Ano 20

Inês Peixoto

Inês Peixoto é uma atriz consagrada em Belo Horizonte, e, felizmente, com repercussão nacional. Integrante do Grupo de Teatro Galpão, que tem repercussão internacional, ela brilha tanto no trabalho coletivo, como em trabalhos solos. E se durante muito tempo foi sinônimo de comédia, pode mostrar também todo seu talento dramático como no último espetáculo do Grupo, "Pequenos Milagres", em que protagoniza o mais belo episódio. 

Antes do Galpão, no entanto, Inês Peixoto ficou conhecida pelo grande público com o trabalho divertido na banda de rock brega "Veludo Cotelê: "a gente começou a desenvolver um trabalho que era muito interessante no “Veludo”. Com a evolução da banda, aquela diversificações de shows, a gente mudava de show de semana para semana, a gente começou a criar verdadeiros clipes ao vivo das músicas. A gente entrou numa viagem muito gostosa que era a fusão do teatro, da comédia, porque era tudo muito leve, muito cômico, com a música, nessa balada de dançar. Isso aí foi o “Veludo”, que durou... eu fiquei no “Veludo” até 91, quando esgotou um pouco porque a minha onda era o teatro mesmo e havia uma divergência muito grande dentro da banda, porque alguns queriam evoluir mais para o lado musical, outros para o teatro. Foi legal enquanto durou, foi muito bom.".

Depois do "Veludo Cotelê", Inês Peixoto tem encontro fundamental com o Galpão: "Eles me chamaram e eu entrei na montagem do “Romeu e Julieta”, com direção do Gabriel Villela, Foi um momento muito feliz para mim, porque eu estava buscando justamente uma maneira de viver experiências mais fortes no teatro, encontrar um grupo de pessoas que estivessem afim de estudar, e eles já faziam isso, um grupo já organizado, com uma casa. Eu nunca tinha nem pensado entrar para o Galpão, nunca foi uma coisa que tinha passado pela minha cabeça, até pelo perfil de espetáculos, eu trabalhei mais com comédias. E de repente eu me vi ali dentro fazendo esses workshops com eles, eu adorei a experiência, e de repente fui chamada para fazer o “Romeu e Julieta”. Foi um espetáculo muito marcante na vida do Grupo também né? Foi um encontro muito feliz do Galpão com o Gabriel Villela e eu tive a felicidade de estar junto com eles. E fiquei, fui convidada para continuar no Grupo, estou no Grupo até hoje, tem 17 anos.".

O cinema é outra paixão da atriz, que vem intensificando sua participação no veículo. Atuou nos longas "Vinho de Rosas", de Elza Cataldo e "Cinco Frações de Uma Quase História" - episódio de Cris Azzi, e em curtas premiados como "Os Filmes Que Não Fiz", de Gilberto Scarpa, e em projetos como o "Cinema Instântaneo" - vários diretores, e o novo longa de Eduardo Coutinho, "Moscou": "Eu amo cinema, até fiz vestibular, eu vou fazer o curso da Una agora. Amo a linguagem, tenho muita vontade de investigar, eu quero fazer mais.". E fez sucesso também na TV, na microssérie "Hoje É Dia de Maria": "E eu comecei a ter umas experiências, como no “Hoje É Dia de Maria”, que foi uma experiência muito parecida com cinema, um cinema muito bem-feito, muito elaborado. Foi maravilhoso trabalhar com o Luís Fernando (de Carvalho), eu fiz os dois."

Inês Peixoto esteve na 12ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que aconteceu em janeiro, para o lançamento do "Projeto Cinema Instântaneo", experiência do Grupo Galpão no cinema. A atriz conversou com o Mulheres e fala sobre esses dois momentos importantes no palco, "Veludo Cotelê" e "Grupo Galpão", e também sobre os trabalhos no cinema.




Mulheres do Cinema Brasileiro: Você tem, em toda a sua trajetória nos palcos, dentre outros, pelo menos dois momentos muito especiais na cena mineira que é a banda “Veludo Cotelê” e o Grupo Galpão, esse, claro, com repercussão internacional. Eu gostaria que você comentasse sobre esses dois trabalhos.

