Ano 20

13a Cineop - Terceiro Dia

Maria Gladys, Cavi Borges e equipe apresentando "Quebranto" (2018), de José Sette - Crédito: Jackson Romanelli/Universo Produção
O bom de vir à Cineop é que por ser uma mostra que foca o cinema como patrimônio, por aqui a gente tem chance de ver, ou rever, filmes que marcaram a história do cinema brasileiro em diferentes épocas.

E a sessão de curtas da Mostra Histórica no Cine Vila Rica no sábado, 16, foi sensacional. Afinal, reuniu em uma tacada só filmes de Rogério Sganzerla, Kátia Maciel, Antonio Carlos da Fontoura, Arthur Omar, Carlos Adriano, e Ivan Cardoso. Ou seja, só fera.

De Sganzerla foi exibido o delicioso Brasil (1981). O filme é o registro musical do LP "Brasil", em que João Gilberto se reuniu com os outros geniais baianos, Caetano, Gil e Bethania, para um disco que já nasceu clássico. Rogério mostra em imagens e em fotos esse encontro, ao mesmo tempo em que constrói seu caleidoscópio todo próprio para falar de um país, imperando imagens de seu mestre-mor, Orson Welles. E tudo ao som de faixas do LP.

Em A Fila (1993), Kátia Maciel coloca na tela do cinema quase todo mundo que lutava para fazer filmes depois que o ex-presidente Fernando Collor extinguiu todos os mecanismo de fomento, regulamentação e difusão do cinema brasileiro, e o vice empossado, Itamar Franco, lançou o primeiro edital para a área, e de onde surgiria o chamado Cinema da Retomada. É uma fila cinematográfica impressionante, com cada um levando suas pastas e caixas de projetos, em um verdadeiro Quem é Quem.

Ver Ouvir (1966) é o segundo filme de Antonio Carlos da Fontoura. É um belo e inventivo curta. Ou seja, é da primeira e estonteante fase do cineasta, que dirigiu petardos como Copacabana me engana (1968), A  Rainha Diaba (1974), Cordão de Ouro (1977), e o subestimado Espelho de Carne (1985), que adoro.

Toda a programação é de altíssima qualidade, e o ponto ainda mais alto foi quarto curta exibido, O Som ou o Tratado de Harmonia (1984), de Arthur Omar. O cineasta é uma das lacunas de minha cinefilia, pois sempre o soube grande, mas ainda não tinha visto nenhum filme seu. E esse curta, que investiga o som e suas múltiplas esferas de reverberações é completamente arrebatador. Adoro a fala de uma personagem que responde a pergunta "O que é o Brasil?".  E ela responde: "Ah, o Brasil é uma mistura de cores que não se encontram".

Das Ruínas à Resistência é curta de Carlos Adriano, um dos nomes mais incensados do cinema experimental atual, de 2009. O cineasta resgata filmagens de Décio Pignatari, a pedido deste, e as reconfigura a partir de seu olhar e de seu universo particular.

À Meia-Noite com Glauber é filme da delicioso lavra de Ivan Cardoso, que dirigiu o curta em 1997. Ivan junta em seu caldeirão, por vezes psicodélico, e sempre iressistível, Glauber Rocha, Hélio Oiticica e Zé do Caixão. Uma colagem personalíssima, como é todo o seu indesviável cinema.

Estiveram presentes na apresentação dos curtas Kátia Maciel, Antonio Carlos da Fontoura e Carlos Adriano.

José Sette

Há muito Cavi Borges faz história no cinema. Primeiro com sua locadora Cavídeo, no Rio de Janeiro, endereço referência durante toda uma época para garimpar filmes e descobir outros.

E, em década e meia, vem fazendo história também no cinema brasileiro, como diretor e, sobretudo, como produtor. Afinal, quem mais hoje possibilita o retorno ao set de filmagem de cineastas do porte de Luís Rosemberg, Maurice Capovilla, Sérgio Ricardo, e agora José Sette?

Quebranto (2018), longa de José Sette, foi exibido no Cine Vila Rica dentro da Mostra Homenagem, já que conta com Maria Gladys, a homenageada da 13a Cineop, no elenco. Aliás, na apresentação do filme, Cavi Borges ressaltou o fato de Gladys, que já fez tantos filmes geniais, ter escolhido Quebranto para integrar a programação dedicada à ela. Os outros são Maria Gladys: Uma Atriz Brasileira (1979), curta de Norma Bengell; e os longas Sem essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla, e Vida (2008), de Paula Gáitan.

Quebranto se apresenta com a sinope "A morte é um sonho dentro de um sonho dentro de um sonho". E é assim que acompanhamos as andanças, encontros e desencontros do personagem central, às voltas com um amor fugidio e sua estranha e opressora família.

Não diferente de seus outros trabalhos, como Um Filme 100% Brasileiro (1985), em Quebranto Jose Sette pisa firme no cinema experimental, sua praia. Ainda que marcado por algumas irregularidades, Quebranto por si só já se justifica pela volta desse cineasta mineiro indomável e talentoso às telas do cinema e ao seu ofício.

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A 13a Cineop acontece até o dia 18.
Confira a aprogramação completa no site
www.cineop.com.br

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior