Annamaria Dias
Nascida em São Paulo, Annamaria Dias é uma grande atriz e, durante anos, foi uma das maiores estrelas da saudosa TV Tupi, ao lado de nomes como Eva Wilma, Elaine Cristina, Márcia Maria, Arlete Montenegro, Geórgia Gomide, Kate Hansen, Maria Isabel de Lizandra, entre muitas outras. “Saí da TV Cultura, com bastante gratidão por tudo o que havia aprendido e realizado na emissora, e iniciei minha trajetória na TV Tupi. Foram 15 anos consecutivos de grandes trabalhos, e de extraordinário sucesso. A Tupi foi a minha grande Universidade!”. Foram várias as novelas de sucesso da atriz, entre elas está a inesquecível “Vitoria Bonelli”, de Geraldo Vietri. “Mais um trabalho excepcional, de autoria e direção de Geraldo Vietri, um de meus Mestres na TV. Uma trama baseada no Neorrealismo italiano, onde todos os personagens eram de intensa dramaticidade, mas também com pontuações de humor, bem ao gosto do público telespectador. Vietri deu aos filhos de Vitória Bonelli, nomes bíblicos: Verônica (a filha); e os filhos: Carlos Alberto Riccelli (Matheus); Tony Ramos (Thiago), e Flaminio Fávero (Lucas). Minha personagem - Verônica Bonelli - permitiu que eu evoluísse ainda mais como atriz, e trabalhar ao lado de Berta Zemmel, atriz de prestígio no teatro, e a quem eu admirava, foi uma grande dádiva!”.
Annamaria Dias trabalhou em várias emissoras - TV Cultura, Tupi, SBT -, e intensificou sua trajetória atuando também como assistente e diretora de novelas. “... quando o Davi Grimberg, que já tinha me dirigido em novelas do SBT, assumiu a Direção de Teledramaturgia do SBT, eu o procurei para integrar a equipe, dirigindo. Só que Davi, que só me conhecia como atriz, achou por bem, e acertadamente, que eu fizesse um estágio como Assistente de Direção e de Estúdio ao mesmo tempo, para que eu realmente aprendesse a dirigir Telenovelas, que era bem diferente de dirigir vídeos empresariais. E também para que eu me habituasse ao ritmo intenso e à grande responsabilidade de ser uma diretora de telenovelas. Eu entendi e aceitei mais esse aprendizado. Foram 10 Telenovelas nas duas funções, onde contei com os ensinamentos de todos os diretores com os quais trabalhei, e principalmente com o Mestre Henrique Martins, Diretor Geral, e que tinha me dirigido como atriz na Tupi”.
A carreira no teatro também é extensa, como atriz, diretora, produtora e dramaturga, assinando vários textos. “Tenho 25 textos teatrais escritos. Alguns ainda inéditos, e alguns publicados em livro pela Giostri Editora, na Série Dramaturgia Brasileira”. No cinema, Annamaria Dias atuou em Senhora, dirigido por Geraldo Vietri e adaptado do romance homônimo de José de Alencar, protagonizado por Elaine Cristina e Paulo Figueiredo, em que interpretou a personagem da segunda mocinha do filme. “Atuar no filme Senhora, interpretando a personagem Adelaide, foi uma experiência apaixonante, já que esse trabalho, o único que realizei em cinema, foi uma extensão do que já realizávamos juntos na TV Tupi, com o Grande Autor e Diretor Geraldo Vietri”.
Annamaria Dias conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro e repassou a sua trajetória: a formação, o início da carreira artística, os trabalhos na TV Cultura, TV Tupi e SBT; as novelas de sucesso, a experiência na direção de novelas, a extensa trajetória no teatro como atriz, produtora, diretora e dramaturga, e, claro, a atuação no cinema com o filme Senhora, de Geraldo Vietri.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começarmos, data de nascimento, cidade em que nasceu, e formação.
Annamaria Dias: 16 de setembro de 1946. São Paulo, Capital.
MCB: Desde pequena você já demonstrava pendor artístico? O fato de ser sobrinha dos atores Olindo Dias, Dalva Dias e Olga Dias te estimulou a seguir a carreira artística?
AD: Na verdade, eu queria ser médica. Formei-me em Química Industrial, pelo Liceu Eduardo Prado, e ia me preparar para o vestibular de Medicina. Mas, paralelamente, eu estava participando de programas na TV Cultura, na época pertencente aos Diários e Emissoras Associadas, com a Lucia Lambertini e o Norbert Nardone, e descobri que minha vocação era mesmo artística, e optei pela carreira.
Meus tios, sim, foram um estímulo para a minha escolha, uma vez que eu também já havia participado com eles, quando criança, de algumas peças de teatro no Pavilhão Teatral (um tipo de Teatro montável e desmontável), e no Teatro São Paulo, que ficava no Bairro da Liberdade. E eles estavam, na época em que decidi ser atriz (1965), atuando bastante, profissionalmente, no Teatro e no Cinema.
MCB: Seu primeiro trabalho na televisão foi na novela “As Professorinhas”, na TV Cultura? Como entrou no elenco? Como foi esse trabalho?
AD: Meu primeiro trabalho na TV – Cultura - foi “Aponte o Erro”, um programa estudantil, produzido pela Lucia Lambertini e sua equipe. Entrei no elenco conduzida por um colega de Liceu - Evaristo Gomes- que estudava Eletrônica, e que integrava o elenco do programa “Fé para Hoje”. Ele me viu atuando com desenvoltura na Comissão de formatura de Química e me convidou a ir à TV Cultura, porque estavam precisando de jovens para trabalhar no referido programa.
Eu fui, comecei a fazer um Curso para atuação em TV, lá mesmo, com Norbert Nardone, e iniciei minha carreira, participando de vários programas e de novelas, entre elas “As Professorinhas”, que foi a primeira novela em que atuei e onde aprendi muito, porque era “ao vivo”. Na época ainda não existia o Vídeo Tape para gravar no estúdio, e errando e acertando, fui aprimorando o meu trabalho, também auxiliada pelos atores mais tarimbados que atuavam na novela como: Xênia Bier, Eduardo Abbas, Roberto Orozco, Edy Cerri, Ivete Jayme, Leonor Pacheco, e outros; e com a Autora e Diretora Lucia Lambertini.
MCB: Na sua carreira na televisão, você trabalhou em várias emissoras. Gostaria que comentasse sobre a trajetória na TV Tupi.
AD: Minha trajetória na Tupi começou quando os Estúdios da TV Cultura, que funcionavam no 15° andar do Edifício Guilherme Guinle, situado no Centro, na Rua 7 de Abril, 230, pegaram fogo e toda a programação se transferiu para um dos Estúdios na TV Tupi, no Sumaré. Lá fizemos outras novelas, como “Amor de Perdição” e o “O Moço Loiro”. E o Vídeo Tape já estava introduzido nas produções, facilitando e agilizando as gravações.E meu pai, Wilson Scarcelli, me sugeriu, então, falar com Benjamim Cattan, que era um diretor bem importante na Tupi, e que já havia trabalhado na Móveis de Aço Fiel - Empresa da família do meu tio e padrinho Mario Frugiuelle, onde meu pai exercia um cargo Executivo.
E lá fui eu, marcar uma entrevista com o Cattan, me apresentando como integrante do elenco da Lucia Lambertini, citando também a Móveis de Aço Fiel, como referência familiar. Cattan gostou do meu jeito, e me deu a primeira oportunidade de trabalho na emissora; a atuação no TV de Vanguarda “Os vinte dias de Ana”, com o protagonismo de Geórgia Gomide, atriz que eu admirava muito. Foi uma grande emoção para mim, em meu primeiro trabalho na TV Tupi, trabalhar ao lado dela e de outros atores famosos da emissora. Cattan ficou satisfeito com o meu trabalho, me deu novas oportunidades e um primeiro contrato de trabalho na TV Tupi, com o aval do Diretor Geral Cassiano Gabus Mendes.
Saí da TV Cultura, com bastante gratidão por tudo o que havia aprendido e realizado na emissora, e iniciei minha trajetória na TV Tupi. Foram 15 anos consecutivos de grandes trabalhos, e de extraordinário sucesso.
A Tupi foi a minha grande Universidade!
MCB: Dentre tantas novelas de sucesso que acompanhei, tinha paixão por “Vitória Bonelli”, em que fazia a Verônica, um dos filhos da protagonista vivida pela grande Berta Zemmel, todos vocês com nomes bíblicos. Poderia comentar sobre esse trabalho?
