Ano 20

22a Mostra de Tiradentes-Mostras Olhos Aurora

Abertura da exibição de "Seus Ossos e Seus Olhos", de Caetano Gotardo, no Cine Tenda - Crédito: Jackson Romanelli
A Mostra Olhos Livres é um recorte dentro da programação da Mostra de Cinema de Tiradentes.

Ela é dedicada aos filmes com maior liberdade de experimentação e inventividade. Competitiva, o  Melhor Filme eleito pelo Júri Jovem recebe o Troféu Carlos Reichenbach, uma homenagem ao saudoso cineasta, artista realmente de olhos livres para os filmes que realizou, com também para o cinema e para aqueles que se debruçam sobre esse universo.

Já a Mostra Aurora, principal recorte competitivo dentro da Mostra de Cinema de Tiradentes, é voltada para filmes de cineastas que estão com até terceiros longas. Os filmes são avaliados pelo Júri da crítica.

O Mulheres conferiu mais dois filmes apresentados nessas Mostras: Superpina: Gostoso é quando a gente faz (PE), na Olhos Livres; e Seus Ossos e Seus Olhos (SP), na Aurora.

Superpina: Gostoso é quando a gente faz, dirigido por Jean Santos, é uma produção Pernambucana derivada de curta apresentado na Mostra de Cinema de Tiradentes de 2018.

Na trama, uma jovem picha nos muros da cidade, como também em banheiros e em outros espaços públicos, a frase "Amor Primo". Enquanto isso, acompanhamos uma galeria de personagens que transitam em volta de um supermercado, o tal Superpina.

Daí, caixas, gerente, atendentes, todos eles mantém uma relação de trabalho durante o dia, e, ao final do expediente, é como se fossem tomados por uma explosão de sexo, como se a libido sexual fosse a única forma e força possível para suportarem o fardo da vida.

É como se o roçar e o entrelaçar de corpos e busca do orgasmo fossem o único momento possível de não só saciedade, mas também de purgação de todo o mal.

Superpina : Gostoso é quando a gente faz não consegue dar conta do que se propõe, como se a liberdade sexual ansiada como tônus da vida na trama se perdesse como cinema.


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Em Seus Ossos e Seus Olhos acompanhamos as andanças de um cineasta. Aparentemente  perdido em si, é como se ele fosse se refazendo e se reinventando a cada história e a cada encontro. E como o ator é o próprio diretor, Caetano Gotardo, o cinema vira também esse personagem em reinvenção.

No filme, um dos encontros mais emblemáticos é com a amiga Irene (Malu Galli). "Você é engraçado", ela diz. Mas não no sentido de achar graça nele, mas mais um doce espanto diante do quanto ele parece estar encarcerado em si mesmo, como se todo o resto realmente importasse para ele, mas no tempo e nas escolhas dele..

Cinematograficamente, o encontro entre os dois é lindo, pois Irene é como se fosse uma memória emocional viva, pois quanto mais conta sobre sua vida, mais vivencia o que viveu. Daí, o fato acontecido não é só uma lembrança, uma dor, uma mágoa ou mesmo um rancor, é fato presente, como se ela estivesse vivendo tudo aquilo outra vez, mais uma vez. E de novo, e de novo, e de novo.

E como mais para frente, eles vão se encontrar de novo, em outro espaço, mas o relato permanece, ainda que com algumas inserções, essa memória emocional viva é reiterada, como se personagens e cineasta precisassem se apropriar de tudo aquilo em moto contínuo, sempre. Para que nada se perdesse, para que eles não se perdessem.

A reiteração vai acontecer em outras partes do filme, e outro momento muito significativo é o protagonista vivenciar um mesmo relato, ainda que com acréscimos, duas vezes, a primeira com o marido e a segunda com uma transa que encontra na rua.

E quando vemos o cineasta decupando o primeiro encontro na sala de edição é como se todo aquele momento, como também todos os outros que vivenciará, fossem não rascunhos, pois foram plenos quando vividos, mas como a tecer a vida, quase sempre, insuportavelmente fugidia.


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22a Mostra de Cinema de Tiradentes - De 18 a 26 de janeiro de 2019

Programação completa:
www.mostratiradentes.com.br

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior