Ibraim do Subúrbio, O, 1976, Astolfo Araújo e Cecil Thiré
Inesquecível José Lewgoy
São muitos os exemplares de filmes em episódios no cinema brasileiro, sobretudo nos anos 1970. Por esse formato já passaram alguns dos nossos mais notáveis cineastas, como Roberto Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Luiz Sérgio Person e Carlos Reichenbach. E, quase sempre, os episódios de um mesmo longa podem ter resultados muito desiguais. Não é totalmente o caso desse O Ibraim do Subúrbio, que focaliza personagens que sacolejam no velho e bom trem da central do Brasil. Pois ainda que Roy, O Gargalhador Oficial seja bem aquém do segundo e que dá título ao filme, há nele uma inquietação que interessa sempre. Roy é um morto de fome que encara os mais diferentes bicos para sustentar a família, quase sempre alimentada de ovos roubados do vizinho. Até que arruma um trabalho como gargalhador em um programa de auditório. É como se o neo-realismo italiano tivesse sido filtrado pela lente dos programas do Chacrinha, e a ácida crítica até se perde no resultado final, mas ainda assim garante boas cenas, sobretudo por causa dos talentos de seu elenco - Paulo Hesse, Wilson Grey, Suzana Faini, Lourdes Mayer, Sérgio Hingst, Fregolente, e uma Bia Lessa divertida e novinha novinha.
Mas a cereja do bolo está mesmo no episódio O Ibraim do Subúrbio, protagonizado por José Lewgoy, que várias vezes disse ser esse um dos seus personagens prediletos no cinema. Ibraim é do subúrbio, mas tem veneração pelo Ibraim da zona sul, o Sued, e faz de conta que sua vida ordinária se desenrola no grand monde dos salões. Ele é alfaiate e seu nome é Casimiro de Abreu - adora dizer que é contra-parente do escritor - mas é chamado de Ibraim do Subúrbio pelos vizinhos pela sua mania de grandeza. Lewgoy, ótimo ator sempre, está realmente iluminado com sua fleuma incorruptível, ainda que tenha que limpar os sapatos das poças das ruas que insistem, em vão, chafurdá-lo. E ele tem ainda como sustentação também um ótimo elenco, com as presenças marcantes, como esposa e filha, de Eloisa Mafalda - atriz, infelizmente, pouco aproveitada no cinema; e Lucélia Santos - em inicinho de carreira, mas já com o talento arrebatador. Prêmio de Melhor Ator mais que merecido para Lewgoy no Festival de Gramado de 1977.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010longas brasileiros em 2010 (38)
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
longas brasileiros em 2010 (38)