O carioca Paulo Cézar Saraceni, um dos criadores do Cinema Novo, tem filmografia com pontos altíssimos na cinematografia brasileira. Basta citar de cara o curta Arraial do Cabo (1959) – co-dirigido com Mário Carneiro, e os longas Porto das Caixas (1962), O Desafio (1965), A Casa Assassinada (1970) e O Viajante (1999). Uma característica marcante em sua trajetória é o fascínio pela obra do genial escritor Lúcio Cardoso, visitado três vezes no cinema- Porto, Casa e O Viajante- , sendo todos os filmes protagonizados por grandes atrizes – respectivamente, Irma Alvarez, Norma Bengell e Marília Pêra. O cineasta dirigiu agora O Gerente, uma surpreendente aposta total na poesia, com investigação de linguagem que resultou em belos planos-sequências, mas sem o filtro extremamente pop que ronda uma quase nova mania na recuperação desse recurso pela produção atual. Há inúmeras cenas banhadas em beleza, mas uma de encanto maior coloca Ney Latorraca – o protagonista – em dança com inventiva exploração de recurso espacial com Letícia Spiller. Spiller, por sinal, está linda e anos-luz do mico A Paixão de Jacobina (2002), de Fábio Barreto – aliás, impossível não pensar como sua beleza poderia ter sido maravilhosamente explorada na tela por Walter Hugo Khouri.
Aqui, a fruição pela chave da realidade é uma cilada, pois parece interessar ao cineasta muito mais a forma como contar do que propriamente o contar - o que, afinal, está na essência do cinema. O Gerente é baseado em conto de Carlos Drummond de Andrade, e toda a modernidade do poeta é perseguida, como se Saraceni optasse pelo registro poético da prosa do conto. Aliás, O Gerente é, na verdade, o primeiro roteiro que Saraceni escreveu – em 1952 -, mas não havia filmado. Na trama, Ney Latorraca é um gerente de banco que tem um estranho e incontrolável hábito: o de morder a mão das damas. Isso em plenos anos 1950, para escândalo da sociedade local. Ana Maria Nascimento Silva – esposa de Saraceni há mais de 30 anos – é a protagonista feminina, e que cruzará definitivamente o caminho de Latorraca. Outras beldades como Letícia Spiller e Simone Spoladore – ótima como sempre – também estão em cena, além de presença de Joana Fomm, uma das melhores atrizes brasileiras. Na trilha, o luxo de João Gilberto em novas interpretações para as música "Louco", de Wilson Batista e Henrique de Almeida, e a canção-tema desse blog e a preferida desse escriba, Insensatez, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
segunda-feira, 14 de março de 2011
longas brasileiros em 2011 (12)