Ano 20

22a Mostra de Tiradentes- Carmen e Inferninho

Cena de Tragam-me a cabeça de Carmen M., de Felipe Bragança e Catarina Wallestein
O domingo, 20, foi de muitas coberturas do Mulheres na 22a Mostra de Cinema de Tiradentes.

Começou com o Seminário Encontro com os Filmes sobre Temporada, de André Novais Oliveira, já registrado aqui na matéria sobre o filme.

Depois foi a vez de conferir o lançamentos de seis livros:

- “O Autor no Cinema”, de Jean-Claude Bernadet, que ganha uma atualização em parceria com Francis Vogner dos Reis;
-  “Cinema Brasileiro nos Jornais: Uma Análise da Crítica Cinematográfica da Retomada”, em que o jornalista recifense Luiz Joaquim avalia a reflexão publicada sobre a produção nacional entre 1994 e 2002;
- “Diversidade na animação brasileira”, organizado por Sávio Leite; 
- “O crime como gênero na ficção audiovisual da América Latina”, de Luiza Lusvarghi. 
-  “Imagens em disputa: Cinema, vídeo, fotografia e monumento em tempos de ditaduras”, de Andréa França, Patrícia Machado e Tatiana Siciliano;
- “Jorge Sankinés e Grupo Ukamau – Teoria e prática de um cinema junto ao povo”, de Jorge Sanjinés (trad. Sávio Leite e Lourenço Veloso.

O Mulheres adquiriu "O Autor no Cinema", livro há muito ansiado para a sua biblioteca.

À noite, o plantão foi no Cine Tenda para conferir dois longas.

Na Mostra Olhos Livres foi exibido Tragam-me a cabeça de Carmen M., dirigido por Felipe Bragança e Catarina Wallestein.

Bragança já é um capítulo  de destaque no cinema brasileiro contemporãneo, seja nas suas parcerias com Karim Aiñouz, um dos nossos mais importantes cineastas, em filmes como O céu de Suely e A Praia do Futuro, seja nos filmes que dirigiu, como A fuga da Mulher Gorila e A Alegria.

Em Tragam-me a cabeça de Carmen M., Bragança e Catarina, ela também como a protagonista, revisitam um dos maiores mitos do Brasil, e de Hollywood, a atriz, cantora, dançarina e performer Carmen Miranda.

E os cineastas fazem isso a partir do signo que Carmen representa não só no imaginário popular, como também como um dos pilares fundadores de uma nação. 

Catarina é portuguesa, país onde Carmen nasceu - vindo para o Brasil logo na primeira infância. E esse fato, que, por si só, traz-nos uma Carmen vista a partir da simbiose de dois continentes, é mais um dos caminhos ao mito revisitado e perseguido.

Tragam-me a cabeça de Carmen M. é uma biografia, mas não a biografia padrão e sim uma biografia em linguagem. É a partir das imagens, dos planos construídos pela direção e do exercicío da atriz, que Carmen vai se desenhando ao longo do filme.

E se esse desenho não percorre e/ou não busca o caminho retilíneo da nitidez, é porque os cineastas, e também a atriz, parecem querer nos convidar a perscrutar, a partir de Carmen, todo um mundo a desbravar.

Tragam-me a cabeça de Carmen M. busca e faz-se beleza na e pela dor. E não só de uma artista mítica, como também de um país e da ideia dele.


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Na Mostra Corpos Adiante, o longa exibido foi Inferninho, de Guto Parente e Pedro Diógenes.

Sedutor de ponta a ponta, Inferninho se apresenta, de primeiro, como se o Fassbinder de O amor devora a alma e Querelle adentrasse aquele espaço e nos conduzisse pela mão.E, a partir daí, mergulhassemos cada vez mais fundo entre aquela gente banhada de cores, dor e solidão.

Em Inferninho , os personagens navegam em águas turvas de um melodrama torto, em que em nome do amor vale tudo, mesmo que seja abrir mão daquele aconchego roto e tortuoso.

Por isso que quando o marujo abre a porta do bar, é como a heroína de O amor devora a alma. A trajetória de um amor de perdição começa, e como os heróis de lá, como também os de cá, farão com isso é que torna-se impossível para nós, espectadores, largar a mão do condutor.

E se o barco que leva o par romântico em idílio  de artefato azul pode parecer a qualquer hora parar no porto perdido cintilante do outro marinheiro alemão, nós, da plateia, jamais deixamos não só de acompanhar a viagem, mas de estar nela.

Inferninho diz mais do mundo contemporâneo que centenas de tratados, e faz isso cinematograficamente com sedução de vida e de morte, de amor, abandono e redenção.

E como no amor, é hora de recomeçar.

É impressionante a força das atrizes e atores do longa , vindos do grupo de teatro Bagaceira, de Recife. Dentre tantas atuações maravilhosas, como a de Rafael Martins como o Coelho, Yuri Yamamoto realmente impressiona - ainda que se lamente da ausência de uma trans vivendo a maravilhosa personagem. 


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22a Mostra de Cinema de Tiradentes - De 18 a 26 de janeiro de 2019.
Programação Completa
www.mostratiradentes. com.br

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior