Ano 20

Segundo dia na 8ª CineOP

Exibição Marília, 2013, Rodrigo Carneiro - Crédito: Leo Lara/Universo Produção
Debate

O homenageado da 8ª CineOP, Walter Lima Jr., os cineastas Nelson Pereira dos Santos, Maurice Capovilla e Francisco Ramalho Jr, mais a pesquisadora e atriz Leonor de Souza Barros formaram a mesa Memória e Consciência, em debate mediado pelo professor e crítico de cinema Daniel Caetano.

Em pauta, as condições da realização cinematográfica durante o golpe de 1964 e a instauração do AI-5. Leonor, que está à frente de importante portal sobre a censura no cinema brasileiro, situou historicamente o período e coube aos cineastas os depoimentos do que enfrentaram na prática quando da realização de seus filmes.

Nelson Pereira do Santos seduziu a plateia com sua inteligência aliado ao bom humor. Fez questão de lembrar que censura na ditadura militar foi terrível, mas que tem que se atentar para o fato de que ela existe desde que o Brasil foi colonizado e que continua a existir, que ela não tem data. Que é, antes de tudo, moralista, é uma questão de moral.

Sobre a censura militar fez graça dizendo que era preciso arrumar emprego para os militares e que daí tiveram a ideia de colocarem eles para tomar conta da cultura, do espetáculo público.

Disse que quando seu clássico Rio 40 graus foi realizado, que o filme ia ser exibido normalmente e ser distribuído pela Columbia, mas que Mark Ferrence, exibidor concorrente da Columbia, denunciou o filme para os militares dizendo que a americana Columbia, em plena época da Guerra Fria, ia distribuir um filme comunista.

Disse que a representante da censura tinha até gostado do filme ao final, mas que o coronel ficou irritadíssimo e disse que o filme era pior do que pensava, daí interditou o filme – um dos motivos alegados no ofício da censura ao filme é o lendário argumento de que na capital carioca os termômetros jamais registraram aquela temperatura, que chegavam somente até 39.6g, e que o diretor era comunista. 

Só que Rio 40 Graus foi recebendo apoio em vários lugares, sobretudo de Pompeu de Souza, do Diário Carioca, que era o defensor de Nelson Rodrigues, outro nome muito perseguido pela censura. Pompeu de Souza nem conhecia até então Nelson Pereira, e lá pelas tantas teria dito “outro Nelson na minha vida”.

Outro relato hilário foi sobre o filme Fome de Amor. Disse que no filme tem um texto do Che Guevara, mas que aí tentaram convencer a censura dizendo que eles não precisavam se preocupar, pois o texto era falado em espanhol e que o povo brasileiro não entendia a língua. E que, além disso, o filme ia ser um fracasso, pois não tinha o Oscarito no elenco.

Contou também que quanto ao filme Como era gostoso o meu francês havia, na censura, a presença de um grupo de freiras, mas que elas teriam gostado do filme, tinham achado a nudez limpa, e só se chocaram com o assassinato

E que o problema, claro, foi a nudez frontal masculina. Daí teve que cortar as cenas, mas fez isso só na cópia, não no negativo. Depois que o filme foi liberado, passado um tempo ele foi programado para exibição na televisão em horário nobre, só que exibiram uma cópia do filme original, e aí foi um escândalo nacional, deixando os militares furiosos.

O debate contou ainda com depoimentos reveladores de Capovilla e Ramalho.


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Filmes


À noite foi a vez de conferir a participação de um curta e um média-metragem na programação da mostra contemporânea.

Marília, o curta de 2013 dirigido por Rodrigo Carneiro, é sobre uma das figuras mais singulares de Ouro Preto, uma mulher, Adriana, que se veste de Marília de Dirceu, a musa de Tomás Antônio Gonzaga, e caminha pelas ruas da cidade relembrando os Inconfidentes para os turistas, além de ter transformado sua casa em um museu.

Com bela fotografia, mas com enquadramentos algumas vezes bastante insuficientes e errados, o filme busca revelar quem é aquela mulher, ainda que sem jamais explicar sua vida, mas deixando para ela mesma se revelar frente à câmera, já que ela acreditar incorporar a própria Marília.

Já Irina, média de 2012 dirigido pela atriz e diretora Sabrina Greve, é filme concebido originalmente para a televisão, pois é resultado de edital da TV Cultura.

Para contar a história de sua personagem, uma jovem arredia apaixonada por cultura russa e cujo sonho é conhecer Moscou, a diretora se cercou de uma equipe técnica primorosa: Lauro Escorel na fotografia; Adrian Cooper na direção de arte; e Juliana Rojas na montagem.

Protagonizado por Priscila Gontijo, também autora do roteiro, o filme tem elenco formado por atores talentosos que trafegam tanto pelo teatro como pelo cinema, como Caio Blat, Norival Rizzo, Marta Descartes, Gustavo Machado, Sílvia Lourenço e Raíssa Gregori.

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior