele vem para o projeto para preparar o filme, a filmagem e, em geral, o trabalho dele acaba quando acabam as filmagens. Quando entra na montagem, na pós-produção, o produtor executivo, de modo geral, aqui no Brasil, não está mais envolvido no projeto, ainda que haja algumas exceções. O diretor de produção é aquela pessoa que está abaixo do produtor executivo no projeto, ele só está envolvido com as filmagens, ele cuida das filmagens, ele coordena a equipe de produção das filmagens, o platô. Ele faz todos os trabalhos de produção para fazer com que um projeto aconteça, o filme aconteça, seja filmado em tantas semanas etc.
MCB: Você começou essas produções para televisão na época dos trabalhos com o Marco Altberg?
SA: Exatamente, aí eu fui trabalhar com o Marquinhos. Tem uma particularidade: como eu sou mais velha, quando eu comecei eu já tinha uma história, já estava há 20 anos trabalhando nessa área. Então eu opto por trabalhar com pessoas com as quais a relação é boa e prazerosa, e eu adoro trabalhar com o Marquinhos. A gente fez três projetos juntos, foi muito bom: o Mangueira amor que fica, Joana e Marcelo - amor (quase) perfeito, e depois o Metade sexo metade mussarela. Antes do Marquinhos, desde sempre eu estive envolvida nas produções do Murilo Salles, eu estava na Embrafilme na época do primeiro filme dele. Eu sempre estive envolvida no projeto, nas discussões, porque o Murilo é meu amigo histórico, sempre gostei dele como fotógrafo, achava ele um super fotógrafo, acho ele uma pessoa muito inteligente. Eu trabalhei algumas vezes com o Murilo antes do Marcos, e depois concomitantemente com os dois. A gente fez junto uma série para a televisão, na verdade uma série em vídeo, chamada És tu Brasil. São quatro médias-metragens. Foi ótimo, era sobre como os brasileiros eram vistos no exterior. Então, tinha a Débora Colker montando um balé na Alemanha, o Tunga com uma exposição em Marseille, o Herchcovitch, que estava naquele momento querendo entrar no mercado europeu de moda, fazendo em Paris o seu desfile. Depois, peguei o final da produção do Seja o que Deus quiser, finalizamos e lancei o filme.
MCB: E nesses trabalhos você desempenhou aquelas ramificações da produção que explicou anteriormente?
SA: É, eu fazia basicamente produção executiva ou direção de produção. Com o Marquinho eu comecei fazendo direção de produção, o produtor executivo era o José Joaquim, no primeiro, no segundo eu já fiz executiva. O Zé ficou mais na área de direção de arte, e aí depois, no último, eu fiz executiva. Executiva e direção de produção com o Marquinhos. Com o Murilo, sempre produção executiva.
MCB: Seu primeiro grande cartão de visita na produção, e o que é mais conhecido, é o Hércules 56, do Sílvio Da-Rin, não é isso?
SA: Na verdade, antes do Hércules eu fiz o Proibido Proibir.
MCB: Do Jorge Duran?
SA: Do Duran. Enquanto eu estava com o Murilo, eu disse para ele que queria produzir as coisas dele, mas que gostaria também de produzir outras coisas, de outras pessoas. Há muitos anos eu havia conhecido o Duran, porque quando eu saí da Embrafilme fiz um lançamento independente pro primeiro filme dele, A cor do seu destino, que eu adoro. Acho que é um filme atemporal. Apesar de ter o recorte político específico, é um filme que eu acho muito interessante, e naquela ocasião eu gostei muito de ter trabalhado com o Duran, que eu considero uma pessoa legal de trabalhar, interessante, com roteiros legais. Eu procurei o Duran e perguntei se ele não tinha nenhum projeto que a gente pudesse produzir, e ele me apresentou um, naquela época chamado Gabriel, a sombra do edifício. Eu adorei o projeto, achei maravilhoso, e a gente começou a trabalhar em cima dele. Ele tinha outros, a gente desenvolveu juntos um que ele vai filmar agora, um romance policial. Paralelo a isso, ele me contou que inscreveu e ganhou um baixo orçamento para um projeto que veio a ser o Proibido proibir e me perguntou: “Você não quer fazer esse enquanto os outros não saem?”. Então eu fui fazer com ele o Proibido proibir, e aí teve toda uma adaptação porque era um filme de época, dos anos 70, e a gente trouxe para 2005. Aí eu trabalho de produtora, além de produtora executiva.
