Ano 20

Vania Catani

Nascida em Montes Claros, Minas Gerais, no dia 16 de abril de 1963, Vânia Catani é uma produtora importante, cuja carreira nesse setor despontou na década de 1990. Vania Catani debutou na produção de longas-metragens em Outras estórias, longa de estreia do jornalista Pedro Bial. O universo do filme, a obra do mestre Guimarães Rosa, é extremamente familiar para Catani, pois Guimarães foi o tradutor do homem do sertão mineiro. Antes disso, trabalhou com ele na série de documentários “Os nomes do Rosa”.  "Era alegria, lógico, era alegria. Eu estava muito agitada, eu estava fascinada, eu estava orgulhosa de estar fazendo aquilo. Era muito grande, gente diferente, tinha o choque cultural sim, porque eu estava com um tanto de gente que era super diferente de mim. Eu nunca tinha tido essa experiência profissional, eu estava aprendendo, eu não sabia montar naquela época".

Vânia Catani já vinha de uma longa e importante carreira no audiovisual em Belo Horizonte, com atuação na televisão e no vídeo – foi uma dos idealizadores e produtora do Festival Internacional de Vídeo de Belo Horizonte/ Fórum BHZ Vídeo. Além disso, integrou a equipe do filme O menino maluquinho, de Helvécio Ratton, em 1994, como assistente de arte de Clóvis Bueno e Vera Hamburger.  "A gente achava importante o que estávamos fazendo. Na verdade, a gente fazia para aquele tempo, mas acabou tocando outras gerações que vieram depois da gente, formando um público. O cinema em Belo Horizonte tem um diferencial do resto do Estado, do resto do país, e eu acho que aquela experiência em vídeo foi bastante importante para esse modelo de produção. A gente estudava muito naquela época, era um grupo de seis pessoas, discutíamos muito, éramos um grupo de estudos. Foi importante para todo mundo que participou daquilo, depois cada um foi fazer sua carreira. Depois que eu sai do grupo, fui trabalhar no filme O Menino Maluquinho (1994, Helvécio Ratton), produzido pelo Tarcísio Vidigal e rodado em Belo Horizonte".

Em 2001 funda a Bananeira Filmes, e se consolida como uma das mais importantes produtoras brasileiras. No currículo, filmes de destaque como o belíssimo Narradores de Javé, de Eliane Caffé. "Eu acho o Narradores um filme maravilhoso. A Lili é uma excelente contadora de história, ela e o Luiz Alberto (de Abreu), um dramaturgo excelente, eles trabalharam muito bem. O filme era uma loucura, porque não acontecem muitas coisas, era a mesma história recontada de várias formas".

Vânia Catani conversou com o Mulheres do Cinema Brasileiro e relembrou os primeiros tempos de sua trajetória: os trabalhos de referência em vídeo, as primeiras produções, os primeiros filmes.


Mulheres do Cinema Brasileiro: Vânia, você tem uma carreira importante como produtora, a Bananeira Filmes. Sei que foi uma estrada bacana, longa, uma estrada sedimentada para chegar a esse estágio atual. Eu queria que você rememorasse um pouco, contasse aqui para a gente como se deu esse encantamento pelo audiovisual e como foi passar por essas diferentes áreas, vídeo, cinema.

Vânia Catani: Na verdade, eu gostava de cinema desde pequena, em Montes Claros. Depois, em Belo Horizonte, eu fui para a TV Minas.

MCB: Isso foi quando?

VC: Isso foi em 1988, meados de 88, 89, por aí. Depois, começou a se estruturar um grupo voltado às produções em vídeo em Belo Horizonte, que era formado por mim, Lucas (Bambozzi), Rogério Veloso, Flavinha (Ana Flávia Dias), Adriana (Franca), Vanessa (Tamietti). E aí começamos a realizar vídeos. Concorremos com um vídeo no Festival de Petrópolis, um festival bem bacana, e, em 1991, realizamos o Festival Internacional de Vídeo de Belo Horizonte/Fórum BHZ Vídeo.

MCB: Essa produção em vídeo em Belo Horizonte foi muito marcante, uma referência não só em BH, como no Brasil todo.

VC: A gente achava importante o que estávamos fazendo. Na verdade, a gente fazia para aquele tempo, mas acabou tocando outras gerações que vieram depois da gente, formando um público. O cinema em Belo Horizonte tem um diferencial do resto do Estado, do resto do país, e eu acho que aquela experiência em vídeo foi bastante importante para esse modelo de produção.

A gente estudava muito naquela época, era um grupo de seis pessoas, discutíamos muito, éramos um grupo de estudos. Foi importante para todo mundo que participou daquilo, depois cada um foi fazer sua carreira. Depois que eu sai do grupo, fui trabalhar no filme O Menino Maluquinho (1994, Helvécio Ratton), produzido pelo Tarcísio Vidigal e rodado em Belo Horizonte.

