Ano 20

15a Mostra CineBH - Abertura

Jazz Orimauá - Morro das Pedras / Karine Bassi - Barreiro
Depois de recuar nas aberturas de suas mostras, a Universo Produção parece que voltou a apostar em suas performances audiovisuais. 

É o que propôs o evento de abertura da 15a Mostra CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, cuja performance foi apresentada ainda há pouco.

Tradutora e propulsora da temática central dessa 15a edição, "Cinema e Vigilância", a performance audiovisual reuniu artistas periféricos de Belo Horizonte, fazendo-nos perceber, cada vez mais, que são a partir desses corpos e dessas falas que a cidade ainda pulsa em tônus de reais possibilidades para  uma possível sobrevivência.

E sobrevivência aqui não apenas no sentido individual ou até mesmo coletivo, mas sobrevivência à barbárie instalada, tantos pelas escolhas autofágicas que esse rascunho de nação tomou para si, como para cada um de nós, seja como cúmplices ou sujeitos conscientes e/ou coniventes até a medula desse desolador estado de coisas milimetricamente tecido..

Com criação e roteiro de Chico de Paula e Raquel Hallak, direção, edição, montagem e finalização de Janaína Patrocínio, captação de imagens de Janaína Patrocínio e Dani Vasconcelos, e locução de Grazi Medrado, a performance reuniu vários artistas e coletivos.

Cia dos Anjos, Arautos do Gueto, Cia. Fusion de Danças Urbanas, Filme de Rua, A /Borda Cultural, Jazz Orimauá, Karine Bassi, Biel Albuquerque. 

Como não se mover, por fora e por dentro, com a poesia urbana e urgente de Karine Bassi, do Barreiro, e  de Jazz Orimauá, do Morro das Pedras?

Nessas duas mulheres, toda uma realidade, arte e grito se irrompem com força de mil tufões a varrer estados de conforto, mesquinhos privilégios e cafonices de exercícios diários de pequeno, médio e grande poder. 

Aqueles a que nos submetem, aqueles a que praticamos.

Assim como também na fala desconcertamente doce, e mais certeira que mil tratados, de Biel Albuquerque. "O centro da capitalé onde os jovens mais vêm procurar socorro, e aqui é o lugar onde as pessoas mais se perdem".

Sempre que corpos periféricos, que corpos pretos, que falas dissonantes e todo essa cultura de resistência a forceps é trazida para o centro da cena, por mais que as intenções que nos trouxe possam dar margens para tratos à bola, esses corpos e essas falas são tão indomáveis, que por si só se impõem.

E ainda que o formato padrão-depoimento engesse e procure pacificar e domar, é na ribalta e no domínio do ofício que esses corpos e corpas se insurgem e transbordam sem peias, arranjos e amarras.

Do lado de cá, a gente até volta a pensar que ainda é possível.

E que a força - e se há ainda alguma saída -, está mesmo é na epiderme e nas veias abertas dessa juventude furiosa.

À Fúria de e por existir!



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15a Mostra CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte
De 28 de setembro a 3 de outubro 
Programação gratuita - exibições cinebh.com.br

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior