Noite dos Bacanais, A, 1981, Fauzi Mansur
o bebê de proveta chega à Boca
Atualmente, as discussões sobre o projeto Genoma e a utilização das células-tronco marcam presença não apenas em publicações científicas, mas em qualquer noticiário do dia a dia e mesa de bar. Mas lá nos anos 1980, o quente mesmo era discutir sobre o Bebê de Proveta. Afinal, foi ali no finalzinho da década anterior que o primeiro veio ao mundo. Pois você acham que o tema intimidou a Boca do Lixo? Claro que não! Já em 1981, chegava às telas este A Noite dos Bacanais, de Fauzi Mansur. Ênio Gonçalves e Zaira Bueno formam um casal rico, que depois de três anos de casamento já saiu da fase do mel para a do feijão com arroz. Insatisfeita com a vida sexual morna, ela propõe a ele que os dois passem a frequentar o swing, prática adotada na roda de seus amigos. Reticente e a contragosto, ele acaba sendo jogado no caldeirão. Já ela, esbalda-se cada vez mais em surubas quentíssimas, com direito à fantasias com mulheres, travestis e curras. Quando ele fala sobre o desejo de ter filhos, ela descarta a ideia, pois não quer ficar disforme e nem se sentir aprisionada. É aí então que ele resolve ter um filho de proveta, prática revolucionária da época, mas acaba se envolvendo também com a mulher que vai desenvolver o rebento, interpretada por Solange Couto.
Se a Boca é conhecida por usar títulos apelativos, esse aqui está muito aquém do que se vê na tela. Afinal, não é apenas uma noite, mas noites e dias de bacanais cada vez mais apimentados, com a musa Zaira Bueno se expondo sem nenhum pudor. A Noite dos Bacanais é exemplo perfeito para distinguir o que era pornochanchada e o que não era na produção da Boca do Lixo. Fauzi Mansur até que visitou o gênero, como em O Inseto do Amor, mas restringir seu cinema ao rótulo é de uma tacanhice absurda. De ponta a ponta, está sua elegância habitual na direção e na construção de climas, e sem lugar para uso gratuito de estereótipos e preconceitos tão caros ao gênero das pornochanchadas. Aqui, o prazer sexual das mulheres tem vez e elas não são apenas objetos dos homens, são donas de suas vontades. Ou seja, o oposto no gênero, já que a postura libertária vem delas e não deles. E Ênio Gonçalves encarna com brilho e talento esse personagem que permite, sem embates recriminatórios e possessivos, esse novo lugar para homens e mulheres - o que lhe reserva também um papel de modernidade anos-luz à frente dos machistas de plantão. No elenco, além das musas Fátima Maluf, Rosa Maria Pestana e Aryadne de Lima, há de se destacar a presença de Solange Couto, linda e magérrima, muito antes de sua farta e popular Dona Jura imortalizada em novela da televisão.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
longas brasileiros em 2012 - 008
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