Ano 20

Volta de Jerônimo no sertão dos homens sem lei, A, 1981, Agenor Alves

Jerônimo, do sertão à Boca do Lixo

O baiano radicado em São Paulo Agenor Alves fez história. Afinal, é o cineasta negro que, até agora, mais dirigiu longas no cinema brasileiro, só perdendo para o pioneiro Cajado Filho, carioca que nas décadas de 1940 e 50 dirigiu cinco. Agenor Alves subiu ao pódio em lugar mais alto, pois dirigiu sete: Tráfico de fêmeas (1978), Noite de orgia (1980), A volta de Jerônimo no sertão dos homens sem lei (1981), As prisioneiras da ilha do diabo (1981), A cafetina de meninas virgens – O kapanga (1982, codireção de Guilermo Vera), Lídia e seu primeiro amante (1982), Eu matei o Rei da Boca (1987). Depois de atuar, estreia como cineasta em Tráfico de fêmeas, e a partir daí dirige filmes eróticos, aventura e policial.



Em A volta de Jerônimo no sertão dos homens sem lei nosso herói, Antônio Fonzar, acabou de chegar da cidade com a esposa a tiracolo, Fátima Celibrini, para a lua de mel em sua fazenda. Só que a moça resolve passear pelas terras, encontra uma gangue de bandidos, que a estupra e mata. Os ladrões estavam a caminho de um golpe no fazendeiro vizinho de Jerônimo, chefiados pelo homem de confiança do ingênuo patrão, Hélio Souto na pele de um cigano, que foi entregar o gado em um matadouro, mas com a intenção de botar a mão na grana e dividi-la com seus comparsas. Com isso, Jerônimo sai no encalço deles para vingar a morte da esposa, acompanhado do fazendeiro e amigos da região, que tentam reaver o dinheiro e também fazer justiça. Aqui nesse filme é melhor esquecer Cerro Bravo, Moleque Saci, Aninha, e todo aquele ar juvenil do seriado da Tupi – para quem é da época – de Jerônimo, o herói do sertão (1972/73), protagonizado por Francisco di Franco e Canarinho – e mesmo o longa homônimo dirigido por C. Adolpho Chandler em 1972. Pois imagina se um dia algum espectador da época iria imaginar Jerônimo todo dengoso na cama com a esposa – que não é sua mítica noiva Aninha do seriado e do primeiro longa-, em filme com cenas de sexo e salpicado de nudez dos mais diferentes quilates? O argumento e o roteiro são assinados pelo próprio Agenor Alves, mas o que ele fez mesmo foi se apossar, do seu jeito. do lendário herói do campo para fazer um filme de aventura sim, mas, como é produção de um dos filões mais rentosos da Boca do Lixo, aproveitar cada situação para tirar a roupa das moçoilas – e aí vale tanto uma cena esdrúxula na zona da cidade ou até as bem filmadas cenas de sexo entre Fonzar e Celebrini, e também entre Souto e sua parceria. Aliás, os grandes destaques são a câmera e a fotografia espetacular de Pio Zamuner, realmente um mestre na captação daquele universo rural – pena que a trilha sonora onipresente fique o tempo todo querendo destruir o mostrado, já que não se cala um só momento. Esse filme é um exemplo inconteste de como todo o universo possível de gênero e subgênero, trama e situações, foi reapropriado pelos produtores e diretores da Boca do Lixo. Mesmo que na cara dura como foi nesse A volta de Jerônimo.


sábado, 16 de janeiro de 2016

Longas Brasileiros assistidos em 2016 (015)



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Sala 
 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.