Clarisse Abujamra
Com formação em dança e em artes cênicas, Clarisse Abujamra é atriz, diretora de teatro, tradutora, coreógrafa e bailarina. Dona de um estilo próprio e com uma voz inconfundível, ela é uma das nossas atrizes desde sempre modernas, como são Helena Ignez, Léa Garcia, Anecy Rocha, Adriana Prieto, Dina Sfat, Lilian Lemmertz e Patrícia Scalvi – para citar algumas. Nascida em São Paulo (SP), ela começou sua trajetória na dança. “Dancei pouco nos palcos porque dirigia meu estúdio por 10 anos e comecei a construir minha carreira como atriz. Mas mantive o estúdio de dança, onde também tive minha Cia "Dança-Clarisse Abujamra". Estudei com vários professores, tanto de clássico e jazz como contemporâneo, técnica de Martha Graham - passei dois anos estudando lá mesmo, em Nova York, sede de sua escola”.
Na televisão fez história no programa juvenil “É proibido colar”, na TV Cultura – ao lado do então marido Antônio Fagundes. Estreou em novelas com o pé direito com a personagem Santuza em “O Machão”, na TV Tupi, de Sérgio Jockyman. “Foi o primeiro convite, e, claro, aceito com muita alegria. Uma ideia genial de Sérgio Jockyman (argumento de Ivani Ribeiro) e um elenco inesquecível, foi um belo e prazeroso início de carreira nas telinhas”. Depois, atua em muitas outras e em várias emissoras, e destaca “Dance dance dance”, na TV Bandeirantes, e “Escrava Isaura”, megassucesso de Gilberto Braga protagonizado por Lucélia Santos.
A estreia no cinema também foi em grande estilo: nada menos sendo dirigida pelo mestre Walter Hugo Khouri em As amorosas. Depois atua em Gaijin – Os caminhos da liberdade, de Tizuka Yamasaki, e tem grande momento em atuação premiada e inesquecível em Anjos do Arrabalde, do saudoso Carlos Reichenbach. “Foi meu primeiro longa pra valer e me entreguei nas mãos do Carlão e de minhas colegas em cena, era muito jovem e sem experiência alguma, mas valeu me entregar. Até hoje me lembro a cena dos pulsos, mas ainda na sala de aula”. A partir dos anos 2000 intensifica a atuação no cinema, sendo um de seus trabalhos mais recentes Gravidade, estreia em longas de Leo Tabosa, que abrirá o 35º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema.
Clarisse Abujamra conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro e repassou sua trajetória: a formação em dança, os grandes mestres do teatro com os quais trabalhou, a participação em novelas e em programa educativo, e, claro, atuação no cinema,
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, data de nascimento e cidade em que nasceu.
Clarisse Abujamra: São Paulo (SP), 3 de abril de 1948.
MCB: Você começou sua trajetória artística pela dança, não é isso? Inclusive, fez estudos com a Martha Graham. Você poderia falar sobre essa sua trajetória como bailarina e coreógrafa?
CA: Dancei pouco nos palcos porque dirigia meu estúdio por 10 anos e comecei a construir minha carreira como atriz. Mas mantive o estúdio de dança, onde também tive minha Cia "Dança-Clarisse Abujamra". Estudei com vários professores, tanto de clássico e jazz como contemporâneo, técnica de Martha Graham - passei dois anos estudando lá mesmo, em Nova York, sede de sua escola.
MCB:- Você tem uma carreira importante e premiada no teatro, como atriz, diretora, produtora e tradutora. Foi dirigida por nomes fundamentais dos palcos, como Antônio Abujamra, Flávio Rangel, Bibi Ferreira, Antunes Filho, Roberto Vignatti, Naum Alves de Souza, Ademar Guerra, Jorge Takla, Gerald Thomas e Helena Ignez. Como foi a oportunidade de trabalhar e conviver com todos esses mestres?
