Ano 20

Mundo: Mercado do Sexo, 1978, José Mojica Marins

O universo único e personalíssimo de Mojica

O talento e o estilo de José Mojica Marins são únicos, e quando assistimos a seus filmes há um clima de perturbação que permeia não só suas tramas como também a ambiência de quem os assiste. E ele filma como ninguém, como já se vê numa das primeiras cenas desse Mundo: Mercado do Sexo, em que um caminhão pipa está lavando a rua. Há um estranhamento ali, com o personagem de Mojica se desvencilhando da água, mas que nos faz pensar que por um triz ele também não seria extirpado por aquele jato aparentemente inocente, mas ameaçador E, mais que isso, por mais estranho que possa parecer, esse prólogo já instala um certo tipo de medo, não o do terror habitual dos filmes dele, mas um medo mais subterrãneo, como a adivinhar que nada será igual, como fará supor o personagem. 

No filme, Mojica é Mauro, um jornalista que precisa desencavar uma grande matéria para ser a capa do dia seguinte e que garantirá à sua família a festa natalina. É véspera de natal, e ele sai de casa deixando o filho dormindo e a mulher fazendo figa para que tudo dê certo. Só que por mais que ande e cruze com inúmeros personagens, ele só constata que tudo está igual, sem saber que cada um daqueles que cruzaram seu caminho protagonizará histórias que nada têm de normais. E, mais que isso, ele mesmo não protagonizará uma história normal. Outra cena marcante do filme e do talento do cineasta, que tem roteiro do parceiro genial Rubens E. Lucchetti, é quando ele, com as duas mãos na cabeça, grita exasperadamente que "tudo é igual". Grita e grita e grita. E a exasperação não toma conta apenas dele, mas também de nós, do lado de cá da poltrona. E se algum incauto ainda não tinha se convencido, essa sequência por si só nos mostra que estamos de frente para um cineasta realmente talentoso e singular. Dos mais originais do cinema brasileiro.

domingo, 28 de fevereiro de 2010
longas brasileiros em 2010 (51)


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 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.