Lembram-se do bordão de Luiza Erundina, quando Prefeita de São Paulo “sou mulher, nordestina e governadora de uma das maiores cidade do mundo” ? Pois então, muita gente também vê quase um bordão em Elza Soares quando ela fala sobre sua vida “sou negra, favelada etc”. Como ela já contou em muitas entrevistas – e também na biografia escrita por José Louzeiro “Elza Soares – Cantando para não enlouquecer” – sua trágica, atribulada e vitoriosa trajetória, às vezes o relato pode nos soar repetitivo . Ainda que ele seja sempre necessário para quem não sabe sobre sua história e possa ver que a vida pode ser mesma complexa e inacreditavelmente surpreendente. É essa cilada que o documentário Elza, de Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan, evita ao focar seu relato, sobretudo, na música de Elza. E aí, realmente, a mulata assanhada enche a tela.
Tá lá no documentário o começo de tudo, o famoso episódio do Programa Ary Barroso e o Planeta Fome. Mas logo logo o que se vê é a trajetória musical dessa deusa negra que encheu de suingue e de técnica particularíssima o cenário da música brasileira. E aí toma encontros nas telas com desde nomes esperados, como João de Aquino, Jorge Benjor e Caetano Veloso, até bela parceria com o samba dolente de Paulinho da Viola e uma inesperada Maria Bethânia. Esse último encontro possibilita longa e divertida sequência em que a carioca e a baiana cantem e brinquem ao som de músicas como "Samba da Benção", de Vinícius de Moraes, e "Samba da Minha Terra", de Dorival Caymmi, em que elas esbanjam malícia, sedução e faceirice. Tudo, claro, ao som de suas gargantas poderosas. É um encontro maravilhoso. E histórico! O doc ainda conta com depoimentos de José Miguel Visnik, Mart´nália, Elton Medeiros e outros. O filme Elza foca a cantora Elza plena em sua música. E está aí seu maior acerto.
terça-feira, 15 de março de 2011
longas brasileiros em 2011 (13)