MCB: Fazendo o quê?

VC: Assistente de Arte. Na verdade, eu não sou muito assistente de arte, mas eu fui porque eu precisava entrar e só tinha vaga de assistente de arte, já estava puxado, entende, precisava do trabalho. Eles me contrataram e eu tive a experiência. Depois fiz várias coisas, trabalhos, até que o Pedro Bial me chamou para fazer um projeto e aí começa uma segunda etapa da minha carreira. Foi um upgrade na minha trajetória profissional, porque eu passei a lidar com um patamar de responsabilidade, de trabalho, de logística diferenciado do que eu fazia antes, e foi massa, deu tudo certo.  Tive a oportunidade de com o trabalho viajar pelo sertão inteiro, tive que lidar com gente de fora do Estado, de fora do meu patamar de relações. Foi uma série de documentários chamada “Os nomes do Rosa”.

Parece que depois que eu fiz essa volta, que eu saí de Belo Horizonte, dali eu podia tudo, inclusive ir embora do Estado, que foi o que acabou acontecendo, a gente acabou de filmar e eu estava totalmente impregnada com aquilo. Inicialmente, eles me chamaram para ser produtora local e depois eu virei chefe, e foi isso, aí fui embora para o Rio de Janeiro. 

MCB: No Outras Histórias já é um outro modelo, uma outra forma de trabalhar, não é isso?

VC: Totalmente.

MCB: Você consegue rememorar o sentimento daquela época, de estar naquele set, de estar fazendo um novo trabalho que resultou em um projeto tão bonito que é o Outras Histórias, como era a sua sensação na época?

VC: Era muito louca, porque eu estava trabalhando em um grupo de gente que era de fora. Era uma coisa muito louca porque eu estava em Montes Claros, minha mãe chegava com uma lata de paçoca no set, na hora da comida. Então foi uma mistura de coisas na minha cabeça, a partir dali eu podia fazer qualquer coisa.

MCB: Era um sentimento tipo “É isso mesmo que quero na vida”? Era uma alegria, era um medo, um receio? O que você consegue rememorar?

VC: Era alegria, lógico, era alegria. Eu estava muito agitada, eu estava fascinada, eu estava orgulhosa de estar fazendo aquilo. Era muito grande, gente diferente, tinha o choque cultural sim, porque eu estava com um tanto de gente que era super diferente de mim. Eu nunca tinha tido essa experiência profissional, eu estava aprendendo, eu não sabia montar naquela época.

MCB: Quando você vai para a produção do filme O fim do sem fim, aí já era com os seus parceiros de novo: Lucas Bambozzi, Cao Guimarães, Beto Magalhães. Como foi trabalhar de novo com seus parceiros já com esse outro olhar?

VC: Foi muito legal, eu adoro os três, a gente tem uma intimidade tremenda. Inclusive, conseguimos fazer porque éramos todos amigos, se fosse para fazer um filme com três diretores, cada um diferente, acho que não daria, porque um já é uma loucura, imagina com três? Mas a gente tem muita intimidade, isso possibilitava dar conta das coisas difíceis que tinha, essas pessoas criando juntas. E o meu papel como produtora, que era manter a temperatura da coisa funcionando.

MCB: E aí você vai partir para um projeto maravilhoso, que é o Narradores de Javé, da Eliane Caffé, que considero um dos maiores filmes dos últimos anos.

VC:  Eu tinha sido apresentada ao Fabiano Gulane, depois conheci a Lili. Daí ela me chamou para trabalhar no próximo projeto dela, que é o Narradores.

MCB: O Narradores de Javé é um filme especial, não é isso?

VC: Eu acho o Narradores um filme maravilhoso. A Lili é uma excelente contadora de história, ela e o Luiz Alberto (de Abreu), um dramaturgo excelente, eles trabalharam muito bem. O filme era uma loucura, porque não acontecem muitas coisas, era a mesma história recontada de várias formas.

MCB: Quando você se envolve em um projeto como esse, o que pesa na hora de escolher?

VC: Tem a ver com sensibilidade e também tem a ver com um critério, são várias formas. Agora mesmo estamos envolvidos em três projetos.

MCB: Que ótimo! Para terminar, eu sempre convido as minhas entrevistadas a homenagearem uma mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, uma mulher que você queira deixar registrado como homenagem em sua entrevista.

VC: Eu gosto da Rosário (Maria do Rosário Caetano), é uma mulher muito importante, vou homenagear ela. 

MCB: Vânia, muito obrigado pela entrevista.

Crédito Foto (Atualizada): Tânia Rego

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