Padre e a Moça, O, 1966, Joaquim Pedro de Andrade
Obra-prima de Joaquim Pedro
O ser mineiro, mesmo o da capital, pode até sacolejar nos inferninhos e chafurdar nas facilidades do mundo contemporâneo, mas ainda assim estará, internamente, para sempre marcado pelo cerceamento das montanhas e pelo eco dos cantos sacros na alma. Ainda que carioca, mas com família mineira, Joaquim Pedro parecia estar imbuído desse estado ao fazer seu primeiro longa de ficção, esse belo O Padre e a Moça. Já na primeira cena, quando vemos o padre caminhando no lombo do cavalo e o canto rebatendo nas rochas, sabemos o quanto há de aldeia ali, e, portanto, o quanto de universal.
Inspirado em poema de Carlos Drummond de Andrade, "Negro Amor de Rendas Brancas", o filme começa com um padre que chega a um vilarejo em Minas Gerais para dar a extrema-unção ao padre do local e tomar o lugar deste. Lá, se vê em clima sufocante onde beatas pontuam um universo por onde desfilam maledicência e castração sob o jugo poderio de um coronel dos diamantes diminutos. É lá também que encontra um bela jovem, com o qual viverá a fúria do desejo e da punição. Com um elenco em estado de graça - Paulo José, Helena Ignez, Mário Lago e Fauzi Arap - e uma fotografia existencial, O Padre e a Moça é um filme de silêncios profundos e triste. Não da tristeza grandiloquente, mas daquelas que se instalam no peito devagar para desconforto ancestral.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010longas brasileiros em 2010 (42)
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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
longas brasileiros em 2010 (42)