Inês Peixoto: Olha, o “Veludo Cotelê” foi uma banda de rock brega que eu integrei durante quase oito anos, o “Veludo” surgiu em 87 e era uma banda performática. Então, nós fazíamos um espetáculo de teatro chamado “No Cais do Corpo”, eu era atriz do espetáculo e ele tinha uma banda que fazia sonoplastia ao vivo. E essa banda, com alguns atores da peça, já tinha o projeto “Veludo Cotelê”, já tinha esse nome. Existia a banda de rock brega e coincidiu com a época da peça, da banda começar a fazer apresentações todas as quartas-feiras no “Cabaré Mineiro”, que foi uma casa noturna muito incrível que nós tivemos em Belo Horizonte. Como eu e a Amazyles, que era uma outra atriz da peça, estávamos no espetáculo, escutávamos aquela conversa de Veludo... Veludo... E aí, eu e a Amazyles Almeida, que hoje está em São Paulo, falamos “deixa a gente participar”. E, enfim, começamos a dançar as músicas, a gente dançava, nós duas arrumávamos o figurino. 

Daí, a gente começou a desenvolver um trabalho que era muito interessante no “Veludo”. Com a evolução da banda, aquela diversificações de shows, a gente mudava de show de semana para semana, a gente começou a criar verdadeiros clipes ao vivo das músicas. A gente entrou numa viagem muito gostosa que era a fusão do teatro, da comédia, porque era tudo muito leve, muito cômico, com a música, nessa balada de dançar. Isso aí foi o “Veludo”, que durou... eu fiquei no “Veludo” até 91, quando esgotou um pouco porque a minha onda era o teatro mesmo e havia uma divergência muito grande dentro da banda, porque alguns queriam evoluir mais para o lado musical, outros para o teatro. Foi legal enquanto durou, foi muito bom. Você assistiu, né? (risos).

MCB: Muitas vezes.

IP; Foi muito gostoso (risos). Eu até tenho uma imagens de um show legal que a gente fez em São Paulo, no Aeroanta, eu consegui isso há pouco tempo. Tem uns registros interessantes do “Veludo”, era realmente muito engraçado, muito prazeroso de fazer. E uma escola também, porque a gente desenvolveu muito o time de comédia, essa coisa de você mesmo, do ator acabar criando performances, figurinos, personagens, embalados por uma música. Era muito dinâmico, muito gostoso.

MCB: Era você, Amazyles, Andréa Garavello, Parara...

IP: Tinha a parte mais performática, que era eu e a Amazyles, éramos as Veludetes. E os três vocalistas, que também faziam muitas cenas, que eram o Caverna, o Parara e a Andréia Garavello. E os músicos eram André Cirilo no sax, Pedro Piula na guitarra, Xiló na batera, Cielo Milo no baixo e Flávio Guerra nos teclados.

MCB: E com o Galpão?

IP: O Galpão foi um encontro maravilhoso na minha vida. Ele, de certa forma, se cruza com o “Veludo”, porque na época eu fiz uma temporada do “Veludo” em São Paulo e assisti um espetáculo do Gabriel Villela. O Gabriel Villela estava arrebentando com “Vem Buscar-me que ainda sou teu”, estava em cartaz em São Paulo. Quando eu assisti aquele espetáculo eu fiquei assim, sabe quando, ao mesmo tempo, você fica deslumbrado e o seu mundo desmorona? Eu queria fazer esse teatro, eu queria experimentar algo assim, e não estava vendo como no caminho que estava seguindo. Eu estava numa crise profunda., já em crise com o trabalho no “Veludo”, querendo experimentar outras coisas. E então coincidiu que eu estava lá com o “Veludo” e o Gabriel deu uma oficina lá em São Paulo, na “Oswald de Andrade”. Eu mandei meu currículo e fui selecionada para fazer essa oficina, então eu trabalhei duas semanas lá, em cima do “Hoje é Dia de Rock”, do José Vicente. 

