Ano 20

Cão sem dono, 2007, Beto Brant e Renato Ciasca

Filme revela Tainá Muller

Beto Brant é a grande revelação – ao lado de Tata Amaral e Eliane Caffé – do Cinema da Retomada. Seu cinema é vigoroso, com uma estética crua e suja. Depois dos impactantes Os matadores (1997), Ação entre amigos (1998) e O invasor (2002), Beto Brant surpreendeu com o belo Crime delicado (2005). E, agora, volta a surpreender novamente com Cão sem dono (2007).

Em Cão sem dono ele divide a direção com o parceiro Renato Ciasca, produtor de seus três primeiros filmes, e com quem dividiu a direção no trabalho de conclusão do curso de cinema, o curta Aurora, em 1987. Se em Crime delicado, adaptado de Sérgio Sant´Anna, Beto Brant realizou um filme com forte acento teatral, em Cão sem dono, ele e Ciasca apostam verticalmente no naturalismo.

O filme foi realizado em Porto Alegre, em parceria com produtores locais, com atores locais. O roteiro é também adaptado de livro de escritor local, Daniel Galera, autor de Até o dia em que o cão morreu, e foi assinado por Brant, Ciasca e o parceiro habitual Marçal Aquino. 

Ao apostar nos talentos do sul, Brant e Ciasca trouxeram à cena ótimos atores, tanto os protagonistas quanto os coadjuvantes. Júlio Andrade e Tainá Muller compõem com brilho o casal de amantes Ciro e Marcela; ele um tradutor em crise; ela uma aspirante a modelo. O encontro entre esses personagens ocupa 100% por cento do filme, com cenas quase sempre entre as quatro paredes do apartamento em que eles conversam, transam, discutem, cantam e riem. 

Júlio Andrade é quase veterano, com curtas e longas no currículo desde o final dos anos 1990, em filmes de diretores como Jorge Furtado e Carlos Gerbase. No entanto, Ciro é o seu primeiro protagonista. Ele está ótimo em cena, com a dose exata para todas as nuances do personagem, que vai do mais profundo desalento até a alegria profunda do enamoramento.

Cão sem dono revelou o talento de Tainá Muller, atriz e modelo gaúcha que faz a estreia no cinema. Em princípio, Tainá ia ser assistente de direção no filme, mas acabou, por fim, por conquistar o papel principal. Sua escalação foi um acerto dos diretores, e isso pode ser visto no filme de ponta a ponta.

Tainá Muller empresta à Marcela uma composição naturalista em tom exato, dando um acento de improvisação adequado ao filme, mesmo que percebamos o tempo todo a mão da direção. Sua parceria com Júlio Andrade funciona nas diferentes passagens da história, e é bonito vê-los transando e conversando ao pé do ouvido, ou quando entoam belo número musical – ela cantando e ele tocando violão. A intimidade salta da tela, dando veracidade aos encontro/desencontro de seus personagens.

A escalação de atores acertou também nos coadjuvantes: Luiz Carlos Coelho, Marcos Contreras, Roberto Oliveira, Sandra Possani. 

O único senão do filme seja talvez a conclusão um tanto quanto apressada (no caso da personagem Marcela), estado de coisas que não se vê durante todo o filme. 

Cão sem dono recebeu três prêmios no Cine-PE – “Melhor Filme”, “Melhor Atriz” (Tainá Muller) e Prêmio da Crítica; e o de Melhor Atriz (Tainá Muller) no Festival de Cuiabá. Depois da repercussão de seu trabalho, Tainá Muller acabou de estrear em novelas, em Eterna magia, da Globo.

Cão sem dono tem produção de Bianca Vilar e figurino de Marisa Carboni.

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Sala 
 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.