AD: Mais um trabalho excepcional, de autoria e direção de Geraldo Vietri, um de meus Mestres na TV. Uma trama baseada no Neorrealismo italiano, onde todos os personagens eram de intensa dramaticidade, mas também com pontuações de humor, bem ao gosto do público telespectador. Vietri deu aos filhos de Vitória Bonelli, nomes bíblicos: Verônica (a filha); e os filhos: Carlos Alberto Riccelli (Matheus); Tony Ramos (Thiago), e Flaminio Fávero (Lucas). Minha personagem - Verônica Bonelli - permitiu que eu evoluísse ainda mais como atriz, e trabalhar ao lado de Berta Zemmel, atriz de prestígio no teatro, e a quem eu admirava, foi uma grande dádiva!
O grande ator Raul Cortez fez uma participação especial, como Fernando Bonelli, marido de Vitória, que numa grande festa oferecida por ele, para captar recursos para suas para suas falidas empresas, tem um infarto e morre no primeiro capítulo, deixando Vitória e os filhos numa situação financeira difícil e constrangedora. Mais um grande sucesso de audiência da Emissora. MCB: A TV Tupi foi marcada por grandes produções e nas novelas tinha um elenco maravilhoso de estrelas. Vocês conviviam fora das telas? Mantém amizades, e com quem, até hoje?
AD: Convivíamos muito dentro da Emissora, já que passávamos grande parte de nossos dias lá dentro, produzindo arduamente! A Tupi era a nossa família! Não tínhamos muito tempo para uma convivência social fora dela, a não ser em eventos relacionados ao nosso trabalho. E sim, ficaram algumas amizades até hoje: Régis Monteiro, Ana Rosa, Patrícia Mayo, Jacques Lagôa, Irene Ravache, Ernesto Hipólito, Lea Camargo e Aracy Balabanian (In memoriam), Kate Hansen, Liza Vieira. MCB: Você tem também uma grande trajetória como diretora e diretora- assistente de novelas, eu adoro “Canavial de Paixões”. O que te levou a se interessar pela direção?
AD: Na verdade, a primeira vez que eu entrei num estúdio de gravação, na TV Cultura, quando eu ainda nem tinha iniciado minha carreira, num ensaio do “Teatro da Fé”, vendo o Dalmo Ferreira fazendo as marcações e dirigindo o elenco, pensei: quero dirigir! Mas, acabei derivando para o meu trabalho como atriz, e fiquei atuando por muitos anos.
Depois que abri a Empresa VTeatro Produções, e com a atriz e grande amiga Cléo Ventura, desenvolvemos muitos trabalhos para a área corporativa, me aprimorei na Direção de Vídeos, e quando o Davi Grimberg, que já tinha me dirigido em novelas do SBT, assumiu a Direção de Teledramaturgia do SBT, eu o procurei para integrar a equipe, dirigindo. Só que Davi, que só me conhecia como atriz, achou por bem, e acertadamente, que eu fizesse um estágio como Assistente de Direção e de Estúdio ao mesmo tempo, para que eu realmente aprendesse a dirigir Telenovelas, que era bem diferente de dirigir vídeos empresariais. E também para que eu me habituasse ao ritmo intenso e à grande responsabilidade de ser uma diretora de telenovelas. Eu entendi e aceitei mais esse aprendizado. Foram 10 Telenovelas nas duas funções, onde contei com os ensinamentos de todos os diretores com os quais trabalhei, e principalmente com o Mestre Henrique Martins, Diretor Geral, e que tinha me dirigido como atriz na Tupi.
Depois, fui fazer um Curso de Direção de Imagem, para obter DRT na função, e poder também “cortar” as cenas que eu dirigia. Foi um período de exercício constante e diário, até que me transformei, realmente, numa Diretora.
Tive que sair do trabalho empresarial, deixando a Cléo Ventura dar continuidade a tudo que havíamos construído juntas. E, além da TV, continuei no elenco da Comédia Teatral “Trair e Coçar é só Começar”, de Marcos Caruso, a comédia de maior sucesso do Teatro Brasileiro, que lotava todas as plateias dos teatros onde se apresentava. Só que para poder atender à TV e ao Teatro, tive a colaboração da atriz e amiga Liza Vieira, que me substituía quando eu não conseguia me liberar das gravações no SBT. Trabalhei muito, tendo que abdicar, inclusive, de grande parte de minha vida familiar, social e afetiva, para quase somente trabalhar e trabalhar. Mas estava feliz e me sentia realizada. MCB: Você tem uma importante e premiada carreira no teatro, inclusive no marco “Trair e coçar é só começar”. Poderia destacar alguns trabalhos nos palcos?
