Ano 20

Meu tio matou um cara, 2004, Jorge Furtado

Jorge Furtado acerta de novo

No cinema de Jorge Furtado, os longas Houve uma vez dois verões, O homem que copiava e Meu tio matou um cara, os homens estão no centro da ação – apesar das mulheres serem a motivação para a ação de todos eles. O cineasta, que no formato curta-metragem nos deu a obra-prima Ilha das flores, vem realizando filmes sobre adolescentes bem acima da média da maioria dos títulos americanos que infestam a telona e a telinha. Em Meu tio matou um cara ele repete a bem-sucedida fórmula. Apesar do novo filme ser inferior aos anteriores, é uma boa opção que aborda esse universo tão pouco explorado pelo cinema nacional.  

Meu tio matou um cara é uma comédia romântica e policial sobre um adolescente que, com a ajuda dos amigos, inicia uma trajetória de erros e acertos para provar a inocência do tio acusado de matar o parceiro de sua amante. Para interpretar Duca, Jorge Furtado acertou em escalar Darlan Cunha, ator revelado em Cidade de deus, em interpretação minimalista e convincente. Os outros três personagens masculinos também estão bem, Lázaro Ramos como o tio Eder, Renan Gioelli como o amigo Kid, e, sobretudo, Aílton Graça como o pai Laerte – Graça tem se revelado um dos melhores atores do cinema brasileiro atual (Carandiru e Contra todos).  

Para compor o elenco feminino, Jorge Furtado escolheu Dira Paes, Déborah Secco e a estreante Sophia Reis.  

Dira Paes é Cléia, a mãe de Duca e cunhada de Eder. Mãe carinhosa e receosa com a sorte do cunhada, Cléia é casada com Laerte. Dira Paes é mesmo uma atriz essencialmente cinematográfica, ainda que mais conhecida pelo grande público como a parceira de Cláudia Rodrigues no seriado A diarista.  Revelada no cinema pela produção estrangeira A floresta das esmeraldas, dirigida por John Boorman, em 1885, a atriz vem desenvolvendo carreira importante nas telas em filmes como Ele, o boto (1987), de Walter Lima Jr., Corisco & dadá (1996), de Rosemberg Cariry, Cronicamente inviável (2000), de Sérgio Bianchi, e Amarelo manga (2002), de Cláudio Assis.  

Em Meu tio matou um cara, Dira Paes compõe a personagem com precisão, em um tom que alia preocupação pelos acontecimentos, paixão pelo marido e carinhosa relação com o filho. Déborah Secco, por sua vez, não tem muito espaço para a sua Soraya, pivô do assassinato. Desfilando em trajes mínimos, a atriz não consegue interiorizar a personagem, em uma composição mais externa e que vale de seus atributos estéticos.  

Sophia Reis, que estreia no cinema, é Isa, a paixão de Duca e namorada de seu amigo Kid. A direção de Jorge Furtado dá à Sophia a possibilidade de uma interpretação como a de Darlan Cunha, em que a naturalidade, no bom sentido do termo, dá o tom. Bem distante do naturalismo que infesta as novelas, os dois atores – e também Renan Gioelli, porém com menos brilho – se saem bem e convencem a platéia com as idas e vindas de seus personagens. 

Meu tio matou um cara é uma produção da Natasha Filmes e da Casa de Cinema de Porto Alegre. Com roteiro de Jorge Furtado e Guel Arraes, o filme tem na ficha técnica as presenças das seguintes mulheres: Paula Lavigne, Nora Goulart e Luciana Tomasi na Produção – junto com Guel Arraes; e Rosângela Cortinhas no Figurino.  

Meu tio matou um cara
Brasil, 2004, 1h27. Direção: Jorge Furtado.

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 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.