Ano 20

Contra todos, 2004, Roberto Moreira

Família suburbana em crise em trama mortal

O roteiro é mesmo uma peça fundamental em qualquer filme, e não é a tôa  o impacto que temos ao assistir trabalhos de cineastas como Beto Brant, Eliane Caffé e Tata Amaral e suas ótimas parcerias com roteiristas como Marçal Aquino, Luiz Alberto de Abreu, Jean-Claude Bernardet e Roberto Moreira. Esses dois últimos escreveram o roteiro do ótimo Um céu de estrelas, longa de estreia de Tata Amaral, uma das mais importantes diretoras do cinema brasileiro. Agora, Moreira estreia na direção de longas com Contra todos

Roberto Moreira é um bom roteirista e revela-se também um diretor de fôlego. O universo de Contra todos é o mesmo de Um céu de estrelas: a periferia violenta e quase sem escapatória das grandes cidades. Tata Amaral é um nome maior e na estreia de Moreira como diretor de longa fica evidente o quanto Tata acrescenta com sua direção a um roteiro bem escrito e amarrado, como foi o caso de Um céu de estrelas. No caso de Contra todos, Moreira assina o roteiro e a direção, e as diferenças entre os dois filmes se evidenciam, com ganho de causa para o primeiro.  Além da temática, Roberto Moreira  toma caminho parecido com o de Tata, inclusive na escalação do elenco, com nomes pouco conhecidos do público, mas com talento de sobra. 

Contra todos se passa na periferia de São Paulo, onde uma família suburbana em crise se defronta, a partir de um assassinato, com uma trama inesperada e mortal. Para dar voz a esses personagens, Roberto Moreira escalou um interessante elenco. Na ponta, a maravilhosa Leona Cavalli, protagonista de Um céu de estrelas e presença marcante em filmes como Amarelo manga e Olga. Leona Cavalli é uma das mais bem-vindas revelações do cinema. Com carreira importante e premiada no teatro, Leona vem construindo uma carreira impecável nas telas, com sua beleza personalíssima e talento inquestionável. A atriz possui uma máscara forte que revela e esconde, escancara e interioriza as mais densas emoções e/ou perturbações delas – a cena em que mostra a genitália em Amarelo manga, de Cláudio Assis,  é inesquecível, porque provocativa, dolorosa e com pitadas generosas de escárnio. 

Em Contra todos, Leona Cavalli é Cláudia, segunda mulher do matador Teodoro e madastra  de Soninha, interpretada pela atriz Silvia Lourenço. Silvia também está muito bem no filme e foi vencedora do prêmio de Melhor Atriz no Festival do Rio 2004. Sua composição para a filha adolescente que ama e apanha do pai e despreza a madrasta é um misto de independência, rebeldia e carência. A outra personagem feminina de destaque no filme é Terezinha, a namorada evangélica de Teodoro, interpretada com sensibilidade por Martha Meola. 

Paula Pretta como Claudete, Laís Marques como Regina e Neusa Velasco com a mãe de Terezinha são as outras atrizes do filme. Já  no elenco masculino sobressaem Giulio Lopes como Teodoro, e, sobretudo, Ailton Graça como Waldomiro, ator em ascensão no cinema brasileiro. 

Na ficha técnica de Contra todos há uma grande presença e mulheres: Mirella Martinelli na Montagem; Joana Porto e Marjorie Gueller na Direção de Arte e Figurino; Geórgia Costa Araújo na Produção Executiva; Aurea Gil na Direção de Produção, Júlia Pacheco Jordão na Assistência de Direção; Anna Van Steen na Maquiagem de Efeito; Sílvia Hayashi na Finalização 

Contra todos foi o grande vencedor do Festival do Rio 2004, tendo recebido os prêmios de Melhor Longa Brasileiro de Ficção pelo Júri Oficial e Melhor Atriz para Sílvia Lourenço. Exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim, Contra todos foi premiado também no Festival Internacional de Hong Kong, no Festival de Pernambuco, no Festival de Belém e foi convidado para ser exibido em festivais de vários países: Estados Unidos, Filipinas,, Alemanha, Irlanda, Canadá, Austrália, França, Noruega, Itália, Suécia, Suíça, Espanha e Cuba. 

 
Contra todos
Brasil, 2004, 1h33. Direção: Roberto Moreira

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 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.