Amor Segundo B. Schiamberg, O, 2009, Beto Brant
Entre quatro paredes
Felipe Bragança, um dos nomes mais talentosos da nova geração do cinema, botou um nome quilométrico em seu primeiro longa: A Fuga, a Raiva, a Dança, a Bunda, a Boca, a Calma, a Vida da Mulher Gorila. É divertido, mas acabou ficando, pelo menos para muita gente, abreviado em A Fuga da Mulher Gorila. Títulos longos ou complicados normalmente dão preguiça e são difíceis de assimilar - como aqueles gigantescos da cineasta italiana Lina Wertmuller nas décadas de 1970 e 80. E é péssimo para a divulgação boca a boca, pois é difícil se lembrar deles. Como esse novo O Amor Segundo B. Schianberg, de Beto Brant, que não á toa tem gente chegando na bilheteria do cinema e pedindo ingresso do Amor segundo alguma coisa. Beto Brant integra um grupo de cineastas vigorosos revelados nas décadas de 1980 e 90 e formado por nomes como Tata Amaral, Eliane Caffé, Cláudio Assis, Marcelo Gomes, Karim Aiñouz, Fernando Meirelles, Lais Bodanzky, Anna Muylaert, Lírio Ferreira e Paulo Caldas. Depois de filmes duros e pra fora, como Os Matadores, Ação Entre Amigos e O Invasor, ele deu uma guinada e vem apresentando filmes pra dentro como Crime Delicado, Cão Sem Dono e esse novo trabalho. E do pra fora para o pra dentro saem as locações externas e a violência social, e entra muito de teatro e de dramas intimistas. É como se depois de falar do que acontece com seus personagens pela pressão e impacto do externo, Brant mirasse sua lente agora para a pressão e o impacto que está dentro de nós mesmos e que é colocado em cheque e/ou em redenção no encontro intimíssimo com o outro.
Nesse novo filme ele colocou uma artista plástica e videomaker, Marina Previato, e um ator, Gustavo Machado, em um apartamento e instalou uma pá de câmeras. E ainda incorporou o personagem B. Shianberg, que no livro de Marçal Aquino é um psicanalista que observa e reflete sobre comportamento amoroso a partir da realidade. É a estética dos reality show, só que aqui sem confinação total, sem competição por um milhão e meio, e sem Bial e Britto - para ficarmos nos da hora. E interfere pouco, deixando para o casal o protagonismo não só da história mas muito do rumo dela. Nessa nova rota, Brant fez o impactante Crime Delicado, que dói e faz incômodo no coração e na coluna, e o belo Cão Sem Dono, que excita em voyerismo. Mas se em Cão ser voyer não dispensava a cumplicidade com aqueles personagens de Tainá Muller e Julio Andrade, aqui ficamos quase mesmo só nessa função de olhar sem entrar muito naquilo tudo. E ainda que há momentos belos, no geral teima uma sensação de O que tenho a ver com isso? Originado de minisserie da TV Cultura - e ali deve ter tido mais impacto pela estética incomum na telinha - no cinema O Amor Segundo B. Schianberg não seduz tanto. Talvez por causa da TV há um pudor sexual inesperado no cinema de Brant. E filme que se passa entre quatro paredes e com temática amorosa/sexual mas não mostra, ou melhor esconde, partes íntimas, denota um certo controle que trai um tanto o mote inicial. Mesmo que o controle, ou pelo menos uma espécie dele, esteja em sua gênese.
quinta-feira, 11 de março de 2010longas brasileiros em 2010 (61)
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