AD: Já citei o “Trair e Coçar”, de Marcos Caruso, com a direção de Atílio Riccó, que foi também uma dádiva na minha carreira. Foram quase 15 anos no elenco, e depois na direção do espetáculo. Eu sempre tive um enorme prazer em estar no palco, e numa comédia que fazia a plateia, sempre lotada, rir e se divertir enormemente, e tendo como companheiros de espetáculo, um elenco que se tornou uma verdadeira família. Todos nós usufruímos muito, e tivemos um excelente retorno não só artístico, com também um extraordinário retorno financeiro, coisa rara no Teatro aqui no Brasil.
Também produzi e atuei em: “Álbum de Família”, de Nelson Rodrigues; “Marta de Tal”, de Graça Mello; “Aqui entre nós”, de Ester Góes. Atuei em: “Extremos”, de Pepita Rodrigues e Carlos Eduardo Dolabella; “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos; “Um tiro no coração”, de Oswaldo Mendes; “Um grito de Liberdade”, de Sergio Viotti; “Caiu o Ministério”, de Marques Rebelo; “Leonor de Mendonça”, de Gonçalves Dias. Estas três últimas foram produzidas e montadas pelo Teatro Popular do SESI, sob a Direção de Osmar Rodrigues Cruz. MCB: Você também é dramaturga e autora de vários textos. Poderia destacar alguns?
AD: Tenho 25 textos teatrais escritos. Alguns ainda inéditos, e alguns publicados em livro pela Giostri Editora, na Série Dramaturgia Brasileira.
Destaco os principais:
Ela é a dona de tudo
A peça enfoca a trajetória de Aurora Agnelli, uma mulher bonita, forte, alegre e vibrante, que enviuvou aos 63 anos e procurou, mesmo com sua educação tradicional, tornar-se uma mulher independente dos filhos Celso e Tereza. Mas que, aos 80 anos, descobre que está com Doença de Parkinson. E com seu adoecimento, vê-se obrigada a depender, inclusive financeiramente, de seus filhos e da assistência de Deusdete, sua empregada e cuidadora principal. Um tema muito atual, já que o enfrentamento da família, com o envelhecimento e consequente adoecimento dos pais, é muito difícil e oneroso, por falta de políticas públicas que amparem os idosos. Lampião e Maria Bonita no Reino Divino
Um musical infantojuvenil, que traz um contador de histórias, narrando e cantando a história de Lampião e Maria Bonita, que depois de mortos foram para o Reino Divino. Como era de se esperar, Lampião e seu ajudante Severino Mansidão foram para o Inferno e Maria Bonita e sua amiga Creuza Espiriteira, para o Céu. E de lá são chamados para a Terra por seus sobrinhos Pedrinho e Silvinha que, apaixonados, se veem proibidos por suas famílias oponentes, de se encontrar, namorar, e pedem a ajuda dos tios nessa empreitada amorosa. Os dois lados do perdão
A peça trata do reencontro, após 40 anos, de duas irmãs: Fátima e Teodora, ambas nascidas numa cidade interiorana. Teodora escolhe ir embora da cidade e estudar fora do país. Forma-se em medicina e dedica-se à ciência. Fátima, ao contrário, permanece na cidade, casa, tem filhos e fica cuidando dos pais na velhice. O reencontro das duas se dá logo após a morte da mãe, num clima intrigante e extraordinário, onde todos os pontos nevrálgicos de uma existência distante são levantados e questionados. Um caso de aluguel
Uma jovem de vinte anos, uma mulher madura e um cinquentão se encontram numa situação inusitada. Os três, cada um por si, acabam alugando o mesmo chalé para passar um fim de semana prolongado por um feriado. Em razão da chuva torrencial que castiga a região, os três ficam ilhados naquele espaço e são obrigados a conviver sob o mesmo teto, apesar das diferenças. Procurando se conhecer e tentando compartilhar o que o ambiente oferece, logo estabelecem um clima de cordialidade e camaradagem que, aos poucos, vai se transformando em um jogo de atração, sedução e sensualidade que culmina num forte envolvimento entre os três. Uma imprevista e surpreendente revelação é desvendada no final quando a jovem decide deixar o local, inesperadamente. Eva e Clara - Verdade ou ficção?