Aí passados dois anos após essa oficina, esse acontecimento, o Toninho (Antônio Edson) me liga falando que o Galpão estava fazendo umas oficinas, que ia ficar um mês todo fazendo oficinas com vários textos, e seu queria participar de uma oficina que ele ia dirigir. Eu super topei, era um janeirão, eu ia para lá sete horas da manhã e ficava até duas horas da tarde direto. Eu entrei na oficina do Toninho, do Beto (Beto Franco) e do Eduardo (Moreira), que eram três workshops que eles estavam produzindo para apresentar para o Gabriel Villela. Eles já tinham ouvido falar que eu tinha trabalhado com o Gabriel, que eu tinha feito uma oficina, e daí eles me chamaram e eu fiquei super feliz. De certa forma, eu ia trabalhar com o Galpão, fazendo esses workshops, e reencontrar o Gabriel, com quem eu tinha adorado fazer a oficina.

E a partir disso, dessas apresentações, a gente não sabia, quem fez esses trabalhos não sabia que eles iam chamar uma atriz para entrar no Grupo. Eles me chamaram e eu entrei na montagem do “Romeu e Julieta”, com direção do Gabriel Villela, Foi um momento muito feliz para mim, porque eu estava buscando justamente uma maneira de viver experiências mais fortes no teatro, encontrar um grupo de pessoas que estivessem afim de estudar, e eles já faziam isso, um grupo já organizado, com uma casa. Eu nunca tinha nem pensado entrar para o Galpão, nunca foi uma coisa que tinha passado pela minha cabeça, até pelo perfil de espetáculos, eu trabalhei mais com comédias. E de repente eu me vi ali dentro fazendo esses workshops com eles, eu adorei a experiência, e de repente fui chamada para fazer o “Romeu e Julieta”. Foi um espetáculo muito marcante na vida do Grupo também né? Foi um encontro muito feliz do Galpão com o Gabriel Villela e eu tive a felicidade de estar junto com eles. E fiquei, fui convidada para continuar no Grupo, estou no Grupo até hoje, tem 17 anos.

MCB: Vamos falar agora de cinema. Qual foi o primeiro filme?

IP: Na época que estudava teatro eu fiz curtas com a turma do Rafael Conde, quando ele ainda estudava lá na Face, fiz participações nos curtas com eles, tem um que se chama “Ainda Dormem os Homens”. E fiz figurações. Mas o primeiro longa que eu fiz, em que tive uma personagem, que eu tive que pesquisar foi no “Vinho de Rosas”, da Elza (Cataldo). Foi uma experiência muito legal, era uma personagem que não é grande no filme, mas me possibilitou trabalhar num registro muito novo para mim, que foi a Marília de Dirceu, que eu adorei fazer.

E eu comecei a ter umas experiências, como no “Hoje É Dia de Maria”, que foi uma experiência muito parecida com cinema, um cinema muito bem-feito, muito elaborado. Foi maravilhoso trabalhar com o Luís Fernando (de Carvalho), eu fiz os dois. E tem vários filmes que eu vim participando, eu fiz mais curtas.

MCB: Uma outra experiência sua com a Elza Cataldo foi o “Crime da Atriz”.

IP: “O Crime da Atriz”, que é um curta delicioso. Eu não sei se você teve a oportunidade de assistir.

MCB: Sim, assisti.

IP: Esse curta foi sobre um conto que apresentei para a Elza. É um conto russo, que o Eduardo leu e me mostrou e eu disse “nossa, vou mostrar isso para a Elza, porque isso dá um curta legal”. E a Elza adorou. Um belo dia ela me chama para almoçar e fala assim “olha, o roteiro está pronto, vamos fazer?”. Bacana demais, o curta tem trazido muitos bons frutos para ela, ganhou prêmios importantes. Ela trouxe um diretor de fotografia muito bacana, o Pedro Farkas, enfim, foi lindo, filmado dentro do teatro de Sabará. Eu participei muito desse processo dela na elaboração do curta, eu fiquei super feliz de fazer a Ismênia. Eu tenho tido muitas experiência em curtas.

