Eu e Eucir de Souza somos amigos. E eu tenho profundo amor por ele. Ele lá em São Paulo e eu aqui em Belo Horizonte. Nossa amizade se formou no seio do cinema brasileiro - cenário perfeito - pois nos conhecemos em uma das edições da Mostra de Cinema de Tiradentes e fortalecemos a relação em uma das edições da Mostra CineBH. Depois nos encontramos mais outras vezes, falamos outras tantas ao telefone, e conversamos sempre por email. Tenho muito orgulho de nossa amizade, pois Eucir é completamente do bem, e muiiiiito talentoso. Meu Mundo em Perigo, filme que protagoniza ao lado de Rosanne Mulholland, Milhem Cortaz e Justine Otondo e dirigido por José Eduardo Belmonte, é um dos meus prediletos da nova safra do cinema nacional. Tenho paixão por esse filme! Fiquei impressionado com a atuação dele, e, depois disso, corri para ver tudo que fosse possível. Revi Palíndromo e Através da Janela; vi Soluços e Soluções, Fim da Linha, o clipe musical "Solto no Tempo", O Menino da Porteira, episódio da série "Alice", a série "Som & Fúria", e um pedacinho da série João Miguel. Vi também Se Nada Mais Der Certo, também de Belmonte. Agora foi a vez de ver Salve Geral, de Sérgio Rezende.
Não morro de amores pelo cinema de Sérgio Rezende, ainda que O Sonho Não Acabou tenha tido importância enorme para mim na juventude. Tinha 19 anos quando assisti - revisto depois, o filme envelheceu bastante. Depois vieram os filmes grandiosos: O Homem da Capa Preta, Lamarca, Guerra de Canudos e Mauá - com Doida Demais, no meio. E nenhum deles me apaixona completamente, como também não me apaixona Onde Anda Você. Já Quase Nada eu acho maravilhoso - e ali eu vi o quão longe em talento Sérgio Rezende pode alcançar. Quase Nada é um dos grandes filmes desses anos 2000, infelizmente pouco reconhecido. Zuzu Angel me emocionou e me permitiu o reencontro com o cinema de Sérgio Rezende, que nunca abandonei, mas que poucas vezes me seduzia. Sérgio Rezende gosta de focalizar momentos históricos do país para colocar, lá no meio do turbilhão, seus personagens.
Com Salve Geral o mesmo acontece, já que o contexto é o ataque do PCC - Primeiro Comando da Capital - em São Paulo, no dia das mães em 2006. Por esse registro histórico, o filme não me pega muito, pois o roteiro humaniza os detentos, o que acho correto, mas é um tanto maniqueísta no retrato dos policiais. Duas cenas me desagradam por completo - a que o diretor do presídio e o Secretário de Segurança fazem piadinha sobre um líder morto; e a que o chefe de polícia atira em dois rapazes que correm e depois faz um discursinho cínico. As duas cenas são perfeitamente possíveis no universo violento da polícia, mas colocadas ali no roteiro realçam o tom maniqueísta. Agora, como filme de gênero, ele me pega. E eu, que sempre gostei de filme policial brasileiro - e estrangeiro também - acompanhei com interesse a saga dos personagens. Gosto das personagens Lúcia, de Andréa Beltrão, e da Ruiva, de Denise Weinberg, e da relação e do embate entre as duas. E como atrizes elas são e estão sensacionais. Ainda que no personagem da Andréa, o roteiro cometa pecados como a simplificação de sua relação com o personagem Professor - e aí está para mim o ponto fraco do filme. Mas ainda assim, como disse, gostei de acompanhar a saga da personagem. Como era de se esperar, Salve Geral está sendo analisado mais pelo conteúdo que pela forma - e é compreensível, pois se situa em contexto próximo e polêmico. Mas é curioso notar que parte da crítica não leva isso em consideração quando, em filmes policias estrangeiros, faz exatamente o oposto. Ou seja, deixa de lado um pouco o julgamento moral e o situa dentro de um gênero. Como acho que deve ser. Mas é também compreensível. Eu aqui mesmo falei do conteúdo, antes de chegar ao formato do gênero, que é, no filme, o que me interessa mais. E fora que ele pode ser enquadrado também como drama. E no recorte histórico, do PCC, está Chico, o personagem de Eucir de Souza (foto). Se o roteiro humaniza os detentos, que como disse, acho correto e precioso, a composição de ator de Eucir eleva em potência o seu personagem e faz isso de forma brilhante. A gente acredita, pelo menos eu acreditei, naquele personagem como uma pessoa de verdade, além do rótulo de apenas mais um bandido. É possível ver Chico em três momentos completamente diferentes - no encontro com a Ruiva, na conversa com Tirso, e no encontro com o Secretário de Segurança - e o personagem passar verdade absoluta. Eucir de Souza faz isso de forma brilhante, trazendo para sua carreira mais uma interpretação arrebatadora. Fiquei feliz em ver, mais uma vez, o talento do meu amigo em cena. Principalmente por saber o tanto que ele se dedica, e para esse papel não foi diferente, à sua carreira de ator. Mais uma bola certeira meu amigo.
domingo, 11 de outubro de 2009