MCB: Você, como produtora, interfere nos filmes? Na escolha do elenco, por exemplo?
SA: A gente conversa, faz junto, sugere. A Edyr Duque, por exemplo, foi uma sugestão minha. A Maria Flor eu não conhecia. O Duran já tinha ouvido falar, aí a gente conversou, viu e achou que era legal. O Caio Blat foi uma unanimidade entre nós dois. O Silvinho Guidane tinha sido uma sugestão minha, e o Duran também gostava muito, mas acabou que de última hora ele não pôde fazer. Aí o Alexandre Rodrigues veio e foi ótimo, era um outro filme, completamente diferente. Com o Silvio seria um, pois ele é amicíssimo do Caio, já com o Alexandre foi outro. A gente vai fazendo junto, isso é muito bom.
MCB: Tem uma atriz de Belo Horizonte no elenco, a Raquel Pedras.
SA: A Raquel, maravilhosa, ótima.
MCB: Quando eu citei o Hércules 56, eu quis dizer que era seu grande cartão de visita no documentário. Porque a sua trajetória tem enveredado bastante pelo documentário, não é? O Proibido proibir foi algo inesperado ou você decidiu que vai produzir só documentário?
SA: É assim, como eu te falei, eu gosto de dramaturgia. Eu produzi outros de ficção, é uma questão quase por acaso, entendeu? Chegaram outros projetos de ficção que não me interessaram. Os meus projetos pessoais são mais voltados para o documentário, mas as pessoas me procuram e eu vou definindo na relação, ali com o diretor ou com quem está propondo, se me interessa ou não. Na maioria das vezes, eu não me interessei pelos projetos que chegaram. No caso do Duran, eu o procurei porque era dramaturgia, eu queria fazer um roteiro dele. Não deu pra fazer o Gabriel, acabou que no meio do caminho o Cacá Diegues quis fazer, então o Duran foi fazer com o Cacá e acabou fazendo até sozinho. Depois, ele montou um esquema muito bom com o filho dele, a El Deserto, que tem um esquema próprio de produção. Mas eu me interesso muito por ficção também. Eu fiz muito ficção, aliás, o primeiro longa que eu fiz não foi nenhum desses, foi um filme bastante experimental chamado Korda, de um menino muito talentoso chamado Marcos Andrade, que não teve distribuição comercial, mas eu sinto que quem vê gosta bastante.
MCB: Longa?
SA: É, um longa em 35 mm, muito curioso, mas eu mesma tomei a decisão de nem fazer a distribuição comercial. Talvez a gente pudesse ter feito mais percursos de festivais, a gente fez pouco, passou na mostra, passou no Festival do Rio. Eu acho que eu errei nesse ponto, de não ter feito esse filme circular mais. Porque é um filme bastante interessante. Recentemente, eu fiz um documentário, o Transcendendo Lynch, que é do mesmo diretor. A Júlia Martins, que era assistente de montagem no Hércules 56, é uma menina muito interessante e muito inteligente. Daí eu chamei-a para montar o Transcendendo Lynch, ela topou, e eu sugeri que ela fosse uma codiretora junto com o Marcos.
MCB: E eu queria que você falasse um pouco sobre o Hércules 56, que é um filme de vulto no formato, foi muito discutido.
