Ano 20

10ª CineOP - Quarto Dia

Cena de Retratos de identificação, 2014, Anita Leandro
Dia de cobertura intensa ontem na 10ª CineOP: lançamento de livros, homenagens, seminário, exibição de curtas e de longa.

Como faz em toda edição, a CineOP abriu espaço ontem para o lançamento de vários livros: "Cartas sem respostas", de César Migliorin; "Cinema e Educação: a Lei 13.006 - Reflexões, perspectivas e propostas", de Adriana Fresquet; "Dossiês cinematográficos: O cinema através de mim", de Geraldo Veloso; "Reflexões sobre preservação audiovisual - 10 anos da CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto", org Hernani Heffner, Raquel Hallak e Fernanda Hallack; e "Terra distante", de João de Lima Gomes.

Além dos lançamentos, havia ainda banca de livros com títulos como "O negro brasileiro e o cinema", de João Carlos Rodrigues, presente no evento e participante do seminário temático.

A Universo Produção abriu espaço também para fazer uma homenagem a profissionais fundamentais durante essa trajetória de 10 anos da CineOP. Dessa forma, subiram ao palco para receber placas comemorativas convidados como o conservador Hernani Heffner, da Cinema do MAM, e o professor João Luiz Vieira.

Nesse time de homenageados um nome que o Mulheres do Cinema Brasileiro jamais poderia deixar passar em branco: o pesquisador, escritor e colecionador de filmes em 16mm Antônio Leão da Silva Neto.

Leão, como é carinhosamente chamado, é personalidade indesviável na pesquisa sobre o cinema brasileiro. Seus livros são fundamentais para qualquer amante e pesquisador do nosso cinema e, no caso particular do site, fonte imprescindível para o Mulheres do Cinema Brasileiro. São de sua autoria, títulos como Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro, Dicionário de Filmes Brasileiros, e biografias de Ary Fernandes e Miguel Borges.

Homenagem mais que merecida.


Seminário

"O negro no cinema: entre estereótipos e reações" foi a segunda mesa da temática histórica da 10ª CineOP, "o negro em movimento". O encontro reuniu o pesquisador e escritor João Carlos Rodrigues, o cineasta e pesquisador Joel Zito Araújo e a cineasta, socióloga e pesquisadora Raquel Raquel Gerber, mediados pela professora Sheila Schvarzman.

João Carlos Rodrigues tem pesquisa sobre a representação do negro no cinema - "O negro brasileiro e o cinema" - e Joel Zito Araújo sobre a representação nas telenovelas - "A negação do Brasil - o negro na telenovela brasileira" -, portanto cada um pode falar sobre as diferentes áreas, ainda que os temas se entrelaçassem.

Rodrigues é pioneiro no seu recorte - e ainda hoje nenhum autor deus prosseguimento a sua pesquisa em formato livro. No seminário ele disse que considera sua pesquisa encerrada, com a primeira publicação de "O negro brasileiro e o cinema" em 1988 e suas reedições, com a última atualizada em 2011.

Dono de verve espirituosa, Rodrigues divertiu a plateia com seu relato de vida e tiradas cáusticas. Franco e de falas diretas, pensa que a situação do negro melhorou, toca em vespeiros com falas como "não dá para os negros quererem ser retratados sempre como bonzinhos, pois as cadeias estão cheias de negros.É a realidade". Em vários momentos foi contestado por Joel Zito Araújo - de quem é amigo -, que, ao contrário, acha que a situação do negro na televisão e no cinema brasileiro blockbuster continua do mesmo jeito.

Questionado pela plateia, Araújo concorda que aconteceram avanços em conquistas dos negros na sociedade, mas não na TV e no cinema. Para ele, mesmo os independentes - e aqui ela não está falando de cinema independente, mas de cineastas autorais - não conseguem entender a dimensão da cultura negra na abordagem de seus filmes. Para ele Nelson Pereira dos Santos é quem se sai melhor, já Cacá Diegues, ainda que tenha abordado o tema várias vezes, ainda pratica um cinema de conciliação sobre o tema.

Raquel Geber, diretora de Ori, trouxe uma abordagem mais histórica e sociológica - e até mesmo espiritual -, traçando um painel da formação da cultura negra do país e de suas origem, reivindicando, mais de uma vez, que é necessário, sobretudo, uma mudança de consciência individual para que as transformações coletivas aconteçam.

Curtas e longa

Se na noite anterior o público pode conhecer, finalmente, o cinema do diretor carioca Gerson Tavares, realizador das décadas de 1950 a 70, com a exibição do longa Antes, o verão, ontem foi a vez de conferir seus curtas.

Foram exibidos sete documentários em curtas-metragens no programa Mostra Preservação: A Petrobrás prepara seu pessoal técnico (1958). O grande rio (1959), Arte no Brasil hoje (1959), Brasília, capital do século (1959), Gafieira (1972), Ensino Artístico (1973), e Saveiros (1977).

A seleção de curtas, - quase todos eles - é composta por filmes educativos. Muitos deles, provavelmente, exibidos naquelas sessões duplas que assistíamos nos cinemas de rua, com a exibição de curtas antes dos longas.

O interesse em assistir a esse tipo de documentários antigos reside sempre na revisitação de lugares - como aqui na construção de Brasília ou nas cidades ribeirinhas do rio São Francisco.

De toda a seleção, o grande filme mesmo é Gafieira, em que Gerson Tavares, com a sofisticada fotografia de Lauro Escorel, focaliza uma casa de baile e seus habitantes sem nenhuma fala ou diálogo. Gafieira é filme que merece ser conhecido, pois revela o lado autoral do cineasta presente em seu longa de ficção.

Retratos de identificação - Dirigido por Anita Leandro, Retratos de identificação é documentário de 2014.

Em cena, dois ex-guerrilheiros que lutaram contra a ditadura militar no Brasil são apresentados à fotografias feitas pela polícia quando de suas prisões e partidas para o exílio. A partir daí eles relembram os tempos da luta armada, o confronto com o exército e a polícia civil, e a morte de companheiros de luta e de vida.

Em Retratos de identificação Anita Leandro  volta sua câmera para um dos momentos mais tristes e terríveis da nossa história, dando voz não para historiadores, mas para os sujeitos da ação.

Ao utilizar como canal de relato as fotos tiradas pelos próprios algozes e torturadores, o filme permite às vítimas não só se verem pela primeira vez em estado do mais puro aviltamento, como também acessarem a memória a partir desses documentos de identificação.

Relatos sobre torturas, mortes e perdas durante a ditadura militar nunca deixam de impactar. Em Retratos de identificação, o que chama a atenção é como a diretora se utilizou de um porta-retrato cruel para contar uma das faces mais tenebrosas de nossa história.



Programação completa da 10ª CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto
www.cineop.com.br

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior