São inúmeros os filmes brasileiros que, parece, entraram num buraco negro e ficaram anos-luz de distância do público, pelo menos o atual. Como é o caso de O predileto (1975), primeiro longa do diretor paulista Roberto Palmari, ainda que premiado como Melhor Filme, Ator, Roteiro e Fotografia no Festival de Gramado, e também pelo INC e pela APCA – o episódio As três virgens do longa Contos eróticos (1976) e Diário da província (1977) são seus outros filmes. Nada mais injusto, pois O predileto é filme vigoroso desse que foi um dos homens da história da televisão brasileira – foi um dos fundadores da TV Excelsior, com passagem importante também pela Tupi. E só por ter dado o protagonismo para o notável Joffre Soares, como outros cineastas espertos também fizeram em filmes ótimos naqueles anos 70, como George Sluizer em A faca e o rio (1972), Luiz Paulino dos Santos em Crueldade mortal (1976), Carlos Diegues em Chuvas de verão (1977, e Osvaldo de Oliveira em O caçador de esmeraldas (1978)), já seria uma bola dentro. O filme é uma adaptação do romance Totônio Pacheco, de João Alphonsus, com roteiro de Palmari e do genial Roberto Santos.
Em O predileto Joffre Soares é o velho autoritário, machista e irascível coronel Pacheco. Com a morte de sua esposa, seu filho Othon Bastos retorna à velha fazenda para um áspero reencontro com o pai. Convencido a passar alguns dias na cidade, sobretudo pelo amor que tem pelo neto, o coronel encontra na casa do filho a oposição da nora Célia Helena, que mal suporta a presença do sogro e está interessada mesmo é na herança que poderá receber. No asfalto, a única companhia que encontra, além do neto, é do vigia de obra Abrãao Farc, até que conhece a casa da cafetina Wanda Kosmo e se encanta com Suzana Gonçalves, a prostituta Coló. O velho Pacheco é um homem rude de outros tempos, com frequência exalta seu orgulho do avô escravagista e de como derrubou sua primeira “negrinha” e virou homem. E é esse seu mundo sem docilidades que se choca até mesmo com o mundo miserável e ordinário das prostitutas da mãezinha Kosmo. Dentre elas, a Coló de Suzana Gonçalves, em maravilhosa atuação – com um aparente desleixo de composição alcançado com rigor - de uma atriz que abandonou a carreira artística para retomá-la só muitas décadas depois. O predileto conta com grandes atuações femininas, como a amarga e moralista de Célia Helena, a voluptuosa empregada ofendida de Ruthinéa de Morais – tenho paixão por essa atriz -, e a mercantilista cafetina de Wanda Kosmo. Mas é na dobradinha Joffre/Suzana que o filme atinge fervura máxima. O predileto é filme que merece ser mais conhecido.
domingo, 10 de janeiro de 2016
Filmes Brasileiros assistidos em 2016 (011)