Ano 20

Querô, 2007, Carlos Cortez

Um ótimo Plínio Marcos

A adaptação de Querô, romance e peça do dramaturgo Plínio Marcos, marca a estreia do cineasta Carlos Cortez. E Cortez acertou. O filme tem o corte cru e sem psicologismos do mais maldito da dramaturgia brasileira. 

A Obra de Plínio Marcos vira e mexe chega ao cinema e, se nem sempre o público reage bem a elas, um olhar em retrospecto mostra que essas adaptações quase nunca fizeram feio. Só de cabeça, vem à mente filmes ótimos como Navalha na carne, de Braz Chediak, Barra pesada, de Reginaldo Faria, e Dois perdidos numa noite suja, de José Joffily.

O maior achado de Carlos Cortez foi a escalação do garoto Maxwell Nascimento para viver Querô. Os textos de Plínio Marcos são retratos sociais certeiros e sem meias-palavras, daí sempre demandou grandes atores que têm que carregar nas costas toda a carga dramática e sua poesia do caos. E os cineastas sempre escalaram grandes atores. Glauce Rocha, Emiliano Queiroz e Jece Valadão são alguns intérpretes inesquecíveis da obra do dramaturgo.

Mawxell Nascimento tem presença no filme de cabo a rabo e faz isso com propriedade e verdade cênica. Como esquecer seus olhos, que aliam, ao mesmo tempo, ódio, desamparo, tristeza, esperança e fatalidade? Não à toa, recebeu os prêmios de Melhor Ator no Festival de Brasília, no Festival de Cuiabá e no Cine Ceará. O filme também recebeu prêmios nestes Festivais, respectivamente, Roteiro, Direção de Arte e Som em Brasília; Filme, Direção, Roteiro, Direção de Arte e Produção em Cuiabá; e Filme e Edição em Ceará.

Em Querô quase não há espaço para outros além da presença acachapante de Maxwell Nascimento. Isso, se a atriz que faz uma pequena participação como a mãe de Querô, a prostituta suicida Piedade, não fosse Maria Luísa Mendonça. É incrível a capacidade dramática dessa atriz, que consegue, quase fazendo uma ponta, marcar todo o filme. Maria Luísa Mendonça é capaz de revelar apenas com o olhar todo o universo do cais do porto em Santos, retrato por Plínio Marcos. 

O elenco feminino coadjuvante também está bem. A jovem Alessandra Santos como a evangélica Lica, paixão e possibilidade frustrada de redenção de Querô, dá a composição fragilizada e ingênua necessária. Cláudia Juliana como Gina, a “mãezona” de Querô, também compõe bem a personagem imprimindo doçura e amor sincero pelo garoto. Já Ângela Leal, como a cafetina Violeta carrega um pouco demais nas tintas, mas ainda assim é bom ver essa grande atriz, tão distante das telas do cinema.

No elenco masculino, além de Maxwell Nascimento, todo o destaque vai para Milhem Cortaz, como o carcereiro da Febem, Edgar. Ator em ascensão no cinema nacional, Milhem dá o tom exato para o sádico personagem, verdadeiro terror para os garotos confinados. Eduardo Chagas como o policial corrupto Sabará também está bem, já Aílton Graça, um grande ator, está caricato demais no filme.

Na equipe técnica feminina do filme, as presenças de Débora Ivanov na produção - ao lado dos irmãos Gullane, Caio e Fabiano -; Christiane Rieira na dramaturgia; Samantha Rilo e Tammy Weis na produção de elenco; Cristina Camargo no figurino; Gabi Moraes na maquiagem; Alessandra Casolari e Patrícia Nelly na coordenação de pós-produção; Manuela Mandler na coordenação de lançamento e Sonia Hamburger na coordenação executiva.

Querô, Brasil, 2007, 1h35. Direção: Carlos Cortez 

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 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.