Ano 20

Vida de menina, 2004, Helena Solberg

Ludmila Dayer brilha no filme

Exibido na 8a  Mostra de Cinema de Tiradentes, Vida de menina é o primeiro longa de ficção da documentarista Helena Solberg, que acompanhou a exibição ao lados dos atores Lolô Souza Pinto e Camilo Bevilacqua, e do produtor David Meyer.  

Em entrevista ao Mulheres, Helena Solberg confessa que foi muito difícil levar o livro O diário de helena morley para o cinema. A cineasta descobriu o livro através de pesquisa sobre a poetisa americana Elizabeth Bishop, tradutora do diário. Helena conta que quando Bishop chegou ao Brasil e pediu uma indicação de livro brasileiro para  Rubem Braga ele prontamente  indicou o Diário. Helena Solberg também ficou fascinada, porém, por não ser literatura, mas impressões episódicas, sabia que o desafio para levá-lo ao cinema seria grande. 

A cineasta convidou Elena Soares e as duas assinaram o roteiro, que acabou  premiado com o Kikito no Festival de Gramado. Os outros prêmios no Festival foram para Melhor Filme, Fotografia (Pedro Farkas),  Trilha Sonora (Wagner Tiso), Direção de Arte (Beto Mainieri)  e Júri Popular. 

Foi realmente uma pena a atriz Ludmila Dayer não receber o prêmio de Melhor Atriz no Festival, apesar da premiação ter sido justa e contemplado os talentos de Ruth de Souza e Léa Garcia, duas das mais importantes atrizes das artes cênicas do país, pelo filme Filhas do vento, de Joel Zito Araújo. O que se há para se lamentar em relação à Ludmila Dayer é porque ela é a alma de Vida de menina. A atriz desempenha com brilho o papel de Helena Morley, uma garota que registra em um diário as suas impressões e vivências na cidade mineira de Diamantina logo após a aboliçao da escravatura e a proclamação da República. 

Helena Solberg contou também que talvez Ludmila não seria apropriada para interpretar a personagem título devido à idade, fato pelo qual muitos discordaram dessa sua primeira opção. Felizmente, como ela tinha ainda a imagem de Ludmila criança no filme Carlota Joaquina, princesa do Brasil, de Carla Camurati, ela insistiu em escala-la, em um caso de acerto completo entre intérprete e personagem. A atriz sequestra os nossos olhos, seja contracenando com a doce e protetora avó, com a tensa e melancólica, mas afetuosa mãe, ou ainda com as demais personagens do filme. 

Vida de menina é mais um acerto na carreira cinematográfica de Ludmila Dayer. Os outros dois grandes momentos são em Carlota Joaquina – princesa do Brasil (1995), de Carla Camurati, e no episódio Diabólica, de Cláudio Torres, do filme Traição (1998). 

Para viver Carolina, mãe de Helena, a diretora escalou Daniela Escobar. Revelada para o grande público como a Maysa da novela O clone, de Glória Perez – apesar de ter no curriculo trabalhos anteriores- , a atriz faz estreia apropriada no cinema brasileiro. Daniela Escobar dá o tom correto para a personagem, uma mulher que foi rica, mas agora empobrecida, apaixonada pelo marido e entristecida pela atual condição. 

Maria de Sá é Teodora, a avó protetora de Helena. Com mais dois filmes no curriculo, As alegres comadres (2003), de Leila Hipólito, e Copacabana (2003), de Carla Camurati. A atriz encarna a avó mítica de todos nós, o que possibilita uma identificação imediata com a plateia. 

Em contraponto às demais personagens está Iaiá, a tia esnobe e egoísta interpretada por Lígia Cortez. Filha de Raul Cortez e da saudosa Célia Helena, Lígia é uma atriz que não nega o talento dos pais. Com cerca de seis filmes no curriculo e algumas novelas, Ligia Cortez brilha também no teatro – sua atuação em Cacilda!, de José Celso Martinez Correia, é inesquecível. Ainda está faltando na sua carreira cinematográfica um filme que explore todo o seu talento - A causa secreta (1994), de Sérgio Bianchi é um de seus bons momentos. A atriz Lolô Souza Pinto completa o elenco como a inglesa Tia Madge.  

No elenco masculino estão as boas presenças de Dalton Vigh como o pai de Helena, Alexandre; Camilo Bevilacqua, como o tio Geraldo, e Benajmim Abras como o professor Teodomiro. 

Helena Solberg, uma das nossas poucas cineastas que surgiram nos anos 1960, estreou com o curta A entrevista, em 1966, uma crítica sobre as cariocas de classe alta. A partir dos anos 70 se radica  em Nova York, onde dirige vários documentários. Em 1995 realiza o belo Carmen Miranda: bananas is my busines, uma co-produção Brasil/Estados Unidos.  

Ainda na ficha técnica, as presenças de Marjorie Gueller no Figurino e Diana Vasconcelos na Edição. 

Vida de menina
Brasil, 2004. Direção: Helena Solberg

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Sala 
 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.