A gente fez agora um longa com o Eduardo Coutinho (“Moscou”), que vai ser lançado. E tem esse documentário agora (“Cinema Instântaneo”, de Rodolfo Magahães), que eu fiquei super feliz, eu ainda não tinha visto, ficou um formato muito interessante. Você viu?

MCB: Sim. E a composição em cena de você e da Simone Ordones me lembrou muito o “Persona”, do Ingmar Bergman, com a Liv Ullmann e a Bibi Anderson. Eu achei as imagens construídas lindas.

IP: Olha, nossa, que chique, que bacana. Eu gostei de ver, fiquei super emocionada.

MCB: Você fez também o “Cinco Frações de Uma Quase História” (episódio dirigido por Cris Azzi), uma produção da Camisa Listrada.

IP: Sim, o “Cinco Frações”, que bom, que é outro longa que eu fiz. É engraçado porque são curtas dentro de um longa, e aí você fica computando o curta. Eu amo cinema, até fiz vestibular, eu vou fazer o curso da Una agora. Amo a linguagem, tenho muita vontade de investigar, eu quero fazer mais. Tive essa oportunidade com o Pablo Lobato também. Eu fiz alguns curtas bem legais.

MCB: O “Outono” (2007 – Pablo Lobato), “Os Filmes que Não Fiz” (2008 – Gilberto Scarpa).

IP: “Os Filmes que Não Fiz”, que vai passar aqui. Fiz o”Oxianureto de Mercúrio” do André Carrera, da Camisa Listrada. O “Tricoteios”, direção do Eduardo (Eduardo Moreira, Cristiane Zago e Rodolfo Magalhães).

MCB: Qual foi o último filme brasileiro que você assistiu?

IP: Eu assisto tantos filmes. O último... deixa eu ver... Só um tempinho para eu pensar. 

MCB: Eu sempre convido minhas entrevistadas para escolherem uma mulher do cinema brasileiro de qualquer época e de qualquer área para ser homenageada na entrevista. Quem você homenageia?

IP: Nossa, eu tenho que pensar, são tantas pessoas bacanas que eu poderia homenagear.

O último filme foi... Eu tenho que pensar... Eu vi tantos filmes brasileiros... Eu vi um que está em cartaz, mas estou tentando me lembrar. Eu só não vi ainda o “Se Eu Fosse Você 2”. Ai, meu Deus, eu vi o da Bossa Nova, “Os Desafinados” (2008 – Walter Lima Jr). 

Um que eu vi, mas não foi no cinema, que eu vi (reviu) anteontem, foi o “Macunaíma” (1969 – Joaquim Pedro de Andrade). E fiquei pensando como eu amo a Dina Sfat, eu sou apaixonada por ela. Eu acho que ela é uma atriz que faz falta demais pra gente, eu acho ela linda, é um delírio vê-la na tela.

Eu assisti também recentemente (reviu) o “Edifício Master” (2002 – Eduardo Coutinho). Um filme nacional que eu vi e que mexeu muito comigo, é dos mais lindos, que é o “Santiago” (2007), do João Moreira Salles, fiquei completamente chapada. Eu vejo muito cinema nacional, agora no cinema é que me deu um branco, porque eu tirei uns dias das férias e assisti tudo e aí as coisas ficam meio emboladas na cabeça.

MCB: A sua homenagem vai para a Dina Sfat?

IP: Sim, eu quero homenagear a Dina Sfat, linda, maravilhosa.
Ah, no cinema, o último filme nacional que eu vi foi o “Fronteira” (2008), do Rafel Conde, lindo.

MCB: Muito obrigado pela entrevista.

IP: Obrigada a você.



Entrevista realizada em janeiro de 2009,
durante a "12ª Mostra de Cinema de Tiradentes".

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Sala 
 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.