Um Teatro Documental, que leva à cena Eva Braun - esposa de Hitler - e Clara Petacci - amante de Mussolini. As duas encontram-se no Plano Extrafísico prestes a retornar à vida Corpórea na terra, e vão passar por uma última etapa de seu ajuizamento, que será conduzida por Osvaldo, o Avaliador Evolutivo. Nessa fase, elas vão rememorar fatos e situações vividas na Segunda Guerra Mundial, ao lado de seus companheiros, ditadores, que são trazidos à cena, muitas até fora do conhecimento das duas. Paralelamente aos acontecimentos da época, revelados através de passagens teatrais e projeções audiovisuais, que retratam os meandros dessa guerra, haverá uma narrativa de enfoque imaterial, que fará as ligações entre os Planos Físico e Extrafísico, mostrando as tenebrosas influências de seres da escuridão sobre os protagonistas do Nazismo e do Fascismo, na explosão de um embate alarmante entre as Forças do Bem e do Mal. Adaptação de "Laços Eternos" - Do livro de Zibia Gasparetto/Lúcius
Laços Eternos, adaptação Teatral do livro de Zíbia Gasparetto/Lúcius, é uma história comovente, onde o amor é apresentado com toda a sua força e contundência, através das diversas vidas de seus principais personagens: Nina, Roque e Maria. Alternando cenas vividas na atualidade e passadas no século XVIII, onde Nina era Geneviéve, Roque era Gustav e Maria - Marguerit, a Condessa D’Ancour, o texto resgata a trajetória dos acertos e desacertos de cada um, dentro do intenso aprendizado de sua existência. A vivência desse triangulo amoroso e daqueles que o cercam nesta e em vidas passadas, é mostrada de maneira tocante e envolvente. MCB: Você tem também importante trabalho na área corporativa. Poderia falar a respeito?
AD: Eu e Cléo Ventura trabalhamos juntas, por quase vinte anos, na área corporativa, através da minha empresa VTeatro Produções Artísticas e Culturais. A VTeatro atuou no mercado como uma empresa especializada em produzir e realizar o Teatro Empresarial, visando sempre, através do Teatro, promover o desenvolvimento e o aprimoramento profissionais nos mais diversos segmentos de uma empresa. Além do Teatro Empresarial, criamos mais de vinte produtos artísticos para atender as áreas de RH, Marketing, Vendas, abrindo também um novo espaço para o trabalho de profissionais da área artística e cultural, nas Empresas. MCB: Em 1976, você atua no filme Senhora, dirigido pelo Geraldo Vietri, protagonizado pela Elaine Cristina e pelo Paulo Figueiredo. Sua personagem, Adelaide, é importante, é a segunda mocinha do filme, em um tempo em que as mulheres tinham poucos direitos e seus destinos eram definidos pelos pais, tão bem retratado por José de Alencar no romance homônimo. Como foi compor a personagem e atuar neste filme?
AD: Atuar no filme Senhora, interpretando a personagem Adelaide, foi uma experiência apaixonante, já que esse trabalho, o único que realizei em cinema, foi uma extensão do que já realizávamos juntos na TV Tupi, com o Grande Autor e Diretor Geraldo Vietri. Adelaide foi mais um desafio, por se tratar de uma mulher de poucas posses, submissa, mas que confronta Aurélia, uma mulher rica e independente, e acaba criando uma rivalidade entre as duas, quando o protagonista Aureliano, começa a nutrir por Adelaide um enorme desejo. E tudo num contexto que aborda temas como poder, identidade, classe social e opressão feminina. O filme Senhora foi um trabalho marcante na minha carreira. MCB:- O elenco de Senhora é formado por grandes atrizes e atores da Tupi, sempre presentes nas novelas de Geraldo Vietri. Como foi contracenar com esses parceiros?
AD: Foi excelente. Éramos unidos e muito atuantes nas produções da TV Tupi. MCB: Geraldo Vietri é um nome fundamental na teledramaturgia brasileira, com quem atuou também em novelas de sucesso, como “Nino, o Italianinho”, “Antônio Maria”, e a própria “Vitória Bonelli”. Poderia falar sobre ele?