CA: Foi o grande aprendizado de minha vida. Cada um deles, que tive a honra e a boa sorte de ser dirigida, deixou em mim marcas de amor e paixão pelo oficio e a busca constante por qualidade e respeito a todo e qualquer processo de trabalho.
MCB: Você atuou na adaptação teatral do meu romance e escritora prediletos, "As Meninas", da Lygia Fagundes Telles – adaptação de Maria Adelaide Amaral e direção de Yara de Novaes. Poderia comentar sobre esse trabalho?
CA: O prazer maior foi estar ao lado de Lygia, em sua casa, e ouvi-la dissertar sobre o livro. Inteligentíssima, belíssima e muito generosa.
MCB: "Veraneio", de Leonardo Cortez e direção de Pedro Granato, te deu o prêmio Bibi Ferreira de Melhor Atriz, fundamental artista da cultura brasileira que a dirigiu no palco. Como foi receber esse prêmio? Entre os prêmios que recebeu, gostaria de destacar algum?
CA: Todos os prêmios foram mais do que bem-vindos, mas o primeiro sempre deixa marcas, Anjos do Arrabalde. E a emoção também enorme de ter estado no palco, juntos de mãos dadas, sete profissionais do filme Como nossos pais, de Lais Bodanzky.
MCB: Sua estreia em novelas foi em "O Machão ", não é isso? Sua personagem Santuza fez muito sucesso, nessa novela protagonizada por Antônio Fagundes e Maria Isabel de Lizandra (TV Tupi). Como foi chegar às novelas?
CA: Foi o primeiro convite, e, claro, aceito com muita alegria. Uma ideia genial de Sérgio Jockyman (argumento de Ivani Ribeiro) e um elenco inesquecível, foi um belo e prazeroso início de carreira nas telinhas.
MCB: Ainda no campo da teledramaturgia - novelas, minisséries, seriados e teleteatros -você atua em várias emissoras. Gostaria de destacar alguns trabalhos especiais?
CA: “Dance dance dance”, na Rede Bandeirantes, e a primeira versão de “Escrava Isaura”, ao lado de Lucélia Santos.
MCB: Você fez história também na TV com o programa juvenil "É proibido colar", na TV Cultura, ao lado do Antônio Fagundes - seu marido à época. Como foi participar desse programa?
CA: A experiência mais gratificante que alguém pode ter, anos de alegria, comunicação e um sucesso arrebatador. Aliás, ainda hoje nos param para autógrafos por causa de “É proibido colar.
MCB:- Sua estreia no cinema foi em As amorosas. Como foi ser dirigida pelo mestre Walter Hugo Khouri?
CA: Era muita jovem, 'entrei de gaiata', figuração, mas me lembro cada segundo da filmagem. Estar ao lado de Paulo José e Anecy Rocha já bastava.
MCB: Gaijin – Os caminhos da liberdade marca seu encontro com o cinema de Tizuka Yamasaki. Como foi atuar neste filme?
CA: Uma experiência muito querida e como sempre em talentosíssima companhia de atores brasileiros e internacionais,
MCB: Um dos momentos mais luminosos seu nas telas foi em Anjos do Arrabalde, do saudoso Carlos Reichenbach - prêmio Governador do Estado de Melhor Atriz. Aquela cena sua de punhos cortados com o abismo ao fundo no morro é inesquecível e sua atuação é esplendorosa e premiada. Gostaria que falasse sobre esse trabalho, a parceria com o Carlão e com os atores?
CA: Foi meu primeiro longa pra valer e me entreguei nas mãos do Carlão e de minhas colegas em cena, era muito jovem e sem experiência alguma, mas valeu me entregar. Até hoje me lembro a cena dos pulsos, mas ainda na sala de aula.
MCB:- Você volta a trabalhar com o Reichenbach na coreografia da personagem de Carolina Ferraz em Alma Corsária. Fez também a coreografia em A super fêmea, do Aníbal Massaini e protagonizado por Vera Fischer. Poderia falar sobre esses dois trabalhos?