SA: Eu acho que o Hércules 56 era um filme de que a gente precisava. Eu já conhecia o Silvio há muitos anos e nos reencontramos num Festival do Rio, talvez de 2004, 2005. A gente conversou bastante, ele tinha feito médias-metragens muito interessantes, mas há muito tempo ele não fazia. Ele tinha alguns projetos, inclusive um que ele fez depois, esse dos Sertanistas. Tinha uma história de fazer um filme sobre o Golbery, discutimos um pouco, mas estava todo mundo já morto, teria que ser um documentário só de depoimentos de historiadores. Quando surgiu a ideia do Hércules, a gente embarcou junto e foi ótimo. O Silvio é super rigoroso no trabalho, ele conhecia bastante o assunto, foi ótimo trabalhar com ele, com as dificuldades que também o rigor traz e as personalidades. Eu tenho uma personalidade completamente diferente da dele, tem os choques de personalidade e tal, mas foi muito legal trabalhar com ele. E também com a equipe que se formou especialmente na pós-produção: eram três mulheres e o Silvio, porque era a Joana Nin, que era assistente de direção dele, eu e a nossa maravilhosa montadora Karen Harley. Nós discutimos ali na montagem e o tempo todo foi tudo super trabalhado, a maneira como o filme foi concebido, montar uma mesa com as pessoas que fizeram o sequestro, pegar os sobreviventes dos que foram trocados, essa maneira como a gente contrapôs. Conversamos muito, tudo foi super discutido, super comentado, e foi feito de uma maneira muito rápida. Acho que em um ano e pouco a gente já estava com o filme pronto, pra ser mostrado em Brasília, no encerramento do Festival. Foi ótimo, foi muito bom trabalhar, e muito bom a gente perceber depois que aquele rigor que o Silvio estabeleceu durante a preparação, na montagem, foi reconhecido não só por quem fez e viveu aquele período, como também por quem não era nascido, não viveu, mas queria entender esse lado da nossa história. Há livros legais sobre o tema, mas os filmes, no meu ponto de vista, que vinham sendo feitos até então sobre esse assunto, eram num viés muito particular, num recorte muito pessoal de cada pessoa, muito da vivência delas. Então eu acho que o Hércules 56 tem esse diferencial. O Silvio tinha uma carga emocional em relação a isso, mas a maneira como o filme é feito, dando voz e sem interferência de narração... Ali não tem nenhum historiador falando, nenhum crítico falando, são as pessoas falando da sua vivência, aquele encontro ali, na mesa das pessoas que fizeram o sequestro, as visões e os diálogos... Havia pessoas ali que não se falavam e não se viam, desde então, isso foi muito rico, foi muito legal.
MCB: E como acontece o Vou rifar meu coração?
SA: Depois que a gente lançou o Hércules 56, a Ana (Rieper, diretora do filme) me procurou. Ela tinha visto o Hércules e gostado muito, esteticamente, da maneira como ele havia sido feito, o rigor, a imagem, a produção como um todo. Ela me procurou e me propôs o filme. Meu pai é sergipano, eu sempre gostei de música romântica, sempre, eu era tiete de Márcio Greick, eu via todos os programas, adorava, sempre gostei. Aí eu adorei a ideia de ser em Sergipe, de ser nesse Estado que é meio invisível para o Brasil, ninguém sabe muito bem, e com essas pessoas. E reencontrar ali Capela, Itabaiana, essas cidades pelas quais eu passei a minha vida ouvindo falar, entendeu?, e não conhecia. Eu adorei e a gente foi trabalhando. A Ana já tinha esse projeto há muito tempo e ela é muito rigorosa também, sabe muito o que quer. Eu a achei uma pessoa interessante e consistente, muito consistente. É como te disse antes, as pessoas te propõem e às vezes você não embarca, ou pela inconsistência ou porque o assunto não te interessa. No caso, não só o assunto me interessava, como a Ana era muito consistente.
MCB: Foi uma produção difícil de se colocar de pé?