AD: Vietri foi um de meus mestres na TV. Participei de trabalhos memoráveis com ele, que era um artista nato, e se dedicava inteiramente às suas realizações em televisão, teatro e cinema. Além das telenovelas, Vietri também escrevia e dirigia o “TV de Comédia”, que intercalava, às segundas-feiras, com o “TV de Vanguarda”, dois Teleteatros de muita audiência na TV Tupi, que produzia teledramaturgia de alta qualidade. MCB: Outra parceira importante sua foi com a autora Ivani Ribeiro, que, com Janete Clair, forma o par feminino de ouro das novelas. Como foi trabalhar com ela?
AD: Ivani foi uma das mais importantes autoras de Teledramaturgia na televisão. Era uma pessoa encantadora, que se dedicava a escrever e criar histórias e personagens inesquecíveis. Ivani era um dos grandes suportes na teledramaturgia da Tupi, e os atores amavam atuar em suas novelas. Eu, felizmente, tive a dádiva de atuar em dois de seus grandes sucessos: “O meu pé de Laranja Lima” e “A Viagem”.
MCB: Você fez mais algum filme?
AD: Além de Senhora não. Minha carreira foi mais direcionada à televisão e ao teatro, embora goste muito de cinema. Já escrevi roteiros para curta-metragem. MCB: Gostaria de acrescentar algo que não te perguntei?
AD: Apenas acrescentar que hoje, optar por ser ator no Brasil é realmente uma escolha heroica, já que o campo de trabalho se estreitou, comprando à época em que desenvolvi minha carreira. E eu sugiro sempre a quem quer ser ator, que curse uma Faculdade de Teatro, para que possa também, além de atuar profissionalmente, trabalhar em outras áreas, ligadas à Arte e Cultura, sendo um gestor cultural, um professor de teatro, ou desenvolvendo algum trabalho importante junto ao Ministério da Cultura, às Secretarias de Cultura do Estado e Prefeitura.
Faltou também perguntar sobre meu trabalho como Coordenadora de Teatro da FEBEM (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor - atual Fundação Casa), onde desenvolvi por dois anos (de 1984 a 1986), um importante trabalho teatral junto aos menores internos, levando-me a escrever o livro “Me leva nos braços, me leva nos olhos”, lançado pela Editora Vida e Consciência, e com sua primeira edição esgotada.
E faltou uma pergunta sobre quais os meus atuais e próximos trabalhos, porque minha carreira vai continuar sempre, enquanto eu estiver viva e com saúde!
Meus trabalhos atuais:
Sigo, dirigindo “Laços Eternos”, adaptação teatral minha, do livro de Zibia Gaspatraretto/ Lúcius, um espetáculo que estreou há 30 anos, e continua em cartaz, produzido, atualmente, pela Cia Teatral Fátima do Valle. E estou elaborando o Projeto de “Eu, entendo, tu entendes?”, peça teatral de minha autoria, a ser produzida por Gerado Franco.
Meus próximos trabalhos:
Vou dirigir uma peça teatral de minha autoria: “Os dois Lados do Perdão”, citada na pergunta 9, com Kate Hansen e Liza Vieira; vou dirigir uma peça teatral de Denise Prado: “Mulher de Cinquenta pode”; vou também dirigir um trabalho muito interessante, direcionado à TV: “Capitão Fralda”, de Rony Guilherme Deus, sobre a incidência e tratamento de CA em crianças; vou dirigir, junto com Débora Dubois, um espetáculo musical de Gilda Vandenbrande, sobre a vida de Chico Mendes, produção de Rui de Carvalho.
E estou sempre aberta a novos trabalhos. MCB: Para terminar, as únicas duas perguntas fixas do site. Primeiro: Qual foi o último filme brasileiro a que assistiu?
AD: Vitória, com Fernanda Montenegro (direção de Andrucha Waddington) MCB: Por último: Qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada na sua entrevista como uma homenagem e o porquê?
AD: Homenageio a grande atriz Fernanda Montenegro, por suas excepcionais atuações nos filmes Central do Brasil e Vitória. MCB: Muito obrigado pela entrevista
AD: Eu é que agradeço a oportunidade de poder falar sobre alguns aspectos de minha carreira artística, que fazem parte da minha trajetória de vida.
Entrevista realizada por e-mail no dia 28 de abril de 2025.Foto: Acervo Pessoal

Veja também sobre ela