CA: Suaves e gratificantes. Duas mulheres fortes, entregues às ideias e à liberdade que me foi dada pelos diretores para coreografar. Na verdade, não eram números de dança, e, sim, uma movimentação a serviço da cena.
MCB: Depois de muito tempo longe do cinema, você retorna no maravilhoso Chega de saudade, da Laís Bodanzky, filme que reúne um elenco impressionante, em que todos estão em estado de graça, e filme pelo qual é premiada. Como foi participar desse filme?
CA: Fiz um teste quando soube que pensavam trazer uma atriz da Argentina por conta da cena do tango, fui aceita e daí foi entrega total, um personagem pequeno, mas fortíssimo e ousadíssimo. O Walter Carvalho foi precioso nas dicas, jamais esquecerei esse filme, premiadíssimo no festival de Cartagena. Voltei com o prêmio, dividido por nós, atrizes protagonistas.
MCB: Depois você volta a trabalhar com Laís em Como nossos pais e recebe muitos prêmios. Essa parceria com ela é especial para você?
CA: Trabalhar com A Lais é sempre estar “em casa”, no sentido amoroso cheio de respeito e amizade. Lais ouve a atriz e não mede esforços para nos compreender. O filme todo foi premiado, inesquecível momento com toda a equipe de criação, mais interpretes e Lais, juntos, no palco.
MCB: Felizmente, a partir dos anos 2000, você passa a ter uma presença contínua no cinema, sendo dirigida por nomes como Sérgio Bianchi, Lúcia Murat, João Jardim, Djin Sganzerla, entre outros. Como você vê a produção do cinema brasileiro contemporâneo?
CA: Vejo crescer, dia após dia, e as premiações e o reconhecimento do trabalho de cineastas, atores e atrizes, entrando no mercado estrangeiro de cabeça erguida, e, o mais importante, conquistando o povo brasileiro. Vencer no próprio país tem um sabor a mais.
MCB: Em A coleção invisível, de Bernard Attal, você ganha mais um Kikito no Festival de Gramado. Como é, para você, receber esses reconhecimentos no cinema?
Ca: Emoção, muita. Infelizmente, não estive presente para receber o prêmio, momento lindo e delicado. Acabei recebendo das mãos da produtora Diana (Gurgel) no café do aeroporto, já de volta para São Paulo.
MCB: -Em Gravidade, de Leo Tabosa, você atua em filme que reúne mais três atrizes excepcionais: Helena Ignez, Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes. Como foi atuar neste filme?
CA: Um prazer descomunal estar ao lado de atrizes como Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes, de quem era, e hoje mais ainda, fã de carteirinha. Além de um elenco maravilhoso também!!!
MCB:- Gostaria de acrescentar alguma coisa que não te perguntei?
CA: Minha curiosidade sobre o filme do Tabosa, que fiz, e que ano e meio depois verei. Deve ser lindo! (Gravidade, estreia em longas de Leo Tabosa, abrirá o 35º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, no próximo sábado, 20/9).
MCB: Para terminar, as duas únicas perguntas fixas do site: Qual foi o último filme brasileiro a que assistiu?
CA: O último azul (direção de Gabriel Mascaro). De tirar o fôlego. Todos e tudo perfeito. A Denise Weinberg me levou às lagrimas de tanta emoção.
MCB: Qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada na sua entrevista como uma homenagem e o porquê?
CA: Denise Weimberg e Betty Faria. Ambas pelo talento, garra e amor à arte de interpretar, de ser atriz, independente do veículo.
MCB: Muito obrigado pela entrevista.
CA: Beijinho, muito obrigada pela atenção e carinho.
Entrevista realizada por e-mail no dia 18 de setembro de 2025.Foto: Acervo da atriz.

MCB:- Gostaria de acrescentar alguma coisa que não te perguntei?
CA: Minha curiosidade sobre o filme do Tabosa, que fiz, e que ano e meio depois verei. Deve ser lindo! (Gravidade, estreia em longas de Leo Tabosa, abrirá o 35º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, no próximo sábado, 20/9).
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