SA: Não. Assim, a gente preparou, formatou, a Ana me deu textos e mais textos, me deu informação, preparamos. Eu acho que demorou um pouquinho, a gente botou no edital e saiu a Petrobras. E aí, para botar de pé, a gente já estava muito presente quando a Petrobras saiu. A gente viu o tamanho do filme que tinha que fazer: “Vamos fazer desse tamanho, com tantas semanas de filmagem, desta maneira”. A gente achou esse casal maravilhoso, a Ive e o Rafael. Não foi difícil, foi maravilhoso ter encontrado esses personagens tão ricos, e tem outros que não estão no filme e que são bem ricos também. Eu diria que a parte que deu um pouquinho mais de trabalho talvez tenha sido a dos nossos artistas, conseguir entrevistá-los, conseguir agenda, ir no lugar deles. No caso do Nelson Ned, eu o trouxe para o Rio de Janeiro, e ele está frágil. Mas deu tudo muito certo, sabe, as pessoas toparam. O que não ia dar certo a gente já tirou de cara, tipo não vai dar certo, não vamos fazer. A gente queria fazer o Reginaldo Rossi, não deu, então a gente foi limpando a área, sabe, aí deu. Foi muito bom, uma equipe pequena, sempre falamos sobre isso. Vamos fazer uma equipe bem pequena e que esteja bem ligada ao projeto. A equipe ficava numa van, tocando o filme pela estrada, com equipamentos muito leves e tudo, nada de muita luz. Um parêntese: em 2005/2006, eu fiquei muito amiga de um documentarista, um polonês que mora nos Estados Unidos. Enquanto vivia na Polônia, ele fazia ficção, mas depois que se mudou, sei lá há quantos anos, ele só fez documentários. Ele não usa um pó de luz e a imagem dos documentários dele é linda, eu sou fã, chama-se Slawomir Grunberg. Ele tem filmes bastante premiados e nenhum tem luz artificial. Daí eu dizia para o Manoel Alves e para a Ana que a gente podia fazer o filme sem luz. Por que fotógrafos gostam muito de um parque de luzes e tal, não é? A gente foi conversando e chegamos a um mínimo comum e possível, porque estamos invadindo a casa das pessoas. A maneira como a gente entrou nisso tudo foi facilitada pelo pouco equipamento que a gente usou, pela pouca quantidade de luz, fizemos lá umas gambiarrinhas, que eram mais fáceis de colocar. Inclusive, a gambiarra está no circo (que aparece no filme), demos de presente para o circo. Acho que foi pensado de uma maneira bem simples, bem fácil de fazer e muito prazeroso.
MCB: Você já está envolvida em novos projetos?
SA: Paralelamente a isso, eu continuei fazendo televisão. Eu tinha feito há 12 anos, aqui em Tiradentes, uma produção pra TVE que era um misto de cinema e televisão. Filmamos em Super 16, eu fui convidada para produzir, era A Turma do Pererê, do Ziraldo. E aí, dez anos depois, a diretora me chamou novamente para produzir e eu passei dois anos e meio produzindo A Turma do Pererê, que está no ar na TVE. Foi um projeto, esse sim, muito difícil, muito complicado. Não fizemos em Tiradentes, fizemos lá na região de Rio das Flores, por ali. Foi muito complicado, muito desgastante, eu saí muito cansada (risos). Eu fiquei muito absorvida com isso tudo e preparei poucos projetos para diante. Eu estou vivendo neste momento essa questão, estou com um filme pronto e, normalmente, eu já teria um ou dois engatilhados. No meio do caminho eu resolvi fazer uma outra coisa. Em 2005, eu fui a um festival chamado FICA, em Goiás, festival de filmes ambientais, e me apaixonei, fiquei fascinada. É um universo novo e eu fiquei também querendo fazer um festival de filmes ambientais. Daí comecei a preparar e, finalmente, consegui fazer no ano passado, chama-se Filme Ambiente. Não é o formato do FICA, não são milhares de filmes, eu não quero milhares de filmes, eu quero fazer poucos filmes e ótimos filmes. Esse é o formato que eu persigo e pretendo fazer, espero que a gente consiga continuar fazendo. É um festival que tem 12 longas, 24 curtas e algumas mostras paralelas. Eu quero sempre trazer os diretores para discutirem seus filmes com a plateia brasileira, então esse é o formato. Eu gostaria de continuar fazendo e isso toma muito tempo. Eu tenho alguns projetos sim, eu tenho um com a Ana que se chama Natureza feminina.
MCB: As únicas duas perguntas fixas da entrevista: primeiro, qual foi o último filme brasileiro a que você assistiu? E a segunda, qual a mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você quer deixar registrada na sua entrevista como uma homenagem?
SA: Na Mostra São Paulo eu vi um filme de que eu gostei muito, um documentário sobre o Marighella. Mulher do cinema, quem encantou a minha adolescência e pré-adolescência como atriz foi a Norma Bengell. Aliás, são duas. Quanto à Norma Bengell, eu adorava ela, achava ela maravilhosa, dizia tipo assim: “Quando eu crescer, quando eu for gente, eu quero ser igual a ela”. A outra era a Darlene Glória, porque quando eu vi o Toda nudez será castigada, do Arnaldo Jabor, eu fiquei enlouquecida, achei genial, entende? É isso.
MCB: Muito obrigado pela entrevista.
Entrevista realizada na 15a Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2012.
Veja também sobre ela