Fauzi Mansur é mesmo um cineasta que merece ser mais comentado. Não só em relação aos seus pares dentro do modelo de produção da Boca do Lixo, mas no cinema brasileiro como um todo. Há uma elegância na forma como filma e apresenta seus personagens, que o torna quase único na Boca nesse registro. E há ainda um viés existencialista muito perceptível em seus filmes, que vai desaguar com toda a sua força no seu maior momento, A noite do desejo (1973). Os planos são pensados, nunca atirados a esmo. A fotografia não tende a realçar o mostrado, mas embuti-lo de significados, que, muitas vezes, não estão nas falas e nem na ação, mas dentro da persona daqueles homens e mulheres que trouxe à cena. E isso já está em seus primeiros filmes, como Sinal vermelho: as fêmeas (1972), que marcou a estreia de Vera Fischer no cinema.
Em Sinal vermelho: as fêmeas vemos um Sérgio Hingst – um dos atores mais interessantes do nosso cinema - sisudo, ofendido e dissimulado. O motivo ele conta para a esposa, a lindíssima Marlene França: “A firma ganhou muito dinheiro, inclusive às minhas custas, e agora eles, a diretoria, resolvem fechar o negócio, e eu, como fico?” É aí que resolve aplicar um grande golpe contra os ex-parceiros e para isso contrata uma turma da pesada chefiada por Ozualdo Candeias e com a presença de um David Cardoso em crise. Depois do roubo, ele coloca todos em uma casa de praia a fim de que a poeira abaixe. Ficam lá a esposa, a filha, Vera Fischer, e o bando – além de Candeias e Cardoso, Roberto Bolant, Enoque Batista. O que seria apenas um esconderijo vira uma bolha de alta combustão, inclusive sexual. E, mas que isso, nada é tão preto no branco como aparenta. Sinal vermelho: as fêmeas é filme policial jamais rasteiro, e não muito simples de acompanhar, já que vai e volta em sua narrativa, exigindo atenção da plateia. Fauzi Mansur não facilita o jogo ao público de seu cinema popular, aposta, acertadamente, na sua inteligência.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Longas Brasileiros assistidos em 2016 (006)